“As grandes amarguras são para os grandes corações.”
1 Mamãe querida. Jesus nos ampare. Não esmoreça na jornada difícil. Sabemos quão duro lhe tem sido o caminhar.
2 Por vezes, tenho a impressão de vê-la a sós em meio de uma ponte frágil, sobre as pesadas correntes de um rio largo e transbordante, sem forças para recuar, com extrema dificuldade para equilibrar-se de pé e com necessidade de coragem heroica a fim de seguir à frente, tão grandes e tão ásperos são os perigos que lhe impulsionaram ao desânimo. 3 Nessas horas em que sua tranquilidade periclita, bem reconheço, só a prece consegue restituir-lhe a esperança e a energia para continuar.
4 Entretanto, mamãe, as grandes amarguras são para os grandes corações.
5 A senhora não marcha sozinha. Estamos juntos. E conosco, verdadeira multidão de amigos nos observa e nos segue, estendendo-nos valorosos braços.
6 É preciso não desfalecer. Quem desce respirará no mundo com ilusória tranquilidade. Mas quem sobre conhece de perto a fadiga e a ansiedade, a provação e o abatimento.
7 Cristo não nos chamou para o fundo triste e sombrio dos vales em que o homem se avizinha da furna dos animais. Acenou-nos do cimo de um monte, para que se nos alargasse a visão. E não contente de escalá-lo, subiu à cruz do martírio e da morte para revelar-nos, além dos horizontes do mundo, o fulgor da ressurreição.
8 Assim compreendendo não desprezemos a dor que nos induz à ascensão.
9 Nossas almas suspiram pelo ar livre, pela contemplação do céu, pelo esplendor do sol e jungidos às algemas da prova, sob a inspiração dos enganos que aí nos obscurecem a existência, não alcançaremos a subida libertadora.
10 Choremos, soframos, lutemos… Não espere do campo terrestre as flores que ele ainda não pode produzir.
11 Sua aflitiva missão de mulher tem conhecido o sofrimento em todos os tons.
12 Mas não aguarde aí a alegria que nunca podemos escutar entre os ruídos ensurdecedores da ilusão humana. 13 Que as provas rudes sejam elementos de afinação das cordas de nosso sentimento para que um dia acima das sombras, possamos utilizar o instrumento de nosso amor na melodia da eterna felicidade.
14 Tenhamos paciência. Isso, mamãe, quer dizer: não desespere. Hoje entendo que nós, os filhos, somos para os pais, anjos e verdugos ao mesmo tempo.
15 E, quanta renúncia reclamamos daquela que aí nos oferece, por altar de bênçãos, o regaço maternal! Benditas sejam as nossas mães!
16 Cada filho, mamãe, é um problema a resolver e pelo amor com que cada um deles é seguido pela ternura materna, acredito que, para as mães, quanto mais se intensifica a existência dos filhos, maiores enigmas apresentam eles, em si, porque há um divino mistério no sacrifício da mulher que colabora com Jesus na educação das almas na Terra.
17 Perdoe sempre. Perdoe muito. Perdoe intensamente. Perdoe situando o coração nas alegrias abençoadas do trabalho e da fé viva em Deus.
18 Há obstáculos que, por nós mesmos, não podemos superar. Precisamos confiá-los ao Senhor nas orações de cada dia, porque só o nosso Eterno Amigo possui bastante poder e bastante amor para auxiliar-nos com a eficiência imprescindível.
19 Papai está convenientemente amparado. Tive a ventura de segui-lo, passo a passo.
20 Não voltou para nós tão rico quanto desejávamos, mas regressou remediado convenientemente, porque soube aceitar os ensinamentos da dor, e com eles, louvar-se, até o fim do corpo. n
21 Realizou em seis meses uma grande obra de recuperação íntima, a benefício dele mesmo. Ainda está fraco e hesitante, à maneira de convalescente esperançoso, mas, graças a Deus, seguro de si mesmo e milagrosamente lúcido para iniciar-se, em breve, no trabalho renovador.
22 Espero em Jesus possa vir brevemente ao encontro da senhora, para a mensagem de paz e reconforto, desta paz e deste reconforto dos quais já se sente possuído para refazer-se.
23 Mamãe, sempre que me ponho a escrever-lhe desejaria que o papel não tivesse fim, entretanto, chamam-me a atenção. Há outros serviços a fazer.
24 Wanda n continua sob a nossa assistência. É necessário guarde bastante cuidado na defesa da saúde.
25 Tenho orado com a senhora por “W… e I.”, rogando igualmente a Jesus, ampare Nonô e Carmem Sílvia. n
26 E, endereçando ao Céu, qual acontece todos os dias, a minha constante oração por sua felicidade e por nossa vitória, na luta em que nos empenhamos, deixa-lhe nesta carta todo o coração reconhecido, o seu
William
[40] Mensagem recebida em Pedro Leopoldo aos 1º. de setembro de 1953.
[41] A referência que William faz sobre o pai é a de sua chegada no Plano Espiritual, que se deu em 14/08/1953. O Sr. Aníbal havia falecido há quinze dias apenas, em virtude de cirrose hepática e barriga d’água. (“Asite”).