1 Dirigia José Petitinga distinta organização espírita na capital baiana, quando um rapaz, interessado em grandes projetos de assistência social, veio procurá-lo.
2 E entre ambos a conversação se alongou.
— Petitinga, não podemos ficar parados. A hora é de trabalho, trabalho…
— Também penso assim.
3 — Que acha você levantarmos um orfanato para as criancinhas desamparadas de Salvador?
— Excelente projeto.
4 — E um sanatório para obsidiados?
— Muito importante.
5 — E uma vila completa para os nossos irmãos infelizes que moram em casebres misérrimos? Uma vila, Petitinga, em que pudéssemos reunir muitas famílias?
— O plano é uma bênção.
6 — Um lar para velhinhos é uma necessidade… Às vezes volto para a casa, à noite, e vejo anciãos na calçada. Que diz você de um albergue moderno, de amplas proporções?
— Isso seria uma concessão de Deus.
7 — Noto igualmente que precisamos de um instituto diferente para os alcoolizados. Uma casa-hospital, em que os internados esqueçam o vício… Que opinião é a sua?
— Nem tenho expressões. Uma obra dessas é um monumento de amor.
8 — E uma escola? Que diz você de uma escola? — Uma escola, em bases espíritas, é caminho do Reino de Deus.
Petitinga não cabia em si de contente.
Afinal, — pensava, — surpreendera ave rara.
Alguém que iria longe, homem disposto a trabalhar e a sofrer pela causa.
9 E como o tempo passava e tinha serviço urgente, convidou:
— Bem, meu amigo, a sua palavra brilha para mim. Continuemos conversando em serviço. Estou justamente na hora do passe a dois irmãos tuberculosos e terei muito prazer no seu concurso…
10 Mas o moço, incompreensivelmente, alterou o semblante. Fez-se lívido. Repetiu, várias vezes, o gesto de quem expulsa a poeira do paletó, e ele, que sonhava tantas obras de caridade, respondeu, desenxabido:
— Ora, Petitinga, isso não. Você compreende. Não posso buscar moléstias contagiosas. Tenho família.
E lá se foi…
Hilário Silva