O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Antologia dos Imortais — Autores diversos — 2ª Parte — Waldo Vieira


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José Albano n

GUERRA E PAZ

1 Soldado após a rígida campanha,
Guardando as palmas de ilusória lida, (2) n
Marchei de peito arfante e face erguida,
Crendo-me herói de olímpica façanha.


2 Mas, varando os umbrais da morte estranha,
Revivi, descontente, a própria vida, (6)
E, muito embora os louros da acolhida,
Senti-me verme alçado na montanha.


3 Alma tocada de arrependimento, (9) n
Desperdiçara, em vão, força e cultura,
Qual chama entregue ao temporal violento. (11)


4 Assim, entre a ventura e a desventura,
Sou rei na guerra de cruel tormento, (13)
E mendigo de paz na sorte escura. n



[1] JOSÉ de Abreu ALBANO — Depois de estudar no Stonyhurst College, em Blackburn, Inglaterra, e bem assim na Áustria e na França, regressa José Albano da Europa e faz os preparatórios no Liceu do Ceará. Em 1908, volta à Europa, a serviço do Consulado Brasileiro, em Londres. Viaja, depois, por diversos países, inclusive a Grécia, Turquia, Palestina, Egito e Espanha, onde publica suas Rimas. No ano seguinte transfere-se definitivamente para a França, onde desencarnou. Dele, disse Mário de Alencar (apud Pan. V, pág. 220): “Conversando, sentia-se-lhe o orgulho, gerado por desdém e descontentamento dos homens e das coisas, do meio e do tempo. Criticava a todos e a tudo…” Vernaculista e poliglota, “era um gênio atribulado pela obsessão do perfeito”. “Inquieto até o delírio,” — frisa a Ant. Cearense, pág. 254 — “impeliam-no na vida os mais desencontrados sentimentos e paixões.” (Fortaleza, Ceará, 12 de Abril de 1882 — Montauban (Tarn-et-Garone), França, 11 de Julho de 1923.)
BIBLIOGRAFIA: Rimas de José Albano, Redondilhas; idem, Alegoria; idem, Canção a Camões; idem, Ode à Língua Portuguesa; Four Sonnets by Joseph Albano with Portuguese Prose-Translation; etc.


[2] Versos 2-11-13 - Observem-se três decassílabos sáficos, tão usados pelo poeta, como por exemplo, no soneto II — “Ditoso quem… (apud Braga Montenegro, N. Cl. Nº 30, pág. 79), versos 8º e 11º: “Se gera às vezes o maior cuidado”; “Com uma dor que outra nenhuma iguala”. Ou no soneto IV (id. pág. 80), Versos 3º e 10.º: “Naquele dia tenebroso e triste”; “Deixa-me agora padecer contigo”.


[3] Verso 9 - “Alma tocada de arrependimento”. Eis um decassílabo sáfico com acento secundário na 8ª sílaba, a que M. Cavalcanti Proença chama “sáfico impreciso”. Nada há a estranhar num poeta, como bem ressaltou Braga Montenegro, que “viveu… rebelde à contingência biológica e de cultura que o fez brasileiro do século XX ao invés de português do Renascimento”; “um neo-clássico” — no dizer de Tristão da Cunha — “e não apenas na forma, coisa já vista, mas de inspiração profunda”. Aliás, mais de uma vez escreveu ele decassílabos assim, como se depreende dos exemplos que vamos citar: “Para lhe dar as bem-aventuranças” (Son. IX — “Bom Jesus… — verso 7.º, de Op. cit., pág. 82); “E Tasso geme dolorosamente” (56.º verso de “Catálogo das Musas e dos Poetas”, de Op. cit., pág. 44).


[4] Verso 14 - A fim de que possamos comparar o estilo do grande poeta cearense, transcrevamos-lhe o soneto do qual disse Manuel Bandeira: “… e o seu Poeta fui… nos soa em verdade como um soneto póstumo de Camões”. Antes, porém, atentemos nestas palavras de Braga Montenegro (Op. Cit., páginas 21-22): “Todos os seus sonetos, publicados ou inéditos (excetuam-se os versos dos vinte anos, imperfeitos e de uma ingenuidade de pensamento que traia o artista imaturo), foram elaborados sob os intuitos de uma teoria uniforme: uniformidade de metro — o decassílabo clássico; uniformidade na disposição da rima — abba, abba, cdc, dcd. Uniformidade também, seria lícito dizer-se, de pensamento, uma vez que sua inspiração se manifesta dentro de um pequeno círculo de ideias e de inquietações filosóficas circunscritas a um só tema — mais padecimento, menos ventura — já referidos em outro lugar do presente estudo.” A propósito, merece esclarecimento que o decassílabo clássico pode ser heroico, sáfico, etc.

Vamos, agora, à transcrição do célebre soneto:

   “Poeta fui e do áspero destino
Senti bem cedo a mão pesada e dura.
Conheci mais tristeza que ventura
E sempre andei errante e peregrino.


   Vivi sujeito ao doce desatino
Que tanto engana mas tão pouco dura;
E inda choro o rigor da sorte escura,
Se nas dores passadas imagino.


   Porém, como me agora vejo isento
Dos sonhos que sonhava noute e dia n
E só com saudades me atormento;


   Entendo que não tive outra alegria
Nem nunca outro qualquer contentamento,
Senão de ter cantado o que sofria.”

(Op. cit., pág. 78.)

Convém ressaltar, ainda, que o artista das Redondilhas gostava de formas como “Dos sonhos que sonhava”. Por isso, saiu-se tão bem no 6º verso de “Guerra e Paz”: “Revivi… a própria vida”.


[5] [“noute e dia” noute: grafia original de “noite”]


Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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