1 Às vezes, dizes: “Trabalho
É carroção que não puxo.”
E avanças devagarinho
Para a gaiola do luxo.
Lá dentro, acabas suando,
Qual estudante no espicho,
Aprendendo, muito tarde,
Que o ócio é cama de lixo.
2 Entornas grandes promessas
Em fala, sonho, debuxo,
No entanto, buscas, primeiro,
Conforto, destaque, luxo…
Consomes a força e o tempo
Em sono, prato, cochicho,
E, um dia, clamas debalde
No escuro montão do lixo.
3 Anseias dinheiro a rodo,
Cheque e cheque em papelucho,
Regalo de toda espécie,
Caminho talhado em luxo…
Mas, depois de tanto fausto,
Tanto enfeite, tanto nicho,
Mergulhas além da morte
Na grande maré do lixo.
4 Não conserves a existência
Por tesouro no cartucho.
Muita gente afunda e morre
No antigo atascal do luxo.
O bem de todos é a lei
Que a vida guarda a capricho.
Repara que todo excesso
Vem do luxo e cai no lixo.
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