1 Ofega o corpo a sós… Oculta, a morte espia… n
— Invisível chacal na tocaia da presa.
Na máscara do rosto, a ansiedade retesa
Aparenta velar a dor do último dia.
2 Choras ao ver prostrada a criatura indefesa n
Cujo olhar sem consolo a lágrima embacia,
E intentas ministrar-lhe a branda anestesia
Que apresse o longo fim e ajude a Natureza.
3 Susta, porém, teu gesto! A vida é sábia em tudo!…
A alma jungida à carne, em pranto amargo e mudo,
Roga-te, embora gema e fale de outra esfera:
4 — “Aguardo a mão da Lei, sempre doce e benvinda!
Dá-me silêncio e paz! Não me expulses ainda!…”
E, por trás da alma em luta, a Lei exclama: — “Espera!” n
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[1] NESTOR VÍTOR dos Santos — Poeta, conteur, romancista, crítico, Nestor Vítor foi também, no dizer de Andrade Muricy (Pan. Mov. Simb. Bras., I, pág. 268), “pensador moralista penetrante”. Vice-diretor, aos 26 anos, do Internato do Ginásio Normal, atual Colégio Pedro II. Colaborou em vários jornais do Rio, entre os quais O Paiz, o Correio da Manhã e O Globo. Patrono, na Academia Paranaense de Letras, da cadeira nº 27, tendo pertencido à extinta Academia de Letras do Paraná. Amigo particular de Cruz e Souza foi N. Vítor o crítico principal do Simbolismo em plagas brasileiras. Brito Broca não vacila em colocá-lo entre os melhores críticos brasileiros. Para Fernando Góes (Pan. IV, pág. 78), “a poesia não foi o forte de Nestor Vítor, antes é a sua parte mais vulnerável”. (Paranaguá, Paraná, 12 de Abril de 1868 — Rio de Janeiro, Gb, 13 de Outubro de 1932.)
BIBLIOGRAFIA: Signos; Transfigurações; etc.
[2] Verso 1 - Note-se a aposiopese.
[3] Verso 5 - Leia-se cria-tu-ra em três sílabas.
[4] Verso 14 - A título de curiosidade, veja-se, do Autor, o soneto “Morte Póstuma”, de Transfigurações, in Pan. IV, pág. 79.