Cioso das suas obrigações, sempre exerceu com dedicação sua profissão de marceneiro, cuja formação obteve no SENAI.
Casou ainda jovem com a Sra. Maria Benedita Claudino. Não teve filhos.
Deixa-nos em suas mensagens psicografadas por Chico Xavier a certeza de que o livre arbítrio é inviolável, e cada Espírito tem de buscar o seu próprio caminho rumo da Espiritualidade Maior.
DEPOIMENTO
Trabalhei muito para que nada faltasse aos meus três filhos.
Quando tudo caminhava muito bem, aconteceu o inesperado. Primeiro o desencarne do filho mais velho e, alguns meses após, novo abalo em minha vida, com o desencarne do segundo filho.
O desespero me dominou, não havia mais lugar no mundo para mim.
Através de uma amiga, conheci o Sr. Osvaldo Caetano, espírita militante, médium bondoso, amigo dedicado, que me levou a Uberaba, apresentando-me a Chico Xavier.
Na noite de 07 de setembro de 1984, recebi duas maravilhosas mensagens dos meus filhos desencarnados, que estão mais vivos agora.
Agradeço a Deus por proporcionar momentos tão maravilhosos, que não acreditava mais existir.
Chico querido, obrigada por tudo, obrigada pela imensa alegria que você proporcionou a mim e ao meu filho Valdo. Deus o abençoe por tantas palavras bonitas de conforto.
Talvez eu não tivesse conseguido sobreviver à dor, se não conhecesse este homem que se chama Francisco Cândido Xavier.
Lourdes Formenton
Genitora de Dimas e de Domingos, jovens que apresentamos neste e no capítulo seguinte.
1 Querida mamãe Lourdes, peço-lhe a bênção. Vejo a senhora com o nosso Valdo n neste recinto de paz, mas não consigo enxergar as pessoas que nos cercam. Sei que dois amigos me trazem até aqui, mas ignoro quem sejam.
2 Mamãe, seu filho pede perdão pelo que fez, conquanto saiba que agiu sob a pressão de inimigos invisíveis que lhe golpearam a mente. 3 Eu não queria, mãe, não queria cometer aquele ato impensado, mas uma vontade muito forte me absorvia e parece-me que fui um simples autômato para aquele ou aqueles que me indicavam o suicídio como sendo o melhor a fazer.
4 Tinha um monte de desculpas dentro de mim. Saudades de meu irmão Domingos, n as dificuldades da vida e a luta constante por melhorar-me, sem poder fazer isso. 5 Andei por diversas ruas, pedi o socorro de Jesus por toda parte, mas aquelas mãos enormes e duras pesavam nas minhas. 6 Sei que não tenho desculpas e que devo assumir os meus próprios atos, mas a senhora não imagina como sofro… 7 Por vezes, via o meu pai Abílio n de relance, como a solicitar-me juízo e calma, entretanto, as outras vozes eram mais poderosas e mais fortes.
8 No dia sete tomei alguns tragos para ganhar coragem, sem saber o que oferecia aos meus infelizes agressores e no dia oito, pela manhã, já me achava transformado.
9 A nossa Maria n me pedia paciência. Aleguei dor de cabeça e mal-estar. Ela arranjou algumas gotas de um calmante cujo nome não me lembro, mas recusei aquele auxílio, abrindo a camisa e mostrando-lhe a arma que eu trazia no cinturão. 10 A esposa não acreditou que eu fosse capaz do gesto desesperado, mas sem esperar que ela viesse impedir-me os movimentos, levei a arma à altura da cabeça e acionei o gatilho. 11 Ela gritou e eu, a esgotar-me na perda de forças, lembrei-me, de repente, dos seus sacrifícios de mãe por nós. Entretanto, não tive tempo de recuar do mal que fizera a mim mesmo.
12 Amigos chegaram atendendo aos gritos de Maria e correram comigo para o hospital. No entanto ainda ouvi o médico, se não me engano o Dr. Pedro, n a dizer: “é tudo inútil”. 13 Compreendi que a hora havia chegado e pedi socorro ao irmão Domingos e a meu pai Abílio, mas em vão… 14 Os lamentos de quantos me rodeavam desapareceram de meus ouvidos e me vi sozinho, num pesadelo terrível, em que tentava, debalde, retomar o meu corpo sem vida; 15 e nesse pesadelo estive muitas semanas, até que escutei vozes amigas a me convidarem para segui-las na direção do socorro de urgência. 16 Eu estava cego e deixei-me conduzir para tratamento. Nesse tratamento estou, e, hoje, essas vozes me convidaram a vir vê-la. 17 Como se estivesse beneficiado por um prodígio que não sei esclarecer, vi a senhora com o nosso Demevaldo. E chorei, arrependido por tudo o que fiz, irrefletidamente.
18 Querida mãezinha Lourdes, perdoe-me — a mim que caí num sofrimento assim tão grande! Fito a sua face e a esperança me retoma o coração.
19 Lembro-me de seus dias de aflição em nossa casa e envergonho-me de pedir-lhe perdão e bondade que não fiz por merecer.
20 Mamãe Lourdes, dê-me as suas orações de paz e diga que me desculpa. Farei o possível para retomar-me do sofrimento em que ainda me encontro, a fim de lhe ser útil e à nossa Maria. 21 Sei que Deus nunca se empobrece de compaixão. Quanto mais infeliz está o homem, mais ampla se faz a bondade do Pai Celestial. 22 Ele me levantará por dentro de mim e concederá forças para ser seu filho outra vez, porque presentemente sou um trapo de dor e arrependimento.
23 Querida mãezinha Lourdes e querido Valdo, Deus nos proteja! É tudo o que por agora posso rogar em minha condição de penúria espiritual, mas mesmo nessa penúria, querida mãe, sinto-me ainda seu filho e conto com o seu perdão para a minha falta… Não posso escrever mais.
24 Querida mãe Lourdes receba as lágrimas que me ficam por dentro da própria alma, incapaz que me sinto de prosseguir escrevendo e lembre-se de que seu filho espera, do seu amor, tudo aquilo que hoje não mais tem.
25 Todo o carinho com as saudades imensas do seu filho
Dimas.
Dimas Luiz Zornetta
07.09.1984.
ELUCIDAÇÕES
1) Demevaldo Zornetta — Irmão mais novo.
2) Domingos Donizetti Zornetta — Irmão mais velho, desencarnado em 14.08.1983. Fato interessante esta passagem, pois Dimas foi trazido à reunião pelo seu irmão, conforme podemos observar na mensagem.
3) Abílio Zornetta — Pai. Desencarnado em 24.06.1978.
4) Maria B. Claudino Zornetta — Esposa.
5) Dr. Pedro Kamimura — Médico neurocirurgião, que prestou os socorros a Dimas.
1 Querida mãezinha Lourdes, aqui é o seu Dimas Luiz quem escreve.
2 Estou sensibilizado e reconhecido por sua compreensão e receptividade. Digo assim, porque o seu coração tem atendido a todas as minhas solicitações, qual se conversássemos frente a frente.
3 Não posso esquecer que, apesar dos infelizes irmãos que se fizeram obsessores de minha vida, voltei para cá na posição de um suicida desventurado, requisitando a compaixão geral para reconstituir a minha tranquilidade possível no ambiente de estranhos recursos que havia criado para mim próprio. 4 Faz precisamente um ano que lhe dei minhas notícias e penso haver pacificado a sua alma querida com as minhas palavras.
5 Agora, posso dizer-lhe que, entrando na Vida Espiritual com a minha cabeça desequilibrada, demorei seis meses em tratamento constante para compreender que me achava sob o amparo de meu tio Luiz, n do meu pai Abílio e do meu irmão Domingos.
6 Não posso dizer que sofri tanto quanto me cabia esperar sofrer com as consequências de meu ato impensado, pois via os meus parentes e benfeitores, qual se estivessem recobertos por uma neblina que a minha capacidade visual não atravessava. 7 Depois de seis meses, os meus olhos foram restaurados e vi não só a mãezinha Lourdes, o meu irmão Demevaldo pela primeira vez, conscientemente, mas também pude visitar a esposa que deixei sozinha e desolada, a nossa Maria Benedita Claudino.
8 Junto de cada um experimentava a alegria tisnada pelo remorso, no entanto, o meu pai Abílio obteve a minha entrada numa escola da Espiritualidade. Ali me reencontrei na condição de um aluno, cercado de exercícios e deveres. 9 Quando lhe enviei as minhas notícias, em sete de setembro passado, n já me situava nesse Instituto de ensino. 10 Aí aprendemos lições sobre amor e paciência, humildade e coragem, fé e serviço ao próximo, discernimento e equilíbrio, caridade e elevação. As matérias professadas são muitas.
11 O Domingos sempre colaborando para que eu não me amedrontasse com o curso que, aliás, ainda é o meu ponto de trabalho até hoje.
12 Chegou o momento de voltar ao nosso ambiente terrestre, para que eu, qual acontecia com outros aprendizes, encontrasse o meu teste que os professores consideravam principal. 13 Já me havia manifestado para o seu carinho de mãe, juntamente do Valdo, e me sentia aliviado no arrependimento pesado que trazia a refazer na memória a dolorosa cena de minha despedida, com a arma a me golpear o corpo, manejada por minhas próprias mãos.
14 Ignorava os motivos, mas o teste, segundo informações de meu pai Abílio, ia se realizar junto de minha esposa. Até então, tudo estava claro em meu Espírito, com a expectativa de que me sairia bem. 15 Já havia visitado a nossa Maria por duas vezes, em meu primeiro ano de existência no Plano espiritual, e nesse dia do teste, regressaria à nossa casa pela terceira vez. O papai Abílio e o tio Luiz me acompanhavam.
16 Atingimos a casa, numa noite de serenidade em todo o ambiente. A luz brilhava sobre a cidade com uma beleza que era nova para mim, pois começava a me reconhecer longe de qualquer problema. 17 Alcançamos a residência e notei que, embora sem novo casamento, aquela mesma criatura que continuava aceitando por minha esposa permanecia com outro homem, dentro de nosso quarto. Trocavam palavras de amor e de confiança no futuro e, sem necessidade de muita observação, percebi que Maria estava sendo iniciada em nova gravidez.
18 Senti um choque balançar-me os escaninhos da alma, como se o homem forte que eu fora estivesse renascendo em mim para exigir direitos que não me cabiam mais.
19 As lágrimas de revolta e tristeza me banhavam o rosto, quando meu pai me perguntou pelos meus novos sentimentos. Vi o rival, descontraído e contente, e me lembrei das aulas que frequentava.
20 As palavras do professor de compreensão e tolerância ressoavam dentro de mim e comecei a raciocinar. Acaso poderia eu, que abandonara o lar, exigir qualquer fidelidade da companheira de quem não sentira piedade?
21 Seria justo ferir-lhe os anseios de mulher ainda moça com qualquer recriminação? Como procederia eu em situação idêntica à situação que eu mesmo com o suicídio a colocara? Seria razoável, porventura, que ela permanecesse sozinha por minha causa? Quantas noites teria atravessado, chorando a minha perda?
22 Quanta solidão sofrera, receando a loucura, até que aceitasse o convite daquele desconhecido para modificar a própria existência? Tudo isso pensei numa reduzida fração de tempo.
23 Então respondi a meu pai que eu sofria compreendendo que não podia cometer essa injustiça, reprovando a companheira que havia posto confiança total em mim e na minha palavra de esposo fracassado e que, por isso, estava disposto a reparar o meu erro e auxiliá-la.
24 Meu pai me abraçou enxugando as lágrimas que me corriam na face e expediu telepaticamente para o Instituto a que me referi a notícia de que eu vencera no teste. 25 Felicitaram-me os dois benfeitores e pedi que me conduzissem à sua presença de mãe. 26 A senhora descansava, pensando na vida e lhe pedi cooperação para ser útil à ex-esposa que resolvera tomar outro caminho. 27 Com surpresa, notei que os meus pensamentos sintonizavam com os seus e, sem que me visse com os seus olhos materiais, a senhora prometeu a si mesma que visitaria a antiga nora, encorajando-a a abraçar a criança nascitura em novo estímulo para a vida. 28 E daí por diante, mamãe Lourdes, encontrei-a por diversas vezes junto de Maria, dizendo-lhe que a criança decerto era aquela de que eu teria sido pai se estivesse no mundo. 29 E a senhora e eu abraçamos a pequenina que é a nossa Michele n de hoje, com talvez dois meses de idade. Agradeço-lhe o que fez e continua fazendo por mim.
30 Mãezinha, estou melhorando. Muito grato por sua abnegação. Continue, por favor, considerando Maria Benedita, por sua filha porque ela bem o merece, naquilo que eu mesmo, seu filho, não fiz por merecer.
31 Peço-lhe dar as nossas notícias ao nosso Demevaldo. Ele ficará surpreso, mas satisfeito. 32 Explique a meu irmão que aprendemos aqui a estudar e entender as lições que evitam o mal; entretanto, se alguém cai nesse mesmo mal que precisamos evitar, a compreensão deve ser exercitada por nós, com a sinceridade que devemos aos compromissos espirituais.
33 Perdoe-me haver escrito tanto, mas presenciei esta reunião em sua companhia e observei que o perdão era o tema principal e ninguém existe mais necessitado de perdão do que eu mesmo.
34 Querida mãezinha Lourdes, o papai Abílio e a minha querida bisavó Hermínia Maria n lhe deixam carinhosas saudações. E eu que nada possuo de bom para oferecer-lhe, peço-lhe receber a renovação do seu filho, com as minhas esperanças de melhorar o meu próprio caminho.
35 Com todo amor, deponho em suas mãos o coração de seu filho reconhecido.
Dimas Luiz Zornetta
07.09.1985.
ELUCIDAÇÕES
6) Luiz Zornetta — Tio paterno, desencarnado em 15.10.1949.
7) Data da recepção da mensagem anterior.
8) Michele — Filha de Maria Benedita Claudino, nascida em 20.06.1985.
9) Hermínia Maria — Bisavó materna, desencarnada há muitos anos.
[Obs. A mensagem do próximo capítulo é do irmão de Dimas e dá notícias suas.]
Paulo de Tarso Ramacciotti