1 Um dia, perguntei ao Sol: que fazes
Para fulgir no eterno alvorecer?
O astro divino respondeu, brilhando:
— Ajudar e esquecer!
2 Interroguei à árvore: que fazes n
Para florir, amar e frutescer?
Ela, embora ferida, falou calma:
— Ajudar e esquecer!
3 Interpelei, depois, o pão: que fazes
Para ser vida e bênção no dever?
O pão amigo acrescentou, sereno:
— Ajudar e esquecer!
4 E disse à fonte límpida: que fazes
Para dar-te à renúncia por prazer?
Atada ao solo, resumiu cantando:
— Ajudar e esquecer!
5 A própria terra consultei: que fazes
Para tudo alentar e refazer?
Maternalmente, replicou, bondosa:
— Ajudar e esquecer!
6 Alma, se aspiras à ascensão sublime
Na luz do amor, sem nunca esmorecer,
Guarda o lema da vida em toda parte:
— Ajudar e esquecer! n
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[1] OSÓRIO PAIS — Informa Liberato Bitencourt, em sua obra Homens do Brasil, vol. II, que Osório Pais estudou em João Pessoa e, aos dezesseis anos, se entregou ao comércio. Abandonando, depois, a vida comercial, seguiu para a Bahia, onde se diplomou em Odontologia. “Alma boêmia, foi um poeta lírico, um trovador espontâneo, tocador de violão e fazedor de serenatas — escreveu Luiz Pinto em sua Col. de Poetas Paraibanos —, continuando mais adiante: “A sua colaboração nos jornais e revistas da Paraíba e do Brasil ficou muito esparsa, dela não havendo notícia segura. Era arredio, por índole, a instituições culturais.” E o mesmo autor, Luiz Pinto, é quem afirma em seu livro Cad. de Poetas Brasileiros, pág. 47: “Uma das vocações poéticas mais belas que conheci na Paraíba foi a desse inveterado boêmio, de bondade extrema.” (Alagoa Grande, Paraíba, 14 de Junho de 1886 — João Pessoa, Paraíba, 24 de Abril de 1949.)
BIBLIOGRAFIA: Primícias, versos.
[2] Verso 5 - Leia-se com hiato: “In/ter/ro/guei/ à/ ár/vo/re.”
[3] Verso 24 - “O Lema da Vida” tem relação com o próprio poeta, cuja última fase de existência foi — segundo afirma Luiz Pinto — “de desânimo, por causa das decepções e da doença”.
O bordão “Ajudar e esquecer”, neste poema, constitui extraordinário efeito expressional. — Bordão: “É um VERSO que se repete, intencionalmente, como RITORNELO, no fim de várias ESTROFES,…” (Geir Campos, Op. cit.)