1 Terra, nada reténs que o verme não carcoma!…
Tudo nasce e caminha ante o poente aziago…
Toda pompa a luzir, qual furacão num lago,
Túrbida agitação sobre a undiflava coma…
2 Na urna de Moisés vês longínqua redoma; n
No fausto de Alexandre, um painel triste e vago…
A cinza sepulcral dos salões de Cartago
Soterrou no silêncio os mármores de Roma… n
3 Duas asas, porém, na rota em que flutuas,
Sustentam-te, no Espaço, impassíveis e cruas,
Nenhuma alteração que, leve, as entrecorte.
4 Libram com Deus e a Vida, em suprema conquista…
Tribos, povos, nações… Nada que lhes resista…
Uma — a clava do Tempo; outra — a sega da Morte! n
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[1] Antônio CUNHA MENDES — Depois de ter publicado seus primeiros versos em alguns jornais de seu Estado natal, e aí pertencido à “Padaria Espiritual”, C. Mendes transferiu-se para S. Paulo, onde concluiu o curso de Direito e dirigiu a Revista do Brasil, que apresentava colaboradores do gabarito de Emílio Kemp, Carvalho Aranha, Amadeu Amaral e outros. Escreveu em revistas simbolistas e em jornais da época, como O Paiz, do Rio, principalmente em versos. Exerceu a advocacia no Rio e, depois, em S. Paulo. Foi também romancista. (Maranguape, Ceará, 15 de Março de 1874 — S. Paulo, 2 de Junho de 1934.)
BIBLIOGRAFIA: Lyriss, poemeto; Poesias; etc.
[2] Verso 5 - Leia-se com hiato: Na/ ur/na.
[3] Verso 8 - Aliteração em s.
[4] Verso 14 - Observe-se a semelhança de estilo, só pelo primeiro quarteto da joia de 14 versos que começa com “Noute, abrigo dos maus! Trevas, calmos ensombros”, dedicado a Samuel Porto:
“Noute, abrigo dos maus! Trevas, calmos ensombros n
Do covarde, do nu, do triste e do cansado;
Enche d’alma arruinada os sórdidos escombros
Com a mudez funeral de túmulo fechado!”
(Apud Pan. IV, pág. 243.)
[5] [“Noute, abrigo dos maus!” noute: grafia original de “noite”]