Após o seu primeiro contacto com o médium Chico Xavier, D. Maria sentiu-se um pouco mais confortada com a promessa de receber futuramente, do Além, informações de seu inolvidável filho Walter.
Entendemos que, naquele encontro, quando fenômenos mediúnicos irrefutáveis se manifestaram, ela e seus filhos receberam a semente vigorosa da crença na sobrevivência da alma após a morte do corpo e na possibilidade de comunicação entre os vivos mergulhados na carne e os vivos do Mundo Espiritual.
Mas, a amorosa mamãe estava exausta.
O grande stress decorrente da “perda” inesperada de seu querido filho havia-lhe esgotado importantes energias psicofísicas. Um tratamento médico intensivo fazia-se necessário. E, D. Maria, sob orientação de seus facultativos amigos, recolheu-se no Hospital Santa Helena.
O tempo — nosso inestimável aliado — quando estamos enleados a problemas aparentemente insolúveis, não transcorreu em vão. D. Maria obteve grandes melhoras e regressou ao lar.
Com a aproximação da missa de 6º mês de falecimento, a profunda saudade de seu filho foi-se acentuando num crescente incontrolável, refletindo perigosamente em sua saúde.
A esperada solenidade litúrgica deu-se na noite de 14 de agosto de 1974, na Igreja Cristo Rei, celebrada por um sacerdote irlandês.
Nos dias que se seguiram ao acontecimento, o estado de saúde de D. Maria piorou sensivelmente, entrando em forte crise depressiva. Só melhorou quando recebeu, na tarde de 22 de agosto, a visita de um sobrinho que era muito amigo de Walter. Ele contou-lhe um sonho, bem nítido, que seu irmão Toninho, também conhecido entre os familiares por Tuna, tivera com seu filho desencarnado:
— Tia, o Toninho via-se em seu ambiente de trabalho, quando Walter lhe surgiu à frente e lhe disse: — “Tuna, eu vim visitá-lo, mas preciso ir logo, pois tenho de visitar a minha velhinha; ela está muito triste.”
D. Maria interpretou que o filho amado desejava comunicar-se com ela. Mas, de que forma? Lembrou-se, então, de Chico Xavier. As revelações recebidas no Lago Azul não foram levadas pelo vento. Pelo contrário, agora, estavam mais avivadas do que nunca.
O pressentimento de que receberia, finalmente, uma comunicação do filho pelo médium de Uberaba surgiu instantaneamente.
— Quando terminei de ouvir a narrativa de meu sobrinho, firmei o pensamento e disse: — “Vou a Uberaba encontrar o meu filho.”
São estas as palavras textuais de seu Diário íntimo.
Expôs sua aspiração aos familiares, mas não encontrou o menor apoio. Essa falta de receptividade é compreensível, pois a sua saúde estava seriamente abalada, o que muito preocupava a todos.
Mas, nessas alturas dos acontecimentos, ninguém bloquearia o seu desejo ardente. Falaria mais alto ante qualquer argumento a impulsividade de um coração materno que, por uma forte razão íntima, partiria em direção ao seu filho idolatrado.
Entretanto, nunca havia estado em Uberaba.
Quem a levaria lá? A comadre D. Célia de Carvalho foi lembrada, pois, além de amiga sincera, professava o Espiritismo.
Apesar de não conhecer pessoalmente Chico Xavier, nem a cidade mineira, a amiga aceitou, de pronto, o convite. E, já no dia seguinte, seguiram com destino a Uberaba.
A própria D. Célia, residente em São Paulo, a quem agradecemos os depoimentos solicitados por nós; assim relata tais acontecimentos:
“A minha amizade com a Maria e sua família é antiga. Conhecemo-nos quando o Waltinho tinha 5 anos. Nossos filhos sempre foram muito amigos.
Quando aconteceu o inevitável, e Waltinho foi chamado pelo Senhor, sentimos muito a sua ausência. Era muito amoroso para com todos. Quando me via, mesmo na rua, parava para beijar-me.
Ao receber o convite da comadre para acompanhá-la a Uberaba, não pensei duas vezes, porque sempre acreditei no Espiritismo e tenho fé nos Amigos do Além. Apenas, antes de seguirmos viagem, tive o cuidado de anotar o telefone dela, com receio de que algo lhe pudesse acontecer, em virtude de seu precário estado de saúde. Apesar de seu desespero, ela ia com muita esperança e no ônibus dizia: “Coração de mãe não se engana, o Walter está me esperando.”
À tardinha chegamos a Uberaba e tomamos, de imediato, um táxi, pedindo ao motorista que nos levasse ao “Centro Espírita do Chico Xavier”, pois não sabíamos onde o médium atendia. Pensamos que, lá chegando, fôssemos entrar em contacto com facilidade, mas a fila na “Comunhão Espírita Cristã” (o nome verdadeiro da instituição) era enorme, e antes que chegássemos até ele, venceu o tempo em que o povo era atendido antes do início da reunião, marcada para as 20 horas. Pessoas prestativas informaram-nos que Chico nos atenderia após a reunião. Porém, a Maria poderia escrever o nome dela e do filho falecido num papel e colocá-lo sobre a mesa, que posteriormente seria encaminhado ao médium. Assim ela fez, redigindo: “Murillo Perrone e Maria Perrone pedem notícias de seu filho desencarnado em 14/2/1974.”
Enquanto os confrades, assentados em torno de uma grande mesa, faziam palestras doutrinárias, Chico Xavier permanecia numa saleta reservada. O que psicografava nesse recinto — atendendo ao apelo de dezenas de pessoas cujos nomes haviam sido colocados nas folhas de papel — ia sendo distribuído ao público. Permanecemos em expectativa. Após várias remessas de ditados mediúnicos entregues ao povo, o homem encarregado dessa função anunciou o nome de Maria. Emocionada, recebeu o seu papel que continha a mensagem:
— “Filhos, Jesus nos abençoe. O nosso caro jovem está cooperando espiritualmente em favor dos entes queridos que deixou na Terra. Confiemos nas bênçãos de Jesus, hoje e sempre.”
Aproximadamente, às 24 horas, o médium reapareceu no salão e assentou-se à cabeceira da mesa. Pouco depois, começou a escrever em transe mediúnico. Ao seu lado, uma senhora ia virando as páginas soltas de papel, quando já preenchidas. Todos permaneciam em respeitoso e profundo silêncio.
Em seguida, o próprio Chico leu a mensagem que começava com a frase: — “Querida mamãe, querido papai, querida Suely, meus irmãos queridos, estou em prece, agradecendo a alegria de poder enviar esta carta.”
Sim. Era o Waltinho, que após 6 meses de separação conversava com os familiares através daquela bela e abençoada carta. Choramos muito, de emoção e saudades. A Maria voltou de Uberaba bem mais confortada, plenamente convencida da comunicação de seu idolatrado filho, agora domiciliado no Mundo Maior.”
Confirma-se, assim, a notável premonição da saudosa e amargurada progenitora, porque havia revelado a todos os seus; na véspera, a convicção íntima do reencontro com o filho amado. O próprio Espírito de Walter deve ter-lhe transmitido mentalmente tal informação, intuição facilitada pela profunda afinidade espiritual — reflexo de fecundo e imensurável amor entre mãe e filho.
O pressentimento é sempre um sublime e providencial recurso que verte do Mais Além aos corações humanos, em múltiplas situações, ora orientando os nossos passos pelo estreitos caminhos que devemos palmilhar, ora amortecendo o choque dos grandes e inesperados sofrimentos.
Os detalhes da narrativa de D. Célia, referentes à reunião pública de que o médium Xavier participou, são-nos inteiramente conhecidos, pois há 19 anos temos assistido a numerosas dessas reuniões em Uberaba. Em várias delas, com a presença de centenas de pessoas, presenciamos o impacto do reencontro de criaturas com os seus mortos queridos, identificados nas comunicações psicografadas.
Embora, habituado, por força de nossa profissão, com as emoções provocadas pelos dramas da enfermidade e da morte, confessamos ao leitor que, por algumas vezes, nos emocionamos profundamente, ao ver mães ou filhos em choro convulsivo, por reconhecerem, nas mensagens do Mundo Espiritual, os filhos ou pais amados. Naturalmente, também nos sensibilizamos pelas palavras dos comunicantes, que, além de enternecedoras, abordam sempre problemas familiares graves. Uma destas mensagens, psicografada em noite inesquecível para nós e endereçada à D. Maria Perrone, integra esta obra.
Vejamos, a seguir, a Primeira Carta de Walter, recebida pelo médium Francisco Cândido Xavier, em reunião pública da “Comunhão Espírita Cristã”, na noite de 23 de agosto de 1974, em Uberaba, Minas Gerais.
Hércio Marcos Cintra Arantes