O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Amor sem adeus — Mensagens familiares de Walter Perrone


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Encontro no Lago Azul

Um carro deslizava pela Via Anhanguera, transportando, de regresso a São Paulo, uma aflitiva mãe e seus dois filhos jovens.

Era um grupo familiar traumatizado.

Três meses antes uma dolorosa provação atingiu toda a família, pois, um dos seus queridos componentes, um belo e forte rapaz de apenas 23 anos, faleceu inesperadamente.

D. Maria Perrone, sua mãe, profundamente chocada com o acontecimento, vivia agora sob a ação de calmantes em tratamento médico constante.

Nessa viagem a Campinas, D. Maria estava acompanhada de seus filhos, Berto e Soninha. Embora, sem disposição para qualquer passeio, presa desde cedo a uma melancolia torturante, cedeu à insistência dos jovens. No percurso, mesmo com belas paisagens desdobrando-se aos seus olhos, não conseguia libertar-se por algumas horas da grande saudade. Ao contrário, em alguns instantes, chegava a sentir-se ao lado do inesquecível filho, Walter. Quantas vezes havia feito aquele mesmo trajeto com ele…

Ao se aproximarem do Restaurante Lago Azul houve uma divergência de opiniões entre Soninha e Berto. Aquele era um ponto de parada do irmão falecido, onde, por várias vezes, todos eles tomaram refeições juntos. Assim, alegando razões de ordem sentimental, ela preferia um outro restaurante. Mas, Berto insistiu em parar naquele local para almoçarem e, com o apoio de sua mãe, convenceu a irmã.

Após a refeição, Berto demorou-se mais do que habitualmente, quedando-se pensativo, chegando a provocar, após algum tempo, a reação de sua irmã:

— Precisamos ir logo, Berto, pois não podemos chegar muito tarde.

Ao saírem do restaurante, já no interior do automóvel, o filho teve a impressão de identificar Chico Xavier, que chegava ao local, embora nunca o tivesse visto pessoalmente. Era-lhe, evidentemente, uma figura conhecida pela imprensa e televisão. A família Perrone, católica, nunca se havia aproximado do Espiritismo, Doutrina onde Xavier se destaca como um dos médiuns mais operosos.

Berto comunica aos familiares sua ideia.

D. Maria já tinha ouvido falar naquele homem — possível intermediário entre os vivos e os mortos — e intimamente nutria o desejo de encontrá-lo. Mas, católica fervorosa, buscara, até então, lenitivo e esclarecimento somente em sua religião. Como alguém perdido num imenso mar de melancolia e aflições, vê na figura simples e acolhedora do médium um possível barco salva-vida. Nesse instante crítico de sua existência, reunindo energias íntimas, venceu o preconceito e, descendo rápida do veículo, aproximou-se do médium, dizendo:

— Desculpe-me, se estou enganada; o senhor é Chico Xavier?

De pronto, Xavier, que ali estava em companhia de alguns amigos, respondeu-lhe:

— Sim, minha senhora.

— Meu irmão, necessito de sua palavra de conforto, faz hoje três meses que perdi um filho.

— Já sei. É a família Perrone.

A afirmativa do médium causou-lhe grande e comovente surpresa.

E, em seguida, Chico fez uma pergunta não menos surpreendente:

— O menino já nasceu? Tem o nome do pai?

Soninha e sua mãe emudeceram atônitas. Berto ficou trêmulo.

Walter — o primogênito do casal Sr. Murillo e D. Maria — falecido a 14 de fevereiro de 1974, havia deixado a esposa grávida de 7 meses. E, na data do primeiro encontro da família com o médium, o nenê já havia nascido e realmente recebido o nome de seu pai.

Compreendemos que Xavier foi antecipadamente, por via mediúnica., informado dos acontecimentos que afligiam a mãe e seus filhos.

Refazendo-se das profundas emoções provocadas pelo inesquecível diálogo, D. Maria confirmou ao médium o que ele mesmo havia dito à família, sem que os conhecesse. E, sentindo-se ao lado de alguém, que poderia estabelecer uma reaproximação, pelo menos informativa, com seu amado filho desencarnado, suplica-lhe notícias do mesmo. Na ocasião, desconhecia totalmente o que era mediunidade, mas diante de revelações claras e insofismáveis, ainda mais, proferidas num encontro casual, não teve dúvidas em fazer tal pedido. Os seus olhos, marejados de lágrimas, vislumbravam agora uma ponte segura entre nós e os que já atravessaram o rio inevitável da morte.

— E o meu filho como está, Chico? Onde está ele?

O médium tinha compromissos inadiáveis à sua espera; companheiros concitavam-no a seguir viagem, mas, sem se alongar em explicações, confortou a mãe suplicante:

— O seu filho está sempre com a senhora. No momento oportuno nós nos encontraremos e, se Deus permitir, a senhora receberá uma palavra dos Amigos Espirituais. Ainda não chegou a hora.

Após a despedida, mãe e filhos choraram de emoção. Não viam o momento de chegarem a São Paulo, para transmitirem aos seus o acontecimento auspicioso.

Com esse feliz e inesperado encontro, brotava naqueles corações uma esperança nova, um primeiro raio de sol após longo inverno de dolorosa e brusca separação entre almas queridas.


Hércio Marcos Cintra Arantes


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