1 A noite é quase gelada.
Contudo, Mariazinha
É a menina de outras noites
Que treme, tosse e caminha…
2 Guizos longe, guizos perto…
É Natal de paz e amor.
Há muitas vozes cantando:
— “Louvado seja o Senhor!”
3 A rua parece nova
Qual jardim que floresceu.
Cada vitrina enfeitada
Repete: “Jesus nasceu!”
4 Descalça, vestido roto.
Mariazinha lá vai…
Sozinha, sem mãe que a beije,
Menina triste sem pai.
5 Aqui e ali, pede um pão…
Está faminta e doente.
— “Vadia, saia depressa!”
É o grito de muita gente.
6 — “Menina ladra!” — outros dizem.
— “Fuja daqui, pata feia!
Toda criança perdida
Deve dormir na cadeia.”
7 Mariazinha tem fome
E chora, sentindo em torno
O vento que traz o aroma
Do pão aquecido ao forno.
8 Abatida, fatigada,
Depois de percurso enorme,
Estira-se na calçada…
Tenta o sono, mas não dorme.
9 Nisso, um moço calmo e belo
Surge e fala, doce e brando:
— Mariazinha, você
Está dormindo ou pensando?
10 A pequenina responde,
Erguendo os bracinhos nus:
— Hoje é noite de Natal,
Estou pensando em Jesus.
11 — Não lhe lembra mais alguém?
Ela, em lágrimas, disse:
— Eu penso também, com saudade,
Em minha mãe que morreu…
12 — Se Jesus aparecesse,
Que é que você queria?
— Queria que ele me desse
Um bolo da padaria…
13 Depois de comer, então
— E a pobre sorriu contente
Queria um par de sapatos
E uma blusa grande e quente.
14 Depois… queria uma casa,
Assim como todos têm…
Depois de tudo… eu queria
Uma boneca também…
15 — Pois saiba, Mariazinha,
Eu lhe digo que assim seja!
Você hoje terá tudo
Aquilo que mais deseja.
16 — Mas, o senhor quem é mesmo?
E ele afirma, olhos em luz:
— Sou seu amigo de sempre,
Minha filha, eu sou Jesus!…
17 Mariazinha, encantada,
Tonta de imensa alegria,
Pôs a cabeça cansada
Nos braços que ele estendia…
18 E dormiu, vendo-se outra, n
Em santo deslumbramento,
Aconchegada a Jesus,
Na glória do firmamento.
19 No outro dia, muito cedo,
Quando o lojista abre a porta,
Um corpo caiu, de leve…
A menina estava morta.
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