1 Deseja você saber,
Meu caro Joaquim Frazão,
De que maneira vencer
A força da tentação.
2 Quero crer que você pensa
Que a morte, em si, nos ajeita
Para viver entre os anjos
Em paz na vida perfeita.
3 No entanto, não é assim…
A pessoa unicamente
Prossegue desencarnada
Em dimensão diferente.
4 Aí começa o conflito
Em que ainda me concentro:
Por fora, é muita mudança
E nós, os mesmos por dentro.
5 Nesses instantes, a sós,
Contamos, na revisão,
O tempo que se perdeu
Nos dias de provação…
6 Quanta vitória às avessas
Entre sonhos em falência!
Quantos erros praticados
Por falta de paciência!…
7 Triunfo em nós e por nós
Exige, em linhas gerais,
A decisão de servir
Aguentando sempre mais.
8 A tentação me parece
Gênio mau em nosso peito,
Quer vantagem sem trabalho,
Quer desejo satisfeito.
9 Reclama prêmios em tudo,
Tem ânsias de dominar,
Quando está junto dos outros
Quer o primeiro lugar.
10 Não consegue perceber
Se fere ou se grita em vão,
Em lucro, posse ou poder
Quer a parte do leão.
11 Em razão disso, meu caro,
Na tentação, não a tente;
Muito mais vale humilhar-se
Que agir desastradamente.
12 Se alguém lhe agita a cabeça
Mesmo estando quase louco,
Use calma e tolerância,
Silencie mais um pouco.
13 Se a questão é sentimento,
Fique firme no dever,
Domínio próprio é lição
Que nos compete aprender.
14 Injúrias, lutas, pedradas,
Dor que pareça sem fim?
Se você busca vencer,
Trabalhe e aguente, Joaquim.
Cornélio Pires
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