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1 Passa no oceano azul a resplendente frota,
Brilham flâmeos pendões, de fragata em fragata…
Relampeia o esplendor… É a luz que se desata
Do coração da vida em clâmide remota.
2 Vejo a ronda dos sóis por divina cascata,
Da Terra a que me prendo, — humilhada galeota.
Cada estrela é canção, que a beleza pilota,
Nos tênues brocatéis de púrpura e de prata.
3 Ah! estranho Universo!… Ah! glória que me esmagas!… n
Constelações, dizei!… Quem vos fez como vagas n
De pétalas, bailando aos sublimes falernos?
4 Uma sílaba só freme, de mundo em mundo:
Deus!… — o doce mistério altívolo e profundo!…
Deus!… — o infinito Amor dos caminhos eternos!… n
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1 Argonauta da luz que nasceste nas trevas,
Por térmita perdido em malocas bizarras,
Dormiste com leões de sinistras bocarras
E, símio, atravessaste as solides grandevas.
2 Preso aos totens e atado à inspiração dos devas.
Vivias de arco e flecha ao clangor de fanfarras.
Ai! a herança da guerra a que ainda te agarras,
Os impulsos do abismo e as cóleras longevas!
3 Hoje, razão que brilha e amor que desabrocha,
Prometeu a chorar no coração da rocha, n
Circulado de sóis e entre as sombras imerso!
4 Homem! Anjo nascente e animal inextinto,
Serás, após vencer as injúrias do instinto,
A obra prima de Deus no esplendor do Universo! n
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[1] DARIO Persiano de Castro VELOSO — Poeta, orador, romancista, contista, historiador, jornalista. Fez o curso primário no Liceu de S. Cristóvão do Rio e em 1885 fixou residência na capital do Paraná, onde exerceu vários cargos públicos. Professor do Ginásio Paranaense e Escola Normal de Curitiba, D. Veloso angariou grande prestígio como verdadeiro “mestre da mocidade”. Altamente espiritualista, foi um apaixonado prosélito das doutrinas ocultistas e herméticas. Helenófilo, chegou a criar em Curitiba um Instituto Neopitagórico, para cuja sede construiu o famoso “Templo das Musas”. Fundou várias revistas simbolistas, dentre as quais se destacou O Cenáculo. Sua produção é vasta em todos os gêneros. Foi sócio fundador do Centro de Letras do Paraná e criou a cadeira nº 9 da Academia Paranaense de Letras. (S. Cristóvão, Rio de Janeiro, Gb, 26 de Novembro de 1869 — Curitiba, Paraná, 28 de Setembro de 1937.)
BIBLIOGRAFIA: Efêmeras; Hélicon; Cinerário; Esotéricas; etc.
[2] Verso 9 - Atente-se na apóstrofe.
[3] Verso 10 - Observe-se o “enjambement”: “…Quem vos fez como vagas/ De pétalas,…” — que sugere, de imediato, o bailar das ondas de pétalas aos sublimes falernos.
[4] Verso 14 - Eis aí um dos mais excelentes exemplos de anáfora.
[5] Verso 24 - A título de curiosidade, cf. Dario Veloso, Cinerário, Curitiba, 1929, págs. 22, 23 e 24, em que o poeta dedicou a Prometheo três sonetos, sendo o primeiro, o Titan, o segundo, o Herói, e o terceiro, o Deos.
[6] Verso 28 - Observem-se a musicalidade dos versos, a riqueza das rimas e a excelência de algumas antíteses.
Certamente interessado em sua identificação, o poeta utilizou-se, no primeiro verso do primeiro quarteto, do vocábulo “Argonauta”, que intitula um belíssimo poema que ele, quando encarnado, dedicara a João Itiberê da Cunha. (Cf. A. Muricy, Pan. Mov. Simb. Bras., I, pág. 343). Compare ainda o leitor este mesmo poema com o primeiro soneto mediúnico — “Deus”, e encontrará, novos pontos de identificação.