1 Não somes simplesmente os bens da vida…
Deus reparte a bondade com grandeza.
O próprio pão que te enriquece a mesa
É mensagem da terra dividida.
2 Fita a glória solar fremindo acesa,
A fonte que ao repouso te convida
E as flores que se entregam sem medida,
No coração de luz da Natureza…
3 Divide assim também do que te sobre.
O celeiro do bem nunca está pobre,
Inda que a singeleza nele brade.
4 A prece, o bolo, o caldo, o leito e a veste n
São dividendos para o Lar Celeste,
No tesouro de amor da eternidade…
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AUTA DE SOUZA — “Poetisa de grande emoção religiosa”, no dizer de Afrânio Peixoto, órfã de pai e mãe, A. de Souza, desde cedo, enfrentou o mar de provações redentoras, no qual vogou por toda a sua curta vida física. Educada no Estado de Pernambuco, amargou uma existência de acerbos sofrimentos. “Sua vida” — di-lo Hostílio Montenegro — “foi uma coroa de espinhos atada com a tuberculose.” Seu livro Horto (1899) traz um prefácio de Olavo Bilac, no qual o poeta, após dizer que o volume “vem revelar uma poetisa de raro merecimento”, faz esta ressalva: “não há nas estrofes do Horto o labor pertinaz de um artista.” “Talento e sensibilidade” — observa Domingos Carvalho da Silva (Vozes Fem. da Poesia Bras., pág. 25) — “não faltaram à triste moça tísica do Nordeste, que cometeu, todavia, o equívoco irreparável de fixar os olhos brilhantes em Lamartine, quando já brilhava a estrela de Mallarmé e Verlaine.” (Macaíba, Rio Grande do Norte, 12 de Setembro de 1876 — Natal, Rio Grande do Norte, 7 de Fevereiro de 1901.)
BIBLIOGRAFIA: Horto. A 3ª edição, Rio de Janeiro, 1936, é prefaciada por Alceu Amoroso Lima.
[1] As poesias de números ímpares foram recebidas pelo médium Francisco Cândido Xavier e as de números pares pelo médium Waldo Vieira. Dispomo-las assim, por sugestão dos Amigos Espirituais.
[2] 25-32. Ler com hiato: so/fre e/ er/ra; De/ que o/ ho/mem.
[3] 39. Leia-se to/da a/ ho/ra, em três silabas.
[4] Cf. a nota anterior (verso 39 deste capítulo).
[5] Observe-se a enumeração.