1 Sim!… Minha alma partira e os Espaços buscara,
Lá onde esplende a Luz em perenal transporte,
E viu que Alguém pintou na imensa tela clara,
Sem pincel e sem tinta, o Amor de norte a norte.
2 Hoje sei que, na Terra, a quem não se prepara
Na oficina do Bem que instrua e reconforte,
Abre-se a escarpa hostil de nova senda ignara
Em que a Vida ressurge atormentando a Morte.
3 Foge o Tempo, a sumir sorrateiro e calado…
No ergástulo de carne o Espírito enlanguesce
Entre o sol do Porvir e as brumas do Passado.
4 A idear no Infinito amplas visões sonoras,
Quisera, transfundindo o coração em prece,
Exaltar para o Mundo a grandeza das horas!… n
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[1] Juvêncio de ARAÚJO FIGUEREDO — Grande amigo e discípulo de Cruz e Souza. Membro da Academia Catarinense de Letras e do Centro Catarinense de Letras. A. Muricy (Pan. Mov. Simb. Bras., I, pág. 209) diz que A. Figueredo foi considerado “príncipe dos poetas catarinenses”. Redigiu vários periódicos do seu Estado natal, tendo colaborado no Diário de Notícias, na Cidade do Rio e em outros órgãos do Rio de Janeiro. Conta Osvaldo F. de Melo. (Int. Hist. Lit. Cat., pág. 119) que Araújo Figueredo, na última década de sua vida, encontrou na filosofia espírita “um porto para seus anseios místicos e um céu para seus voos metafísicos”. “Então” — prossegue Osvaldo Melo — “já não se notava o místico torturado de Sombras Amigas, mas um poeta cheio de paz, num retorno a emoções naturais, mais extrovertido, como a sepultar, no calor e na luz de seus versos, uma longa fase de angústia filosófica que ele julgava superada.” (Desterro, atual Florianópolis, Santa Catarina, 27 de Setembro de 1864 — Florianópolis, 6 de Abril de 1927.)
BIBLIOGRAFIA: Madrigais; Ascetério; deixou alguns livros inéditos.
[2] Verso 14 - Para que se possa observar como se parece o “Amor e Morte” de ontem com o “Tempo e Morte” de hoje, não apenas pelo gosto das maiusculas e a disposição rimática, mas, sobretudo, pelo tema, veja-se aquele soneto em Pan. IV, págs. 85-86.