O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

Índice |  Princípio  | Continuar

Brasil, coração do mundo, pátria do Evangelho — Humberto de Campos


Esclarecendo

1 Todos os estudiosos que percorreram o Brasil, estudando alguns detalhes dos seus oito milhões de quilômetros quadrados, apaixonaram-se pela riqueza das suas possibilidades infinitas. Eminentes geólogos definiram-lhe os tesouros do solo e naturalistas ilustres classificaram-lhe a fauna e a flora, maravilhados de suas prodigiosas surpresas. Nas paisagens suntuosas e inéditas, onde o calor suave dos trópicos alimenta e perfuma todas as cousas, há sempre um traço de beleza e de originalidade empolgando o espírito do viajor sedento de emoções.

2 Mas, se numerosos pensadores e artistas notáveis lhe traduziram a grandiosidade de mundo-novo, contando “lá fora” as inesgotáveis reservas do gigante da América, todo esse espírito analítico não passou da esfera superficial de apreciação, porque não viram o Brasil espiritual, o Brasil evangélico, em cujas estradas, cheias de esperança, luta e espera, sonha e trabalha o povo fraternal e generoso, cuja alma é “a flor amorosa de três raças tristes”, na expressão harmoniosa de um dos seus poetas mais eminentes. [Soneto de Olavo Bilac.]

3 As reservas brasileiras não se circunscrevem ao mundo de aço do progresso material, que impressionou fortemente o espírito de Humboldt, mas se estendem, infinitamente, ao mundo de ouro dos corações onde o país escreverá a sua epopeia de realizações morais, em favor do mundo.

4 Jesus transplantou da Palestina  †  para a região do Cruzeiro a árvore magnânima do seu Evangelho, a fim de que os seus rebentos suaves florescessem de novo, frutificando em obras de amor para todas as criaturas. 5 Ao ceticismo da época soará estranhamente uma afirmativa desta natureza. O Evangelho? Não seria mera ficção de pensadores do Cristianismo o repositório de suas lições? Não era apenas um cântico de esperança do povo hebraico, que a Igreja Católica adaptou para garantir a coroa na cabeça dos príncipes terrestres? Não era uma palavra vazia, sem significação objetiva na atualidade do globo, em que todos os valores espirituais parecem descer ao “sepulcro caiado” ( † ) da transição e da decadência? 6 Mas, a realidade é que, não obstante todas as surpresas das ideologias modernas, a lição do Cristo aí está no planeta, esperando a compreensão geral do seu sentido profundo. Sobre ela, levantaram-se filosofias complicadas e as mais extravagantes teorias salvacionistas. Em seu favor, muitos milhares de livros foram editados e algumas guerras ensanguentaram o roteiro dos povos. 7 Entretanto, a sublime exemplificação do Divino Mestre, em sua expressão pura e simples, só pede a humildade e o amor da criatura, para ser devidamente compreendida. Do seu entendimento decorre aquele “Reino de Deus” ( † ) em cada coração, de que falava o Senhor nas suas meigas pregações do Tiberíades, — reino de amor fraternal, cuja luz é o único elemento capaz de salvar o mundo, que se encaminha para os desfiladeiros da destruição.

8 E os verdadeiros aprendizes, os crentes sinceros no poder e na misericórdia do Senhor esperam, com os seus labores obscuros, o advento da cristianização da humanidade, quando os homens, livres de todos os símbolos sectários de separatividade, puderem entender, integralmente, as maravilhas ocultas da obra cristã. 9 Nas suas dolorosas provações dos tempos modernos, quando quase todos os valores morais sofrem o insulto da mais ampla subversão, esses Espíritos heroicos e humildes sabem na sua esperança e na sua crença, que, se é permitida por Deus a prática de tantos absurdos, por parte dos poderosos da Terra, que se embriagam no vinho da autoridade e da ambição, é que todas essas lutas nada mais representam que experiências penosas, apressando a compreensão geral das leis divinas no porvir; 10 e, serenos na sua resignação e na sua sinceridade, conhecem, ainda, que as lições do Evangelho não são símbolos mortos e esperam, cheios de confiança no mundo espiritual, a alvorada luminosa do renascimento humano.

11 Nessa abençoada tarefa de espiritualização, o Brasil caminha na vanguarda. O material a empregar nesse serviço não vem das fontes de produção originariamente terrena e sim do Plano invisível, onde se processam todos os ascendentes construtores da pátria do Evangelho.

12 Estas páginas modestas constituem, pois, uma contribuição humilde à elucidação da história da civilização brasileira em sua marcha através dos tempos. Seu único objetivo é provar a excelência da missão evangélica do Brasil no concerto dos povos e que, acima de tudo, todas as suas realizações e todos os seus feitos, forros dos miseráveis troféus das glórias sanguinolentas, tiveram suas origens profundas no Plano espiritual, de onde Jesus, pelas mãos carinhosas e suaves de Ismael, acompanha desveladamente a evolução da pátria extraordinária, em cujos céus fulguram as estrelas da cruz. 13 São elas, ainda, um grito de fé e de esperança aos que estacionam no meio do caminho. Ditadas pela voz de quem já atravessou as estradas poeirentas e tristes da Morte, ela se dirigem aos meus companheiros e irmãos da mesma comunidade e da mesma família, exclamando:

14 — “Brasileiros, ensarilhemos, para sempre, as armas homicidas das revoluções!… Consideremos o valor espiritual do nosso grande destino! Engrandeçamos a pátria com o cumprimento do dever pela ordem, e traduzamos a nossa dedicação com o trabalho honesto pela sua grandeza!… Consideremos, acima de tudo, que todas as suas realizações hão de merecer a luminosa sanção de Jesus, antes de se fixarem nos bastidores do poder transitório e precário dos homens!… 15 Nos dias de provação, como nas horas de ventura, estejamos irmanados numa doce aliança de fraternidade e paz indestrutível, dentro da qual deveremos esperar as claridades do futuro… Não nos compete estacionar, em nenhuma circunstância, e sim marchar, sempre, com a educação e com a fé realizadora ao encontro do Brasil, na sua admirável espiritualidade e na sua grandeza imperecível!…”


Humberto de Campos

(Irmão X)

Texto extraído da 1ª edição desse livro.

Abrir