1 Recebi a sua carta
Meu caro Juca Beirão,
Você deseja se fale
Em culpa e reencarnação.
2 Da sua pergunta amiga
Não posso me descartar,
Por isso, peço desculpas
Do meu modo de informar.
3 Sabe você, a pessoa,
Seja aí ou seja aqui,
Segue o tempo carregando
Aquilo que fez de si.
4 Quando lesamos alguém,
Conforme lei natural,
Plantamos na própria vida
Uma semente do mal.
5 Tempo surge, tempo some
Em horas de sombra e luz,
Mas chega um dia entre outros
Em que a semente produz.
6 O valor desta lição
Não posso dar em miúdo,
É que existe em cada efeito
Uma causa para estudo.
7 Por isso, ante o seu exame,
Sem nomear o endereço,
Apresento ao caro amigo
Alguns casos que conheço.
8 A fim de poupar o tempo
Que vai seguindo veloz,
Falemos tão só nos erros
Que assumimos contra nós.
9 Perdeu-se de todo em pinga,
Nosso Antonico Vanzeti,
Renasceu mas traz consigo
A luta com diabete.
10 Emilota de Traíras
Fez abortos à vontade,
Reencarnada quer ter filhos
Mas sofre esterilidade.
11 Desencarnada em excessos
Voltou à Terra Ana Frozzi,
Mas padece a obesidade
De nome lipomatose.
12 Com muito abuso de drogas,
Desencarnou Léo Faria
Hoje só pode nascer
Na herança da hemofilia.
13 Beleza desperdiçada,
Lá se foi Mira Vilar,
Renascendo, tem doenças
Que não conseguem sarar.
14 Afogou-se num suicídio
Odorico de Ipanema,
Voltou, mas em tempo certo
Terá lutas de enfizema.
15 Atirou no próprio crânio,
Nhô Ninico da Calçada,
Retornou a novo corpo,
Mas tem a ideia alterada.
16 Em muitos casos, doença
Quando aparece e demora,
É a luta que nós criamos
De longa e lenta melhora.
17 É isso aí, caro amigo,
Anote esta lei comum:
— Na culpa de cada qual
É a prova de cada um.
Cornélio Pires
|