O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Brasil, coração do mundo, pátria do Evangelho — Humberto de Campos


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Primórdios da Emancipação

1 Em 1815, passara a colônia a ser o Reino do Brasil,  †  em carta de lei de D. João VI. O Rio de Janeiro passara, desse modo, a representar a sede da monarquia portuguesa.

2 O soberano reconhecido à terra que o asilara, dispensava ao Brasil os mais altos privilégios.

O progresso econômico da nação, alentado pelas forças estrangeiras aí estabelecidas com as garantias da lei, avançava em todos os setores da comunidade brasileira. Todo o país se rejubila com a nova era de prosperidade geral.

3 No Rio, porém, o generoso príncipe sofria os mais acerbos desgostos no ambiente da família; era, talvez, em razão desses dissabores, que jamais se viu D. João VI  †  perfeitamente integrado nas suas respeitáveis funções, no mundo oficial daquele tempo. São conhecidos o apego do soberano aos seus almoços solitários, sem as etiquetas da época; seu retraimento e desleixo pelas pequeninas formalidades que constituem o problema da elegância de um século. Com as roupas desabotoadas, mal contendo o corpo nas suas dobras em desalinho, muitas vezes foi ele visto, alheio às sérias preocupações da sua autoridade suprema, como se o seu espírito vagasse na paisagem de outros mundos. D. João acostumara-se à maravilhosa beleza do sítio da Guanabara e tomara-se de amor pela pátria que os seus valorosos antepassados haviam edificado. 4 Enquanto Napoleão Bonaparte lia o Eclesiastes, entre os seus infortúnios na ilha solitária de Santa Helena, para se convencer de que todas as glórias humanas não passam de vaidades e aflição de espírito, o príncipe regente preferia fazer os seus passeios pelos arredores do Passo de São Cristóvão, esquecendo-se das mentiras sociais da corte de Lisboa. Aqui, no Brasil, ao menos o inédito dos céus sempre azuis e das encantadoras perspectivas dos morros verdoengos e floridos representavam um suave anestésico para o seu coração dilacerado de filho, de esposo e de pai. Suas preocupações se dividiam entre a mãe demente, a esposa desleal e incompreensível, e o filho perdulário e estróina. No seu cérebro não havia lugar para as considerações em torno das transformações políticas da época, e a antiga metrópole portuguesa continuava sob a orientação dos homens públicos da Inglaterra.

5 Todavia, em 1816, desprende-se do corpo enfermo e envelhecido o Espírito de D. Maria I.  †  A rainha experimentara algo de lucidez nos seus derradeiros dias de supremas tribulações. Por muito tempo, contudo, esteve apegada às ilusões do seu trono, perseguida pelo vozerio das entidades desencarnadas em rigorosas sentenças de morte, por insinuação dos seus confessores e dos seus ministros. As torturas da Terra acompanham no Além aqueles que as semearam na face do mundo, e foi assim que o calvário da infeliz soberana não terminou com os seus últimos dias no orbe terrestre.

6 Nesse mesmo ano, casou-se o príncipe D. Pedro  †  com a arquiduquesa Leopoldina da Áustria.  †  Alma sensível e delicada, essa princesa europeia era trazida ao Brasil de acordo com as determinações do Mundo Invisível, para colaborar na realização dos elevados projetos de Ismael e dos seus mensageiros. Somente o seu coração, doce e submisso, poderia suportar resignadamente as estroinices do esposo, em um dos períodos mais delicados da sua vida, sem provocar escândalos que representariam atrasos na marcha dos acontecimentos previstos.

7 A esse tempo, em todas as cortes da Europa, sopra fortemente o liberalismo, pressagiando o fim do poder absoluto. A República francesa havia desferido tremendos golpes em todos os preconceitos do sangue e da autoridade. As constituições moldadas na célebre Declaração dos direitos do homem e do cidadão  †  surgiam em todos os países, dando ensejo à renovação de todas as liberdades políticas.

8 Depois da morte de D. Maria I, Portugal não se resigna com a situação de subalternidade a que era conduzido pela caprichosa vontade de D. João VI perseverando em permanecer no Brasil e prepara todos os elementos para a insurreição contra a ditadura despótica de Beresford,  †  em cujas mãos inábeis de administrador se encontrava o poder. A Maçonaria que, em todos os tempos, defendeu os princípios da liberdade e da fraternidade humanas, solicitada por elementos de Lisboa e de Pernambuco, não hesita em estender o seu concurso à independência do Brasil, que constitui assunto de somenos importância para os portugueses, desde que o soberano regressasse imediatamente à Europa, colocando-se à frente dos negócios do trono.  9 A verdade, todavia, é que os pernambucanos exaltados não esperam a solução pelos processos pacíficos e, exacerbados os antigos ódios entre brasileiros e portugueses, que já haviam conduzido Recife e Olinda à guerra fratricida, promoveram a revolução de 1817, na qual se sacrificaram tantas vidas. Por essa época apareceu em todo o norte do país o famoso “Preciso”, n redigido por Luís de Mendonça [em 10 de março de 1817], sob ameaça de fuzilamento. As comissões militares designadas para reprimir o movimento, ordenaram fuzilamentos e crueldades que consternaram o coração do próprio rei, que as fez suspender sem perda de tempo, a fim de que cessassem as arbitrariedades dos executores das ordens do Conde dos Arcos.  †  A 6 de Fevereiro de 1818, dia da coroação de D. João VI, o soberano concedeu anistia a todos os implicados.

 10 Ismael e seus emissários conseguiam, com a proteção de Jesus, fazer desabrochar por toda parte os albores da paz, edificando os primórdios da emancipação do Brasil.

Eis que, em 1820, rebenta em Lisboa e no Porto a revolução constitucionalista. Portugal, reduzido à condição de colônia desde a ocupação de Junot,  †  reclamava a volta imediata da família real à metrópole portuguesa e o regime da constituição para a sua vida política. As próprias tropas que se localizavam no Pará e na Bahia, aderiram ao movimento da pátria. A ação constitucional era irresistível. D. João VI busca procrastinar as suas decisões. Promete enviar o príncipe D. Pedro para examinar a situação, mas todos ou quase todos os portugueses do Brasil protestam contra as atitudes despistadoras do monarca. As tropas, aderindo ao movimento do reino, reúnem-se no Largo do Rossio.  †  O momento era dos mais delicados…

 11 Os colaboradores Invisíveis, todavia, desdobram as suas atividades conciliadoras junto de todos os elementos políticos presentes na cidade e D. Pedro, depois daquelas combinações necessárias e rápidas, corre ao Paço de São Cristóvão,  †  de onde traz um decreto antedatado, com a assinatura do soberano, declarando aceitar e fazer cumprir a constituição da Junta Revolucionária de Lisboa.  † 

Os militares e a população entregam-se então às mais altas manifestações de alegria. Girandolas e bandeiras celebram nas ruas cariocas o acontecimento.

 12 Entram, porém, em jogo os interesses de Portugal e do Brasil. A 7 de março de 1821, D. João VI comunica a sua resolução de regressar a Lisboa e os favoritos da sua corte insinuam-lhe a supressão de todas as liberdades que ele havia outorgado à pátria do Evangelho, mas a mentalidade brasileira protesta pela voz dos seus homens mais eminentes.

13 O generoso soberano, cujo reinado transcorria num dos períodos mais críticos da história do mundo, foi obrigado a deixar no Brasil o filho, como príncipe regente.

No momento das despedidas, profere ele a famosa recomendação:

— “Pedro, se o Brasil se separar de Portugal, antes seja para ti, que me respeitarás, do que para algum desses aventureiros.”


Humberto de Campos

(Irmão X)


[1] [Preciso dos sucessos que tiveram lugar em Pernambuco desde a faustíssima e gloriosíssima revolução operada felizmente na praça do Recife aos 6 do corrente mês de março… — Google Books.]


Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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