1 — Decididamente, o senhor não serve para o trabalho comercial. Desatende os que nos procuram. Foge aos horários. Discute sem razão. Perde tempo. E lança discórdia em casa… — Era Frederico Figner, abnegado espírita e grande comerciante, que falava a empavonado rapaz à porta de conhecido cinema do Rio.
2 — Mas, Sr. Figner, — anotava o moço, — não é possível! Fui expulso de sua firma sem mais nem menos…
— Expulso, não, — explicou o negociante, paternalmente, — o senhor foi convidado a seguir sua vocação e está pago pelos serviços que nos prestou, de conformidade com todos os seus direitos.
— Mas eu sou espírita, — lamentou-se o ex-empregado.
3 Figner fitou o grande edifício junto ao qual conversavam, e disse:
— Meu amigo, o rótulo é quase nada. Repare este majestoso prédio. Desde a primeira pedra na base até a última no alto, tudo é harmonia e disciplina. Mas note o cartaz à porta do cinema. A presença dele aqui não altera coisa alguma.
Hilário Silva