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1 A noite avança. À luz do olhar nevoento,
Escuto o alarme… A rude voz do instinto
Fala da morte. Em lágrimas pressinto
A lividez do trágico momento.
2 Espantado, atravesso o labirinto
Dos delírios e sonhos que apascento.
Vencido, o coração pulsa violento,
Ave apresada ao peito semi-extinto.
3 Tristeza, sombra — e pó… Cinza e canseira…
A ideia tomba. É a hora derradeira,
Na exalação dos últimos instantes.
4 Desço de todo ao caos que me agonia,
Mas livre enfim, soluço de alegria,
No caminho dos astros cintilantes.
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1 Não era mais o lume de Aladino
Que trazia na mão dorida e pasma,
Era a tremura de um doente de asma,
Ouvindo, inerme, o choro do destino.
2 O leito igual ao chão de lodo e miasma
Fez-se lousa de gelo em Sol a pino…
Quero gritar em vão, quanto um menino,
Amedrontado à sombra de um fantasma.
3 Divago. Embalde movo os lábios perros.
Varo — errante viajor — impérvios serros…
Meu sonho é um velho cão ladrando à lua…
4 Tudo — silêncio pálido de esfinge… n
É o nada… A dor do nada que me atinge
Mal sabendo que a vida continua…
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[1] Antônio Joaquim PEREIRA DA SILVA — No Rio de Janeiro, Pereira da Silva foi aluno do Liceu de Artes e Ofícios, ingressando, depois, na Escola Militar. Transferido, mais tarde, para o Estado do Paraná, aí se tornou dedicado amigo de Dario Veloso e de outros poetas da sua estirpe. Deixando o Exército, voltou ao Rio. Estudou Direito e aderiu ao grupo simbolista da Rosa-Cruz. Foi redator da Cidade do Rio, colaborando em outras publicações da imprensa carioca, como crítico literário. Em 1933 ingressou na Academia Brasileira de Letras, cadeira nº 18. Luís Murat considerou Pereira da Silva um dos maiores poetas da sua geração, “homem que possui uma grande cultura, a par de uma grande inspiração” (apud Pereira da Silva, Beatitudes, pág. 228). (Araruna, Serra da Borborema, Paraíba, 9 de Novembro de 1876 — Rio de Janeiro, Gb, 11 de Janeiro de 1944.)
BIBLIOGRAFIA: Væ Soli!; Solitudes; O Pó das Sandálias; Alta Noite; etc.
[2] Verso 26 - Observe-se a frequência com que o poeta usa o vocábulo pálido e seus cognatos. No soneto “À minha mãe” (apud Pan. IV, pág. 117), o último terceto, por exemplo:
“E me atirando uma porção de lírios
Transfigurou-se pálida e apiedada
Dos meus soluços e dos meus Martírios…
Cf., ainda, a 2ª estrofe de “Sóror Mágoa” (apud Op. cit., pág. 118). Na 4ª estância desse poema, encontramos isto:
“Como se ajusta bem a palidez à fome
E o tédio ao dissabor do espírito de alguém.”
Interessante, também, o último terceto de “Sol poente” (apud Op. cit., pág. 119).