1 No sentido de ampliar
Os pensamentos do Bem,
É que ouso comentar
A lição que vi do Além.
2 A viúva nobre e rica,
Dona Cecília Trindade,
Tinha um filho e duas filhas
Com destaque na cidade.
3 Certo dia, junto ao filho,
Tão pálida quanto a cera,
Mostra-lhe Dona Cecília
A carta que recebera.
4 Era um texto repulsivo
De cruel sequestrador
Que lhe falava na escrita
Com menosprezo e rancor
5 Que ela atendesse sem falta,
No que se punha a intimá-la,
Cinquenta milhões, não menos,
Ou, então, a morte a bala…
6 Que colocasse o dinheiro
Por entre jornais em monte,
Certa noite, em certa hora,
Debaixo de antiga ponte.
7 Nada dissesse à polícia,
Que agisse de “lábio mudo”
Nada falasse a ninguém,
Se não mudaria tudo…
8 Rogava ao filho conselho
Contra o esperto marginal,
Esperando recorrer
Ao tato policial.
9 Mas o moço respondeu:
— “Escute, mamãe querida,
Nisso tudo, apenas vejo
A bênção de sua vida.
10 “É preciso resguardar
Seus santos cabelos brancos,
Essa quantia é migalha
Do que já possui nos bancos.
11 “Convém se evite a polícia,
Ponha o dinheiro em jornais
E fique livre de vez
Da mira de marginais.”
12 Mas a senhora, ao contrário,
Foi à polícia em segredo,
Pediu providências claras,
Falando firme e sem medo.
13 Orientada, a capricho,
Por antigo delegado,
Colocou todo o dinheiro
Sobre o terreno indicado.
14 A nobre dama, a distância,
Ficou serena, a contento,
Queria ver o desfecho
Do triste acontecimento.
15 Em hora escura da noite,
Um mascarado chegava,
Sem ver os homens atentos
Da guarda que o vigiava.
16 Quando tomou do pacote,
Eis que a polícia o esfacela…
Descobriu-se, então, que o morto
Era o próprio filho dela.
Jair Presente
|