1 Você pede apontamentos,
Caro amigo Pedro Cisso,
Sobre este assunto importante:
Mocidade e compromisso.
2 Eis um tema complicado
Embora em pauta comum,
Porque envolve a liberdade
Que pertence a cada um.
3 Juventude é aquele tempo
De alegria, amor e fé,
Lembrando roseira em flor
Com muito espinho no pé.
4 Muito moço crê que pode
Ser feliz fora do lar,
Deixa a casa e encontra o mundo
Difícil de atravessar.
5 Muitas vezes, o rapaz
Busca o prazer de corrida,
Depois, é que reconhece
Que estragou a própria vida.
6 Mocidade, sobretudo,
Pelo sim e pelo não
É o momento em que se faz
A própria definição.
7 O Espírito, antes do berço,
Notando o brilho do bem,
Sonha tarefas gigantes,
Traça promessas no Além.
8 Aqui, se rogam renúncias,
Sacrifícios, lutas novas,
Mais adiante, há quem peça
Grandes dores, grandes provas…
9 A existência recomeça,
A meninice termina,
Aparece a juventude
Que resolve ou determina.
10 Então, se vê muitos jovens
Vivendo impulsos violentos,
Principiam negações,
Revoltas, esquecimentos…
11 Diante da obediência
Às próprias obrigações,
Explodem as teimosias,
Protestos e deserções.
12 São muitos os casos tristes
De desencantos extremos
Nos conflitos dolorosos
Que nós mesmos conhecemos.
13 Confesso hoje a você:
Depois de desencarnado,
É que vejo cada história
Nas formações de “outro lado.”
14 Nasceu para a engenharia
O nosso Dedé Noronha,
Achando a tarefa enorme
Derivou para a maconha.
15 Rogou encargo difícil
Para viver de ajudar,
Mas Zico, anotando a luta,
Mudou de nome e lugar.
16 Lilía pediu doença
A fim de elevar a vida,
Na hora do sofrimento,
Matou-se com formicida.
17 Solicitou disciplina
O nosso irmão Tino Fraza,
Achando os pais exigentes,
Largou-se da própria casa.
18 Suplicou penúria grande
Tentando ganhar mais fé,
Quando encontrou a pobreza
Rebelou-se o João José.
19 Implorou vida amargosa
Nossa Vitória Maria,
Ao ver-se na própria escolha
Partiu para a rebeldia.
20 Mas não se deve esquecer
Milhões de jovens que estão
Fiéis ao melhor da vida,
No esforço de elevação.
21 Quanto ao resto, é como diz
Nosso amigo Adão Morais:
— “Onde o velho não ajuda
O menino sofre mais.”
Cornélio Pires
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