O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

Índice |  Princípio  | Continuar

Brasil, coração do mundo, pátria do Evangelho — Humberto de Campos


19

A Independência

1 O movimento da emancipação percorria todos os departamentos de atividades políticas da pátria; mas, por disposição natural, era no Rio de Janeiro, cérebro do país, que fervilhavam as ideias libertárias, incendiando todos os espíritos. Os Mensageiros Invisíveis desdobravam sua ação junto de todos os elementos, preparando a fase final do trabalho da independência, através dos processos pacíficos.

2 Todos os patriotas enxergavam no príncipe D. Pedro a figura máxima que deveria encarar o papel de libertador do reino do Brasil. O príncipe, porém, considerando as tradições e laços de família, hesitava ainda, antes de optar pela decisão suprema separando-se, em caráter definitivo, da direção da metrópole.

3 Conhecendo as ordens rigorosas da corte de Lisboa, que determinavam o imediato regresso de D. Pedro a Portugal, reúnem-se os cariocas para as providências possíveis de serem levadas a efeito, e uma representação com mais de oito mil assinaturas é levada ao príncipe regente pelo Senado da Câmara, acompanhado de numerosa multidão, em 9 de Janeiro de 1822. D. Pedro, frente à massa de povo, sente a assistência espiritual dos companheiros de Ismael que o incitam a completar a obra da emancipação política da pátria do Evangelho, recordando, simultaneamente, as palavras do pai no instante das despedidas4 Aquele povo já possuía a consciência da sua maioridade e nunca mais suportaria o retrocesso à vida colonial, integrado no patrimônio das suas conquistas e das suas liberdades. Não vacila mais, em face da realidade intuitiva e, após alguns minutos de angustiosa expectativa, o povo carioca recebia, através de José Clemente Pereira,  †  a promessa formal do príncipe de que ficaria no Brasil, contra todas as determinações da corte de Lisboa, para o bem da coletividade e para a felicidade geral da nação. Estava assim proclamada a independência do Brasil,  †  com a sua audaciosa desobediência às determinações da metrópole portuguesa.

5 Todo o Rio de Janeiro se enche de esperança e de alegria. Mas, as tropas fiéis a Lisboa resolvem normalizar a situação, ameaçando abrir luta com os brasileiros, a fim de fazer valer as ordens da Coroa. Jorge Avilez,  †  comandante da divisão, faz constar, imediatamente, os seus propósitos e, em 11 de Janeiro, as tropas portuguesas ocupam o Morro do Castelo, †  que ficava a cavaleiro da cidade. Ameaçado de bombardeio, o povo carioca reúne as multidões de milicianos incorporando-os às tropas brasileiras e localizando-se contra o inimigo no Campo de Santana.  †  6 O perigo iminente faz tremer o coração fraterno da cidade. Não fosse o auxílio do Alto, todos os propósitos de paz teriam fracassado na pavorosa maré de ruína e de sangue. Ismael acode ao apelo das mães desveladas e sofredoras, e, com o seu coração angélico e santificado, penetra as fortificações de Avilez, fazendo-lhe sentir o caráter odioso das suas ameaças à população e a verdade é que, sem um tiro, o chefe português obedeceu, com humildade, à intimação do príncipe D. Pedro, capitulando a 13 de janeiro e retirando com as suas tropas para a outra margem da Guanabara, até que pudesse regressar com os seus, para Lisboa.

7 Os patriotas, daí por diante, já não pensam noutra cousa que não seja a organização política do Brasil. Todas as câmaras e núcleos culturais do país dirigem-se a D. Pedro em termos encomiásticos, louvando-lhe a generosidade e exaltando-lhe os méritos. Os homens eminentes da época, à cuja frente somos forçados a colocar a figura de José Bonifácio,  †  como a expressão culminante dos Andradas, auxiliam o príncipe regente, sugerindo-lhe medidas e providências necessárias. 8 Chegando ao Rio nos instantes do grande triunfo do povo, após a memorável resolução do “Fico”,  †  José Bonifácio foi ministro do reino do Brasil e do Estrangeiro. O patriarca da independência adota as medidas políticas que a situação estava exigindo, inspirando, com êxito, o príncipe regente nos seus delicados encargos de governo.

9 Gonçalves Ledo, †  Frei Sampaio e José Clemente Pereira, †  paladinos da imprensa da época, foram igualmente grandes propulsores do movimento da opinião, concentrando as energias nacionais para a suprema afirmação da liberdade da pátria.

10 Todavia, se a ação desses abnegados condutores do povo se fazia sentir de Minas Gerais até o Rio Grande do Sul, o predomínio dos portugueses desde a Bahia até o Amazonas representava sério obstáculo ao incremento e consolidação do ideal emancipacionista. O governo resolve contratar os serviços das tropas mercenárias de Lord Cochrane,  †  o cavaleiro andante da liberdade da América Latina. Muitas lutas se travam nas costas baianas e verdadeiros sacrifícios são exigidos aos mensageiros de Ismael, que se desdobram em todos os setores, com o objetivo de conciliar seus irmãos encarnados, dentro da harmonia e da paz, e com a finalidade de preservar a unidade territorial do Brasil, para que não se fragmentasse o coração geográfico do mundo.

11 A esse tempo, José Bonifácio aconselha a D. Pedro uma viagem a Minas-Gerais, a fim de unificar-se o sentimento geral em favor da Independência, serenando a luta acerba dos partidarismos. Em seguida, outra viagem com os mesmos objetivos, é realizada pelo príncipe regente à São Paulo. Os bandeirantes que, no Brasil, sempre caminharam na vanguarda da emancipação e da autonomia, recebem-no com o entusiasmo da sua paixão libertária e com a alegria da sua generosa hospitalidade; 12 e, enquanto há música e flores nos teatros e nas ruas paulistas, comemorando o acontecimento, as Falanges Invisíveis reúnem-se no Colégio de Piratininga.  †  O conclave espiritual se realiza sob a direção de Ismael,  †  que deixa irradiar a luz misericordiosa do seu coração. Ali se encontram heróis das lutas maranhenses e pernambucanas, mineiros e paulistas, ouvindo-lhe a palavra cheia de ponderação e de ensinamentos. 13 Terminando a sua alocução pontilhada de serena sabedoria, o mensageiro de Jesus sentenciou:

— “A independência do Brasil, meus irmãos, já se encontra definitivamente proclamada… Desde 1808, ninguém pode negar ou retirar essa liberdade. A emancipação da pátria do Evangelho consolidou-se, porém, com os fatos verificados nestes últimos dias, e para não quebrarmos a força dos costumes terrenos, escolheremos agora uma data que assinale aos pósteros essa liberdade indestrutível.”

14 E dirigindo-se ao Tiradentes, que ali se encontrava presente, rematou:

— “O nosso irmão martirizado há alguns anos pela grande causa, acompanhará D. Pedro em seu regresso ao Rio e ainda na terra generosa de São Paulo, auxiliará o seu coração no grito supremo da liberdade… Uniremos, assim, mais uma vez, as duas grandes oficinas do progresso da pátria, para que sejam as elaboradoras do inesquecível acontecimento nos fastos da história… O brado da emancipação partiu das montanhas e deverá encontrar aqui o seu eco realizador. E agora, todos nós que nos reunimos aqui, no sagrado Colégio de Piratininga, elevemos a Deus o nosso coração em prece, pelo bem do Brasil…”

15 Dali, do âmbito silencioso daquelas paredes respeitáveis, saiu uma vibração nova de fraternidade e de amor.

Tiradentes acompanhou o príncipe nos seus dias faustosos, de volta ao Rio de Janeiro. Um correio providencial leva ao conhecimento de D. Pedro as novas imposições da corte de Lisboa e ali mesmo, nas margens do Ipiranga, quando ninguém contava com essa última declaração do príncipe regente, D. Pedro deixa escapar o grito de “Independência ou Morte!”, sem suspeitar que era o dócil instrumento de um emissário invisível, que velava pela grandeza da pátria.

16 Eis porque o Sete de Setembro,  †  com escassos comentários da história oficial, que considerava a Independência já realizada nas proclamações de primeiro de agosto de 1822, passou à memória da nacionalidade inteira como o dia da pátria e data inolvidável da sua liberdade.

Esse fato, despercebido pela maioria dos estudiosos, representa a adesão intuitiva do povo aos elevados desígnios do mundo espiritual.


Humberto de Campos

(Irmão X)

Texto extraído da 1ª edição desse livro.

Abrir