1 Surde a aurora sublime — angélica pintura…
Em breve, murcha a luz qual bela flor sem vaso… n
Débil raio de sol passeia pelo ocaso,
E cai, bruxuleante… E morre em fímbria escura… n
2 Vai o vento brejeiro, ao calor que o tortura,
A brincar de espremer mil cachos, ao acaso, n
De nuvens colossais do firmamento raso…
Vem a chuva que esparze o olor da terra pura…
3 Nosso Espírito, assim como o dia triunfante;
É vida e resplendor em trânsitos nervosos,
Insaciáveis quanto o fogo crepitante…
4 Alma! Doma o querer! Vence o passo erradio!
Falena — subirás em voos prodigiosos,
Nume estelar transpondo o báratro sombrio!
|
[1] PAULO Silva ARAÚJO — Poeta simbolista, médico, farmacêutico e cientista. Foi membro da Sociedade de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro. Patrono, na Academia Fluminense de Letras, da cadeira nº 31. Castro Menezes, seu dileto amigo de ginásio, sentenciou acerca da personalidade de P. Araújo: “coração de Poeta, alma de Sábio, caráter de Apóstolo.” Aliás, todos quantos privaram da amizade de Paulo Araújo, como João do Rio, Pereira da Silva, Humberto de Campos, reafirmaram-lhe as superiores qualidades de poeta, sábio e santo. Depois que se tornou “fervoroso espiritista”, na última década de sua existência, ele proclamava com desassombro as suas novas convicções (apud Carlos da S. Araújo, Paulo Silva Araújo, págs. 30-31). (Niterói, Est. do Rio, 25 de Julho de 1883 — Rio de Janeiro, Gb, 22 de Outubro de 1918.)
BIBLIOGRAFIA: Alto Mar, versos; etc. Deixou inédita vasta bagagem literária e científica.
[2] Verso 2 - Poderosa comparação: “murcha a luz qual bela flor sem vaso…”
[3] Verso 4 - Observe-se a expressividade da diérese em bru-xu-le-an-te e do polissíndeto que dão, com efeito, ideia de que o débil raio de sol que passeia pelo ocaso, cai…
[4] Verso 6 - O rípio “ao acaso” corresponde ao “modesta” de “Hipodermia” (apud Os Mais…, pág. 207 ) — 7º verso:
“E quantos sonhos ideais, modesta,/ Ela conduz quando contém morfina…”.