O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Brasil, coração do mundo, pátria do Evangelho — Humberto de Campos


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A Revolução Francesa

1 Em 1792, D. João  †  elevava-se à direção de todos os negócios do trono português, em virtude da perturbação mental de sua mãe, D. Maria I.  †  Época de profundas transições em todos os setores políticos do Ocidente, a regência caracterizava-se por inúmeros desastres, no capítulo da administração.

2 Em 1789, estalara a Revolução Francesa,  †  modificando a estrutura de todos os governos da Europa. Depois da reunião dos Estados Gerais, em Versalhes, no dia 5 de Maio de 1789, transformava-se a reunião em Assembleia Constituinte  †  e, a 14 de Julho do mesmo ano, o povo oprimido e dilacerado pelas flagelações e pelos impostos derrubava a Bastilha, esfacelando o símbolo do despotismo da realeza. Luís XVI  †  é guilhotinado a 21 de Janeiro de 1793. 3 Instala-se a República Francesa sobre o pedestal de sangue que corre abundantemente nas praças de Paris. A guilhotina decepa todos os cérebros da nobreza. Após a Declaração dos direitos do homem e do cidadão,  †  as coletividades de França se haviam entregado àqueles anos de embriaguez no morticínio. Esses movimentos invadem todos os departamentos das atividades políticas da Europa.  4 Todos os tronos unem-se, então, para o extermínio da república nascente. Mas os revolucionários não esmorecem na sua encarniçada resistência. Todas as pessoas suspeitas são decapitadas. O período de Terror é a grande ameaça ao mundo inteiro. Esse período, porém, termina com a morte de Maximiliano Robespierre,  †  no cadafalso para o qual os seus excessos de autoridade haviam mandado inúmeras vítimas. 5 Instala-se então, em 1794, o Diretório  †  que Napoleão Bonaparte faz derrubar, em 1799, arvorando-se em primeiro cônsul. As casas imperiais europeias observam semelhantes acontecimentos, aguardando o ensejo necessário para restaurar o trono que a família dos Bourbons havia perdido. A França, todavia, após os desperdícios de força na luta fratricida, caíra nas mãos do ditador inteligente e implacável, que a conduziria ao caminho de todas as aventuras. 6 De simples oficial de artilharia, Bonaparte chegara, através dos golpes de Estado, ao cargo supremo do país, fazendo-se proclamar imperador, em 1804. Com a sua direção audaciosa, todas as conquistas militares são empreendidas. A Europa inteira apresta-se para a campanha, ao tinido sinistro das armas. Com a estratégia dos generais franceses, caem todas as praças de guerra e o imperador vai catalogando o número ascendente das suas vitórias.

7 A esse tempo, todos os gênios espirituais do Ocidente se reúnem nas Esferas próximas do planeta, implorando a proteção divina para os seus irmãos da Humanidade.

Emissários de Jesus descem com a sua palavra magnânima, esclarecendo os trabalhadores do Bem, levantando as suas energias para os bons combates.

8 — “Irmãos, — elucidam eles, — ordena o Senhor que espalhemos a sua luz e o seu amor infinito sobre todos os corações que sofrem na Terra… As forças das sombras intensificam a miséria e o sofrimento em todos os recantos do planeta. As ondas revolucionárias enchem de sangue todas as estradas do globo terrestre e as trombetas da guerra fazem-se ouvir, entoando as notas terríveis da destruição e da morte… Levantemos o espírito geral das coletividades oprimidas, renovando a concepção de liberdade na face do mundo…”

9 — “Anjo amigo, — interpelou um dos operários da Luz naquela augusta assembleia, — estariam enquadrados na lei divina os trágicos acontecimentos que se desenrolam na Terra? n Os tribunais são instalados para julgamentos sumários, que terminam sempre com as sentenças de morte… As preces das viúvas e dos órfãos elevam-se até nós, dentro dos mais dolorosos apelos e enquanto procuramos amparar esses irmãos com os nossos braços fraternos, o banquete da guerra, presidido pelos ditadores prossegue sempre, como se obedecesse à uma fatalidade amarga dos destinos do mundo…”

10 — “Irmãos, — explica o mensageiro, — o plano divino é o da evolução e dentro dele todas as expressões de progresso das criaturas se verificariam sem o concurso desses movimentos lamentáveis, que atestam a pobreza moral da consciência do mundo. 11 A revolução e a guerra não obedecem ao sagrado determinismo das leis de Deus, constituindo o atrito tenebroso das correntes do mal, que conduzem o barco da vida humana ao mar encapelado das dores expiatórias. 12 Os pensadores terrestres poderão objetar que das ações revolucionárias nascem novas modalidades evolutivas no planeta e que numerosos benefícios são oriundos das suas atividades destruidoras; mas nós não compreendemos outras transformações que não sejam aquelas verificadas no íntimo dos homens, no augusto silêncio do seu mundo interior, conduzindo-os aos mais altos planos de conhecimento superior. 13 Se, após os movimentos revolucionários, são fixadas no orbe novas expressões de progresso geral, é que o bem é o único determinismo divino dentro do Universo, determinismo que absorve todas as ações humanas para as assinalar com o sinete da fraternidade, da experiência e do amor. 14 Os Espíritos das trevas se reúnem para a chacina e para a destruição, como acontece atualmente na Terra. Aliando-se às tendências e às fraquezas das criaturas humanas, levam a mentalidade geral a todos os desvarios. Eles julgam estabelecer o império das sombras no plano moral do globo terrestre, mas a verdade é que todos os triunfos pertencem a Jesus, e as correntes da Luz e do Bem absorvem todas as atividades, anulando os resultados porventura verificados com a expansão limitada das trevas. n 15 É em razão disso que, mesmo depois dessas ações destruidoras, crescerão de novo outros núcleos prestigiosos de civilização… Até que a fraternidade deixe de ser uma figura mitológica no coração das criaturas humanas, e até que estejam extintas as vaidades patrióticas, para que prevaleçam um só rebanho e um só pastor, que é Jesus-Cristo, os seres das sombras terão o poder de arrastar o homem da Terra às lutas fratricidas…  16 Mas ai daqueles que fomentaram semelhantes delitos… Para as suas almas, a noite dos séculos é mais sombria e mais dolorosa. Infelizes de quantos tentarem fechar a porta ao progresso dos seus irmãos, porque acima da justiça subornável dos homens, há um tribunal onde impera a equidade inviolável. A Têmis Divina  †  conhece todos os traidores da Humanidade que passam pelo mundo, glorificados pela História; a sua condenação marca-lhes a fronte e aos seus ouvidos ecoam, incessantemente, as palavras dolorosas: — “Caim, Caim, que fizeste dos teus irmãos, maldito?…” ( † ) Somente as lágrimas, no círculo doloroso das reencarnações tenebrosas, representam um caminho para a sua reabilitação, nas estradas eternas do tempo!…”

17 Dissolvida a assembleia do Infinito, os amigos dos infortunados espalharam-se pelas sendas terrestres, reerguendo os seus irmãos nas lutas redentoras.

Napoleão prosseguia, deixando em toda parte um rastro de lágrimas e de sangue. Suas incursões em todos os países, deixavam-lhe o espólio miserável das posições e das coroas, que o ditador ia distribuindo entre os seus familiares e amigos.

18 O século XIX começava a viver embalado pelo barulho das armas, em todas as direções.

Portugal alia-se à Inglaterra, resistindo às ordens supremas do conquistador. Bonaparte assina um tratado com a Espanha, que já se havia dobrado às suas determinações, e ordena a invasão imediata de Portugal.

19 A Inglaterra, com a sua prudência, sugere à casa de Bragança  †  a retirada para o Brasil. D. João VI hesita, antes de adotar semelhante resolução. O grande príncipe, tão generoso e tão infeliz, é encontrado, nas vésperas da partida, a chorar convulsivamente em um dos aposentos privados do palácio, mas aquela decisão era necessária e inadiável. A frota real velejou do Tejo a 29 de Novembro de 1807, a caminho da colônia e mal não havia desaparecido nas águas pesadas do Atlântico, já os soldados de Junot  †   apoderavam-se de Lisboa e de suas fortalezas, com a ordem de riscar Portugal da carta geográfica europeia.

Contudo, os gênios espirituais velavam pelos vencidos e pelos humilhados.

20 D. João VI chegava ao Brasil em Janeiro de 1808, depois de uma viagem cheia de acidentes e contrariedades.

O bondoso príncipe encontraria, na terra do Evangelho, a hospitalidade que os reis de Castela não encontraram nas suas colônias da América do Sul, quando acossados pelas mãos de ferro do ditador. A casa de Bragança ia dilatar até aqui os limites do seu reino, reconhecida e feliz por encontrar no Brasil a compreensão e a bondade, o acolhimento e o amor.


Humberto de Campos

(Irmão X)


[1] [No original impresso, logo em seguida ao primeiro parágrado, indicador 9, consta o que acreditamos ser a parte final de outra frase que foi omitida: “cados…” ]

[2] [No original impresso: “das traves”.]


Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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