O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Antologia dos Imortais — Autores diversos — 3ª Parte — Francisco C. Xavier e Waldo Vieira n


6

Narcisa Amália n

1

BONECA

1 Boneca!… Era uma vez a bonequinha humana,
Borboleta a voejar, sob véus de neblina,
Primavera de sonho e graça matutina,
Transfundidas na carne em rósea filigrana…


2 Bela e ardente, dançou, qual brejeira cigana,
Nos laços da ilusão que se adensa e esborcina; n
Mulher, envelheceu disfarçada em menina,
Alegre bibelô na ribalta mundana.


3 Nem renúncia no amor, nem lar de que se importe.
Mas, bailando febril, encontra, um dia, a morte,
Na dor que lhe crepeia o coração e a estrada…


4 A libélula cai sobre o charco profundo
E, no visco de lama, ouve apenas do mundo:
— “Boneca!… Era uma vez a boneca doirada!”


2

NOSSO FILHO

1 Guarda o tenro menino nascituro
Qual se trouxesses brando sol contigo.
Oferece-lhe os braços por abrigo,
O coração por lar ridente e puro.


2 Anjo frágil e pássaro inseguro,
Busca-te o pão de amor, radiante e amigo.
Corrige amando… Ampara sem castigo…
Vê na criança a aurora do futuro.


3 Não lhe firas os sonhos! Não lhe torças
A santa direção das novas forças
A caminho de flóreas primaveras!…


4 Dá-lhe o teu próprio exemplo por escudo;
Tens no filho querido, antes de tudo,
O teu credor volvendo de outras eras. n


3

LEI DE AMOR

1 — “Rua!… Rua, infeliz que me ensombraste o nome!…”
Clama o pai, a rugir para a filha que implora:
“ — “Não me expulses, meu pai!… Temo a noite lá fora!…”
E ele mostra o punhal na fúria que o consome.


2 Voa o tempo a rolar, sem que a vida o retome…
Ele, desencarnado, ansioso e triste agora,
Traz à filha exilada o coração que chora,
Espírito a sofrer, em sede, chaga e fome.


3 Ela sente-lhe a dor, através da lembrança,
E dá-lhe um corpo novo, ante a luz que o descansa
Nos fios da oração, em celeste rastilho!…


4 E, mais tarde, no lar que os apascenta e acalma,
Ele diz: “Minha mãe, doce mãe de minhalma!…”
E ela diz a cantar: “Deus te abençoe, meu filho!…”



[1] NARCISA AMÁLIA de Campos — Poetisa de grande formosura, cronista e tradutora. “Nas letras” — di-lo Antônio Simões dos Reis (Narcisa Amália, pág. 15) — “foi verdadeira deusa, em prosa e verso cantada, com exaltação, por tudo quanto houve de mais representativo na época.” O próprio Imperador D. Pedro II, quando em Resende, fez questão de conhecê-la pessoalmente, fato que ocorreu em 1874. Segundo Artur de Almeida Torres (Poetas de Resende, pág. 67), as poesias de Amália “se caracterizam pela delicadeza de sentimento, pela espontaneidade do estro e pela riqueza musical dos versos”. Redigiu o jornal resendense A Gazetinha, tendo colaborado em outras folhas de Resende, bem como de Niterói, Rio e S. Paulo. “Foi a primeira mulher, entre nós,” — diz Edgard Cavalheiro (Pan. II, pág. 296) — “a erguer a voz em defesa de suas irmãs de sexo, numa tentativa feminista avançada para o meio acanhado e rotineiro de então.” Depois de residir em Resende, passou para o Rio de Janeiro, onde se consagrou ao magistério, até que veio a desencarnar, cega e paralítica, com setenta e dois anos de idade. (S. João da Barra, Estado do Rio, 3 de Abril de 1852 — Rio de Janeiro, Gb, 24 de Junho de 1.924.)
BIBLIOGRAFIA: Nebulosas, poesias.


[2] Verso 6 - Esborcinar: quebrar as bordas de, golpear, escalavrar, partir, arruinar, etc.


[3] Verso 28 - Via de regra, os Espíritos que voltam na condição de filhos, são, com efeito, antigas vítimas de seus atuais genitores. Acontece, porém, que, em outras circunstâncias, os filhos de determinado casal sejam desconhecidos de outras vidas, mas com igual quociente cármico perante a Lei de Causa e Efeito. Devem, por conseguinte, sob o mesmo teto, quebrar os velhos grilhões das dívidas que os mantém chumbados ao solo das provações redentoras.


Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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