O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Brasil, coração do mundo, pátria do Evangelho — Humberto de Campos


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A Federação Espírita Brasileira

1 Logo após a proclamação da república,  †  Ismael volta a concentrar seu esforço na consolidação da sua obra terrestre. Seu primeiro cuidado foi examinar todos os elementos, procurando reafirmar, no seio dos ambientes espiritistas a necessidade da obra evangélica, no sentido de ressurgir a doutrina de tolerância e de amor, de piedade e perdão, do Crucificado. Todo um campo de trabalho se desdobrava aos olhos das suas abnegadas falanges, aguardando o esforço dos arroteadores para a esperançosa semeadura. Seu coração angélico e misericordioso, sob a égide do Divino Mestre, já havia distribuído as noções evangélicas a todos os espíritos sedentos das claridades do Consolador, e a Doutrina dos Espíritos, no Brasil, sob a sua influência, tocava-se da luz divina da caridade e da crença, pressagiando as mais sublimes edificações morais.

2 O abnegado mensageiro do Mestre, começando o movimento de organização nos primeiros dias de 1889, preparara o ambiente necessário para que todos os companheiros do Rio ouvissem a palavra póstuma de Allan Kardec, que, através do médium Frederico Júnior, forneceu as suas instruções aos espiritistas da capital brasileira, exortando-os ao estudo, à caridade e à unificação. [v. Instruções de Allan Kardec aos Espíritas do Brasil.]

3 Bezerra de Menezes que já militava ativamente nos labores doutrinários, recebeu a palavra do Alto com a alma fremente de júbilo e de esperança, e considerou, no campo de suas meditações e de suas preces, a necessidade de se reunir a família espiritista brasileira sob o lábaro bendito de Ismael, a fim de que o mundo conhecesse o Cristianismo restaurado.  Existiam no Rio, sociedades prestigiosas, mas cada qual com o seu programa particular, descentralizando a ação renovadora que as instruções do Plano Invisível traziam, logicamente, a todos os corações que militavam no sagrado labor da doutrina.

4 A Federação Espírita Brasileira,  †  fundada desde o Ano-bom de 1884, por Elias da Silva,  †  Manuel Fernandes Figueira, Pinheiro Guedes  †  e outros companheiros do ideal espiritualista, no Rio de Janeiro, esperava, sob a proteção de Ismael, a época propícia para desempenhar a sua elevada tarefa junto de todos os grupos do país, no sentido de federá-los, coordenando-lhes as atividades dentro das mais sadias expressões da doutrina; 5 e Bezerra de Menezes, desde 1887, iniciara a sua série de trabalhos magistrais nas colunas de “O País”, oferecendo a todos as mais belas e produtivas sementes do Cristianismo. A palavra de Max, pseudônimo que ele havia adotado, inundava de esperança e de fé o coração dos seus leitores, iniciando-se, desse modo, uma das mais prodigiosas sementeiras do Espiritismo no Brasil. Desde 1885, igualmente, funcionava o Grupo Ismael com Sayão  †  e Bittencourt Sampaio, célula de evangelização, cujas claridades divinas tocariam todos os corações.

6 Em breve, os mensageiros do Senhor conseguiram agremiar a caravana dispersa. No templo de Ismael iam-se reunir, enfim, os operários da grande oficina do Evangelho: — Bezerra, Sayão, Bittencourt, Frederico, Filgueiras, Richard, Albano do Couto, Zeferino Campos e outros elementos da vanguarda cristã.

O tempo, todavia, era de transição e de incerteza.

7 A República, com as suas ideologias novas, filhas do positivismo mais avançado, criara os mais sérios embaraços ao desenvolvimento da doutrina. O novo Código Penal incluíra o Espiritismo nos seus textos, e o ambiente era obscuro, considerando todas as correntes espiritistas a necessidade imediata de união para a defesa comum e, enquanto balbuciavam-se protestos a medo, a Federação, com a sua prudência e a sua serenidade, iniciou a defesa pacífica da doutrina dirigindo uma “Carta Aberta” ao Ministro da Justiça do Governo Provisório, esclarecendo devidamente a situação. Os Mensageiros Invisíveis cuidaram, então, de organizar os novos planos de unificação de todos os elementos.

8 Atendendo aos seus rogos reiterados, a palavra do Mestre se faz ouvir, esclarecendo o seu emissário dileto:

“Ismael, — disse-lhe o Senhor com bondade, — concentraremos agora todos os nossos esforços para que se unifiquem os meus discípulos encarnados; para a organização da obra impessoal e comum que iniciaste na Terra… Na pátria dos meus ensinamentos, o Espiritismo será o Cristianismo revivido na sua primitiva pureza, e faz-se mister coordenar todos os elementos da causa generosa da Verdade e da Luz, para os triunfos do Evangelho. 9 Procurarás, entre todas as agremiações da doutrina, aquela que possa reunir no seu seio todos os agrupamentos; localizarás aí a tua célula, a fim de que todas as mentalidades da direção dos trabalhos evangélicos estejam afinadas pelo diapasão da tua serenidade e do teu devotamento à minha seara; 10 e, como as atividades humanas constituem, em todos os tempos,  um oceano de inquietudes, a caridade pura deverá ser a âncora da tua obra, ligada para sempre ao fundo dos corações, no mar imenso das instabilidades humanas… A caridade valerá mais que todas as ciências e filosofias, no transcurso das eras e será com ela que conseguirás consolidar a tua casa e a tua obra.”

11 O abnegado mensageiro do Alto regressou ao trabalho, cheio de coragem e segurança no seu grandioso apostolado.

As energias dissolventes das trevas do Mundo Invisível lutaram contra ele e contra o Evangelho. Forças terríveis de separatividade pesaram sobre os seus esforços no ano de 1893, quando o próprio Bezerra, incansável e doce missionário, foi obrigado a paralisar os seus escritos nas páginas de “O País”, depois de quase sete anos de doutrinação ininterrupta e brilhante, num apelo a Jesus, com as mais comovedoras lágrimas da sua crença e do seu sacrifício.

12 Ismael, porém, não abandonou seus devotados colaboradores; reuniu os companheiros mais afins com as suas ideias generosas e reorganizou a sua obra.

As ordens e observações de Jesus foram por ele integralmente cumpridas. Escolheu as reservas preciosas da Federação e localizou, aí dentro, a sua tenda de trabalho espiritual. Consolidou a Assistência aos Necessitados, fundada em 1890, que radicou a sua obra no coração da coletividade carioca, e a caridade foi e será sempre o inabalável esteio da venerável instituição que hoje se ergue na Avenida Passos. 13 Com essas providências, levadas a efeito em uma das noites memoráveis de julho de 1895, Bezerra de Menezes assumia a sua posição de diretor de todos os trabalhos de Ismael no Brasil, coordenando todos os elementos para a evangelização e deixando a Federação como o porto luminoso de todas as esperanças, entre o Grupo Ismael, que constitui o seu santuário de ligação com os trabalhadores do Infinito e a Assistência aos Necessitados, que a vincula na Terra a todos os corações infortunados e sofredores e representa, de fato, até hoje, a sua âncora de conservação no mesmo programa evangélico, no seio das ideologias novas e das perigosas ilusões do campo social e político.

14 Bezerra desprendia-se do orbe, tendo consolidado a sua missão para que a obra de Ismael pudesse ser livremente cultivada no século XX. E essa obra prossegue sempre. Podem as inquietações da Terra separar, muitas vezes, os trabalhadores humanos no seu terreno de ação; mas a sociedade benemérita, onde se ergue a flâmula luminosa — “Deus, Cristo e Caridade” — permanece no seu porto de paz e de esclarecimento. A sua organização federativa é o programa ideal da doutrina no Brasil, quando chegar a ser integralmente compreendido por todas as agremiações de estudos evangélicos, no país.

15 A realidade é que, considerada às vezes como excessivamente conservadora, pela inquietação do século, a respeitável e antiga instituição é, até hoje, a depositária e diretora de todas as atividades evangélicas da pátria do Cruzeiro. Todos os grupos doutrinários, ainda os que se lhe conservam infensos, ou indiferentes, estão ligados a ela por laços indissolúveis no Mundo Espiritual. 16 Todos os espiritistas do país se lhe reúnem pelas mais sacrossantas afinidades sentimentais na obra comum, e os seus ascendentes têm ligações no Plano Invisível com as mais obscuras tendas de caridade, onde entidades humildes, de antigos africanos, procuram fazer o bem aos seus semelhantes.

17 As forças das sombras alimentam, muitas vezes, o personalismo e a vaidade dos homens, mesmo daqueles que se encontram reunidos nas tarefas mais sagradas; mas, a direção suprema do trabalho do Evangelho se processa no Alto e a Federação Espírita Brasileira, dentro da sua organização baseada nos ensinamentos do Mestre, está sempre segura do seu labor junto das almas e dos corações, cultivando os mais belos frutos de espiritualidade na seara de Jesus, consciente da sua responsabilidade e da sua elevada missão.


Humberto de Campos

(Irmão X)

Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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