O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Antologia dos Imortais — Autores diversos — 3ª Parte — Francisco C. Xavier e Waldo Vieira n


14

Da Costa e Silva n

1

RESSURREIÇÃO

1 Ressurreição! A madrugada flórea!…
O céu brilhando, em mágica oferenda…
Estranho à nova luz que se desvenda,
Vejo as telas antigas da memória.


2 É minha mãe, contando velha história,
A corrente do rio a fazer renda,
A cana soluçando na moenda
E a pátria serra olhando a altura inglória!…


3 O caminho estrelado principia…
A morte abriu as fontes da alegria,
Na taça da amplidão que se descerra!


4 Fulge o carro da vida renascente,
Mas volvo à sombra e choro a dor pungente
Da saudade sem fim de minha terra!…


2

REENCARNAÇÃO

1 De cimo a cimo, a ideia viva esbarro…
Luzem constelações… O Céu rutila…
Estrelas resplendentes fazem fila,
Multicores vagões do Etéreo Carro.


2 Mas revejo, enlevado, o sol da vila…
O regaço materno, ansioso, agarro;
Ouço meu pai de crônico pigarro
E a voz do lar por música tranquila.


3 Fito a mesa singela, o caldo, a broa;
O velho cão rafeiro geme à toa…
Ah! Saudades! Sois tudo quanto exerço!… n


4 Preces a Deus, em lágrimas, transponho…
Aspiro a refazer a vida e o sonho,
Quero chorar nos júbilos do berço!… n


3

VERSOS À MINHA MÃE

1 Pássaro preso no recinto escasso
Do velho canavial, beirando o rio, n
Quis ver o mundo vasto e conheci-o,
Varando, em pleno voo, o azul do espaço…


2 Lembro-me agora… Enceguecido, abraço
A exaltação, a glória e o poderio…
Mas tudo, minha Mãe, era vazio
Fora do amor que brilha em teu regaço.


3 Vi mil chagas de dor que a fama incensa
Nos nervos de ouro da cidade imensa,
E prazeres em trágico desmando…


1 Mas no colo a que, em sonho, me recostas,
Tenho apenas teu vulto de mãos postas,
Que teu filho recorda, soluçando…


3-A

O BERÇO

1 Em êxtase, contemplo os sóis em bando,
Arcturo, Aldebarã, Sírius, Antares,
E o caminho onde os anjos tutelares
Passam ébrios de júbilo, cantando…


2 Bebo a vida imortal em que me expando,
Nos perfumes e cores de outros ares.
Surgem novos impérios estelares,
Na glória do Universo, fulgurando?…


3 Mas ouve, Mãe, em pleno Lar Celeste,
Recordo o berço humilde que me deste,
Ao pranto de alegria em que me inundo…


4 Muito mais que na luz do imenso Espaço
Pulsa, no imenso amor de teu regaço,
O próprio coração de Deus no mundo…




[1]  Antônio Francisco DA COSTA E SILVA — Depois de fazer o curso primário e os preparatórios em Teresina, transferiu-se Da Costa e Silva para o Recife, onde, somente em 1913, veio a bacharelar-se em Direito. Foi funcionário público do Ministério da Fazenda, ascendendo a altos postos. Durante quase dez anos viveu o poeta em Belo Horizonte, mudando-se, posteriormente, para o Rio, onde desencarnou. “A sua poesia” — escreveu Andrade Muricy — “trazia uma exaltação luminosa, um inebriamento comunicativo. Era alguém que cantava, mas com uma virtuosidade harmoniosa e forte, um belo ímpeto arrebatado.” (Amarante, Piauí, 28 n de Novembro de 1885 — Rio de Janeiro, Gb, 29 de Junho de 1950.)
BIBLIOGRAFIA: Sangue; Zodíaco; Verhaeren; Verônica; etc.


[2] Verso 25 - Note-se a apóstrofe.


[3] Verso 28 - Falando sobre a poesia de Da Costa e Silva, afirmou Fernando Góes (Pan. V, pág. 146): “Foi bem o cantor da saudade ele confessava ter vindo ao mundo para ter saudade.” E como não poderia deixar de ser, o artista de “Saudade” continua sendo o cantor da saudade, ansioso, agora, por ver novamente paisagens terrestres em novo corpo de carne…


[4] Verso 30 - Leia-se ca-na-vial, com sinérese.


[5] Andrade Muricy (Pan. Mov. Simb. Bras., III, pág. 27) dá 23 como o dia de nascimento.


Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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