O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Assuntos da vida e da morte — Familiares diversos


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Solange Victoretti

12.03.1955, Sorocaba, SP. — 11.04.1975, Sorocaba, SP.

Solange sempre demonstrou profundo amor pela vida, respeito e carinho pelos semelhantes, excessiva preocupação com o comportamento do homem na Terra, direcionando seus sentimentos à velhice desamparada, à criança, e às consequências das guerras para a Humanidade.

Com a irmã Irani, os pais, Adilico Romeu Victoretti e Acaccia Machado Victoretti, constituiu sua família, de sólida formação cristã, permitindo que sua vocação de servir ao próximo se desenvolvesse com mais naturalidade.

Nos estudos, voltou-se para a matemática, cursando a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Sorocaba, quando da sua desencarnação.

O respeito que granjeou junto aos colegas, funcionários, professores e a direção da faculdade, confirma-se em carta protocolar que a família recebeu: “A direção, professores, funcionários e alunos da Faculdade, servem-se desta para externar suas sinceras condolências pelo falecimento da exemplar e saudosa aluna Solange”.


DEPOIMENTO


Os nossos agradecimentos (pais e familiares) aos queridos irmãos de Uberaba pelo contentamento que nos proporcionaram, e que Deus lhes pague.

Ao irmão Chico Xavier, que Deus ilumine sua mente, para que possa dar conforto às pessoas que sofrem.


MENSAGEM


1 Meus queridos mamãe, papai, Irani, n estou em preces, rogando a bênção de Jesus para nós.

2 Estou em dificuldades grandes para falar escrevendo. Difícil explicar o que não conhecemos. Quase impossível dizer o que não se falou até agora. 3 Entretanto, sei que não me encontro na vida física e uso a linguagem comum. Sinto-me amparada, sustentada.

4 Hora de abecedário de novo, em que me reconheço criança. Amigos me auxiliam e vovó Santa n me guarda.

5 Tenho lágrimas, papai. Quero dizer ao senhor e à mãezinha que saí melhor do hospital, embora sem o corpo cansado daqueles dias que pareceram intermináveis. Ansiava pelo descanso. Percebi que soros e injeções não conseguiram levantar a vestimenta estragada com tantas surpresas para nós todos.

6 Vinha do colégio com tanta vontade de estudar mais, de vencer o 2.º ano e guardava alguns problemas de matemática que me pareciam quase invencíveis. Não queria falhar, papai. Queria mostrar ao senhor e à mãezinha que não andava desperdiçando recursos. 7 Entretanto, mãezinha, tudo foi rápido. Quando me vi atirada no chão, apenas notei que um carro branco acelerava a marcha…

8 Quis gritar, falar, mas não pude. Aos poucos, a consciência mudou para um estado de sonolência. 9 Sentia dor, mas não muita. Compreendi tudo, querida mãe, seus pedidos para que sua filha acordasse, suas preces para que Deus me levantasse. 10 Ouvi as palavras de papai, as exclamações de nossa querida Irani e as frases de amor e simpatia de todos os que me visitavam nas primeiras horas de hospital…

11 Depois, notei que me isolavam de todos, mas aquelas observações e tratamentos do fim me doeram muito, como se eu estivesse sendo chamada à vida, sem poder formular qualquer resposta. Mas naquelas horas difíceis, as orações estavam comigo.

12 Oh! Mamãe, papai querido, minha querida irmã, muito grata por tudo de bom que me ensinaram na fé. 13 Com as preces que ficaram repetidas em meu coração e em meu pensamento, venci sem desespero. 14 Lembrava-me do meu livro de missa e rearticulava, palavra por palavra, as orações do meu relicário de devoção. Frei Ernesto n e outros amigos, tantas irmãs da bondade consagradas a Deus me clareavam a lembrança…

15 Por fim, compreendi que o corpo não suportava mais. Dormir eu não conseguia, apesar de parecer que nada experimentava. 16 Notava as mãos que me tomavam o pulso e escutei as palavras abençoadas dos que pediam a Deus por mim. 17 Estava, porém, tão cansada que a ideia da morte não mais me surpreendeu.

18 Vi que uma nuvem esbranquiçada se formava sobre a minha cabeça e aos poucos essa névoa invadiu o leito. 19 Tudo desapareceu do recinto, mas outros quadros apareceram. Vi minha avó Santa e tia Maria, n que não reconheci de imediato a me sorrirem. 20 Perguntaram se eu tinha medo e porque mostrasse a minha situação com o meu pensamento, disseram para que eu pensasse em Jesus, como se estivesse na igreja, que eu pensasse tanto, até que só visse na ideia a imagem de Nosso Senhor.

21 Então meditei com todas as forças que me restavam. Sem palavras, que eu não sabia mais como articular, roguei a Jesus que me desse por fim o repouso, e consolasse os meus pais e minha querida Irani, que me perdoasse as faltas que eu houvesse cometido e, então, um sono brando me acalmou sem eu saber como…

22 Em seguida, mamãe, sei apenas dizer que mais tarde, convalescente, fui encontrar todos na rua Felipe Camarão n para nosso abraço. Papai e mamãe, vocês oravam e choravam. 23 Confesso que tenho lutado para vê-los conformados. Não chorem por mim. Tudo se passou decerto como devia ser.

24 Em 4 meses de vida nova, com mais tempo de tratamento que outra cousa, pouco sei para falar do mundo novo em que me vejo. 25 Posso afirmar, porém, que tenho encontrado afeições queridas. Minha vovó Santa me deu tanta gente boa a conhecer. O irmão Machado, o irmão Romeu, n serão nossos parentes? Ainda não sei. Tratam-me por filha e neta a quem muito amam.

26 Tia Maria me ampara e me ensinou que nenhum ressentimento se deve guardar em situações como a que vivi. Lembro-me que em nossa família falavam com carinho do que tia Maria havia sofrido. 27 Pois hoje, papai, sou eu quem roga ao senhor e a mãezinha para não procurarem a pessoa que desapareceu quando caí na rua. Hoje sei que ninguém faz o sofrimento dos outros conscientemente.   28 O carro branco deve ter sido instrumento de Deus para que eu voltasse à Vida Espiritual conforme as leis que ainda não conhecemos.

29 Peço-lhes. Lembrem-me com aquela alegria de quem desejava lecionar matemática, lembrem-me procurando aprender e progredir. Esqueçam aqueles quadros que duraram 10 dias, nos primeiros dias de Abril, e guardemos a certeza de que a morte não existe. 30 Vejo aqui tantos amigos bons, mas a memória ainda não está muito exata. Mas reconheço minha tia Ana, minha tia Leonilda, lembrando o meu tio Belluci. n

31 Já abracei Irani e peço a Deus por ela e pelo nosso caro Ribeiro n e pelos nossos corações queridos do lar. Se algum nome não estiver bem articulado, a culpa é minha. Estou ainda como quem não se curou totalmente.

32 Papai e mamãe, rogo outra vez: não chorem mais. Distribuam minhas lembranças e dos retratos, quando me buscarem com os olhos, pensem que estou melhorando para ser a filha que tanto desejava ter ficado aí para auxiliá-los e para ajudar os meus queridos sobrinhos.

33 Rezem sempre. A oração foi uma riqueza que nem o corpo quebrado me conseguiu tirar. 34 Papai, veja: estou beijando o senhor outra vez para pedir a sua bênção; mamãe, note sua filha no abraço em que o seu coração pulsava dentro do meu. Vivam felizes. Irani e os nossos precisam da presença e do carinho de todos e eu também.

35 Os mortos não existem. Estamos vivos de outro modo.   36 Quando vi o senhor, papai, e mamãe querendo morrer por minha causa, senti-me pior do que no hospital. 37 Seja o amor ao próximo a nossa sala de encontro. Lembrem-se de outras moças, as que estão lutando para sobreviver na condição de boas filhas e procurem ajudá-las.

38 Não posso escrever mais. A força de que dispunha está parecendo uma pilha ou uma coleção de pilhas a se enfraquecerem. Agradeço a todos os que me auxiliaram a escrever.

39 Irani querida, tome o meu lugar no auxílio aos nossos pais queridos.

40 Papai e mamãe, recebam com a nossa querida Irani muitos beijos da filha que lhes beija as mãos, pedindo como sempre a Deus que nos fortaleça e nos abençoe.

Abraços e beijos com todo o coração da

Solange

Solange Victoretti

15.08.1975    


ELUCIDAÇÕES


1) Irani Victoretti Ribeiro — Única irmã de Solange. Casada com o Engº Horácio Ribeiro Filho.


2) Santa Bornia Victoretti — Bisavó paterna. Residia em sítio na cidade de Laranjal Paulista. Era parteira, muito caridosa, prestava socorros aos necessitados. Desencarnou há mais de meio século.


3) Frei Ernesto — Muito estimado em Sorocaba. Da Igreja do Bom Jesus. Assistente Espiritual do Hospital das Clínicas de Sorocaba. Desencarnou em 22 de setembro de 1975, portanto, 5 meses após Solange.


4) Maria da Conceição Machado de Oliveira — Tia materna, desencarnada em Sorocaba - SP aos 10.01.1939.


5) Rua Felipe Camarão — Local onde a família reside.


6) Antônio Florêncio Machado — Avô materno. Desencarnado há mais de 60 anos. Irmão Romeu — Não identificado pela família.


7) Ana Palhás Victoretti — Casada com o tio paterno, Basílio Victoretti. Leonilda Victoretti Belluci — Tia paterna, casada com Sr. Rosalino Belluci, o tio Belluci, citado na mensagem.


8) Engº Horácio Ribeiro Filho — Cunhado de Solange. Já mencionado.


Paulo de Tarso Ramacciotti


Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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