Beto, amigo da música, da família, conseguiu, a despeito da pouca idade, um relacionamento maduro, elevado, polarizando em torno de si a atenção e carinho dos amigos.
A mãe, D. Jacy Apparecida Guidoni da Silva, o pai, Dr. Gilberto Teixeira da Silva, advogado, o irmão, Fábio Luiz Teixeira da Silva, e a esposa Nátalie Menezes Teixeira da Silva, formaram com Beto a família que o amparou e engrandeceu diante da Vida Maior.
No meio universitário, cursava o último ano da Faculdade de Direito da Universidade Mackenzie. A estima, carinho e respeito que os funcionários, colegas, professores e diretores lhes demonstravam, traduziram-se na perpetuação de uma das salas do edifício da Faculdade com o nome de “Gilberto T. da Silva Jr.”.
DEPOIMENTO
Felizmente fomos amparados por vários amigos, e D. Yolanda Cezar nos fez chegar ao querido Chico Xavier.
Através das mensagens psicografadas, onde recebemos provas das mais variadas possíveis, é que conseguimos acreditar que a vida continua…
É interessante relatar um fato curioso que ocorreu numa das idas para Uberaba. Ao regressarmos do Grupo Espírita da Prece para o hotel, verificamos num muro de um terreno baldio escrito o seguinte: “Dói de tanto medir a distância e saber que não vou te tocar além da lembrança.” Assinado: Beto.
Para finalizar, com o coração agradecido e cheio de saudades, queremos levar aos leitores deste livro, muita esperança, fé, e principalmente sentir o que sentimos: segurança com a presença querida de Chico Xavier em nossas vidas.
MENSAGEM
1 Querida mãezinha Jacy, querido papai Gib, querida Nátalie n e querido Fábio. Estou enfileirando o nome de todos os corações mais chegados ao meu, aproveitando a clareza da memória.
2 Mãe Jacy, você é um prodígio, acreditando que seu filho Beto seja maravilhoso. A conceituação é do carinho materno e isso se compreende muito bem. Imagine você, mamãe, que tudo na existência de seu filho foi demasiado rápido.
3 Estudei um tanto, sempre às pressas, porque as circunstâncias da saúde variavam à maneira do vento. Tive a felicidade de aconchegar-me ao seu devotamento e à bondade de meu pai por tempo curto.
4 A infância de menino chorão precedeu uma juventude sempre assustada. Quando mal me preparava para o comecinho do trabalho profissional, a leucemia se me apegou ao campo orgânico, dentro da indesejável fidelidade de um vampiro.
5 Tratamentos me deram a impressão de que vivia andando nos comboios antigos, fazendo baldeação de uma estação para outra, procurando o ponto de cura que não apareceu.
6 Notei que a vida me apressava em tudo e, já que os sonhos da primeira mocidade me nasciam no peito, comecei a buscar aquela que me seria a companheira de aflições e de esperanças.
7 Encontrei um anjo em nossa Nátalie. O namoro não podia ser demorado, porque a leucemia andava me vigiando. 8 Às vezes, para não amedrontar a namorada, aguentava dores que não constam no gibi. Aguentava firme, já que não desejava perdê-la.
9 Anunciei aos queridos pais assombrados, com a minha autoconfiança, a disposição de casar-me.
10 Você, mãezinha Jacy, com o meu pai Gilberto, mais por pena do filho, que ousava guardar a expectativa de ser feliz, acabaram concordando com o meu casamento.
11 A própria Nátalie, que sabia desposar um doente, percebeu a minha situação e quis ofertar-me a felicidade que eu não teria.
12 Não me lembro com exatidão se tivemos a famosa lua-de-mel. É difícil pensar em horas tranquilas de amor com o abatimento físico e as injeções de permeio.
13 Meu enlace, com vários telegramas que me prediziam um “feliz enlace”, perdurou apenas por um mês, que passou num abrir e fechar de olhos.
14 Não me rendia ao ataque incessante da megera que me espreitava. A morte, que me perdoe o adjetivo, mas aqui entre nós, ela é megera mesmo.
15 Lutei como se tivesse as garras de uma onça, dentro de minha fraqueza que progredia sem parar. Lutei, defendendo aquilo que eu considerava o meu direito de ser feliz.
16 Vendo os pais queridos e a querida esposa, cada vez mais extenuados e mais aflitos, lutei, repito, até que não pude mais.
17 Reentrar num corpo que me expulsava, se me fez impossível. 18 Conquanto o medo de que me vi dominado, suportei a barra, numa dúvida cruel sobre os lugares depois da desencarnação, até que meu avô Luiz n me acolheu e me criou certa noção de rumo.
19 Recordar meu corpo enfermo seria loucura. Impraticável qualquer acordo com ele que terminou por se acomodar num recanto da terra, à feição de um tatu, que eu não tinha qualquer vocação para ser.
20 Felizmente, o meu avô e outros amigos não se encorajaram a me falar do desprendimento da vida física. Já sabia de tudo. Para quem sabe ler, uma vírgula é uma revelação.
21 Meu avô sabia que eu nada queria com os chamados Espíritos Imortais. Respeitava-lhes o brilho e as vitórias, mas conhecia suficientemente a minha inabilitação para ombrear com essas almas.
22 Afinal, o que eu queria mesmo era voltar para a casa e ser como eu era. Entretanto, faltava-me o instrumento. Isso não me desanimou.
23 Passei a frequentar escolas que funcionam na própria cidade, para recém-desencarnados, e morava em nosso lar do Cambuci.
24 Compreendi que a minha permanência seria curta porque a família propendia para a mudança. Do número 383 da rua Mazzini, pulei para o número 105, a fim de não perdê-los. n Entretanto, sentia-me doente, abatido, fatigado.
25 Meu avô julgou prudente que me afastasse da nossa casa. Nada me impôs. 26 Apenas me informou que o meu problema não mais se relacionava com a medicina terrestre, pois no corpo espiritual a ação medicamentosa teria de ser de natureza idêntica. 27 Entretanto, não me violentou o pensamento. Deixou que me decidisse.
28 Pensei bastante e reconheci que de pouco me valeria continuar frequentando uma escola em cujo esquema de lições, não conseguia situar a minha atenção, porque a dispneia me sufocava, de quando em quando.
29 Muitas vezes procurei Nátalie com saudades da querida esposa de um mês, mas se as lágrimas quisessem atingir os meus olhos, considerava uma covardia impregnar a querida companheira com tristezas e aborrecimentos que nada fizera para carregar consigo.
30 Voltava à nossa casa e, por fim, reclamei em petitório firme a presença de meu avô, e resolvi seguir com ele para um Instituto de tratamento, nos arredores da cidade.
31 A enfermagem funcionou com precisão. Voltaram as agulhadas e as aplicações de sondas para observação.
32 A leucemia continua abalada e fazendo planos de me deixar, no entanto, persistia.
33 Entreguei-me a um tratamento com o qual não contava. Durante quatro meses passei por diálises bi-semanais que me acabrunhavam. 34 Meu sangue era retirado para ser retemperado em recipiente próprio e depois voltava ao meu sistema vascular, com uma dor para a qual era inútil que eu solicitasse sedativos.
35 Devia readaptar-me à minha própria natureza, diziam os mentores médicos mais experientes. 36 Nada que me proporcionasse alívio imaginário, porque as células de meu novo corpo não retomariam a normalidade precisa.
37 Afinal, depois de quatro meses de sofrimento e valentia suposta, estava sem traços da moléstia que se me fizera hóspede por tanto tempo.
38 Novos tempos. Comecei o aprendizado de noções de Espiritualidade, porque, com toda a minha fé em Deus, chegara ao “outro mundo” na condição de analfabeto das questões da alma.
39 Passei a interessar-me por trabalho. Fui encontrar a família na Bela Cintra. Nunca imaginara que tivéssemos resistência para tantas mudanças.
40 Sempre visitei Nátalie, agora mais animado. Junto dela, faço votos a Jesus para que ela, sempre generosa e compreensiva, seja feliz.
41 Conversava com os pais pelo pensamento, e notei que o Fábio se enfraquecia.
42 Hoje, venho dizer-lhes que ando melhor. Meu avô considerou-me a conveniência de permanecer em trabalho, junto de meu pai, a fim de me preparar, com o objetivo de viver em lugar mais adequado aos meus sonhos de paz e alegria.
43 Para isso, era preciso devotar-me. Devotar-me aos semelhantes que sofrem e choram. Meu avô explicou que isso não me faltaria.
44 Segui o papai Gib, quantas vezes pude, para servir no Forum. Encontrei um amigo que me foi apresentado por meu avô, o Dr. Pedro Monte Ablas, n que foi no mundo um magistrado profundamente cristão.
45 Trabalharia com meu pai e com ele. Aprendi que o Forum é a Santa Casa dos aflitos. 46 Eu que conheci o serviço de meu pai, do advogado para os clientes, agora, me desenvolvo em colaborar pela paz dos clientes, aprendendo que outras são as atividades dos clientes para os advogados.
47 Dia inteiro quase, visito viúvas espoliadas, órfãos esquecidos, crianças abandonadas com avós inseguros e doentes, observo as aflições daqueles que aguardam por meses e meses o despacho em processos que se lhes faz necessário ao pão de cada dia.
48 Aí, às vezes choro, de outras, me rio das perturbações humanas em que estamos todos enfiados. E o serviço prossegue.
49 Você, mamãe Jacy, queria notícias do seu Beto, pois aí estão, resumidas, embora esteja escrevendo aqui um noticiário cacete para quantos se encontram com o almoço e com o lanche garantidos.
50 No entanto, é útil que todos saibam que a morte sem preparo religioso não é moleza.
51 Estarei trabalhando pelas melhoras do Fábio, mas é justo que ele coopere seguindo as instruções médicas que lhe indicam fortificantes.
52 Penso, porém, que, se aqui ninguém me obrigou a tarefa nenhuma, respeitando-me a vontade, não serei eu que me arvorarei em sabichão para dar conselhos ao irmão que tanto estimo. Se ele perceber a importância de um corpo sadio na Terra, renderei graças a Deus.
53 E agora, papai Gib e querida mãezinha Jacy, transmitam por favor, o meu carinho à nossa estimada Nátalie, e recebam muitos beijos do filho saudoso e agradecido.
Beto
Gilberto Teixeira da Silva Júnior
17.08.1984
ELUCIDAÇÕES
1) Nátalie de Menezes Teixeira da Silva — Esposa. Em face do estado de saúde de Gilberto, resolveram casar-se e, após um mês e meio do enlace matrimonial, Beto desencarnou. Na ocasião, Nátalie cursava também a Faculdade de Direito.
2) Luiz Guidoni — Avô materno, desencarnado em 1963.
3) Refere-se à mudança de domicílio dos familiares. Fato totalmente desconhecido do médium.
4) Dr. Pedro Monte Ablas — Não identificado pelos familiares do Gilberto.
Paulo de Tarso Ramacciotti