1 — Você tem a força de Deus nas mãos!
— Você não é homem para viver na obscuridade.
— Por que não montar gabinete próprio num dos melhores pontos da cidade, a fim de atender ao povo?
— Você nasceu para melhor destino…
— Estamos todos prósperos e poderemos naturalmente ajudar.
2 Adelino de Carvalho, abnegado médium passista de Uberaba, em Minas, começou a ouvir semelhantes frases de muitos amigos, admiravelmente situados no círculo das finanças. E tantos elogios ouviu que passou a considerar, intimamente, a possibilidade de casa no centro urbano. Não precisava de grande mansão. Um palacete que não desse muito trabalho seria bastante. Um lugar em que pudesse acolher as visitas com elegância e decência.
3 Quando o plano se tornou amadurecido no pensamento, concentrou-se e pediu a opinião da Esfera Espiritual.
Quem compareceu foi Antônio Logogrifo, excelente amigo desencarnado.
Adelino expõe o projeto e roga parecer.
4 Logogrifo, no entanto, passa a esclarecê-lo, bondoso. Que um médium, antes de tudo, precisa assistência moral, que não lhe convinha figurar uma situação que não tinha, que devia permanecer no domicílio singelo e que os amigos não podiam efetuar aquilo que somente a ele competia fazer.
5 — Mas, — suspirou o médium, contrariado, — não posso aspirar à melhoria? Valorizar os meus interesses, elevar-me socialmente?
— Pode sim, — ditou o Espírito amigo, — mas não à custa de vãs aparências e sim por seu próprio esforço, lutando, amando, servindo, batalhando em favor do bem…
6 — Então, crescer no mundo será sempre vaidade? — Gemeu Carvalho, triste.
— Não, Adelino, — obtemperou o companheiro, — não é bem isso. 7 A vaidade tem consigo o progresso da cauda de cavalo.
— Como assim?
8 E o amigo espiritual informou, sorridente:
— Só cresce para baixo.
Como quem acorda de longo sono, Adelino sentiu estranho contentamento. Compreendeu, então, que na sua modesta casa já morava a felicidade. E, chorando de alegria, pôde apenas dizer: — Deus lhe pague, meu irmão.
Hilário Silva