1 O molho de verde grama,
Cortado inerme e pendente
Sobre o rio que o reclama,
Rodopia inutilmente.
2 Na água que se derrama n
Desde o berço da corrente, n
Segue o rio e fica a rama
No bailado incongruente.
3 A vida de muitas almas
Teimosas, tristes e incalmas,
Assim, estranha, decorre…
4 A inércia, mesmo agitada,
É sombra, ruído, nada
Para o ser que nunca morre.
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1 Nas grimpas do pé de amora
O vento leve balança
E tala a flor terna e mansa
Que voa caminho afora. (18) n
2 Um petiz vem vindo agora
— Doce mimo de criança —, (20)
Quer reter a flor que dança,
Mas tropeça, cai e chora…
3 Nas lindas cores da tela
A Natureza revela
A vida de muita gente…
4 Em busca da fantasia,
Perdemos toda a alegria,
A lutar penosamente.
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[1] B. LOPES (Bernardino da Costa Lopes) — Jornalista e poeta de mérito. Classificou-o João Ribeiro como sendo um dos maiores poetas de sua geração. Mestre do gênero descritivo entre nós, “B. Lopes é” — no dizer de C. Chiacchio, Biocrítica, pág. 62 — “a poesia sem metafísicas complicadas, nem filosofias tétricas. Simples poeta de poesia simples”. (Boa Esperança, atual Imbiara, Município de Rio Bonito; Est. do Rio, 19 de Janeiro de 1859 — Rio de Janeiro, Gb, 18 de Setembro de 1916.)
BIBLIOGRAFIA: Cromos ; Pizzicatos ; Val de Lírios; Plumário; etc.
[2] Verso 5 - Ler Na / á/ gua, com hiato.
[3] Verso 6 - Observe-se a metáfora.
[4] Versos 18-20 - Ler com diérese: vo-a e cri-an-ça.
Cf. “Cromos” — IV —, 11º verso: “Dis/se/me o/ Ti/o/ Sim/plí/cio”; 12º verso: “E a/ bo/a/ do/na/ da/ ca/sa” (apud Rot. II, pág. 600); “Quadro”, 1º verso: “Ca/í/ra o/ sol/ no ho/ri/zon/te”. A propósito de voa, do mesmo sonetilho, observe-se o 8º verso: “Vo/am/ as/ a/ves/ ao/ mon/te”. Ainda, o 11º e o 13º versos: “U/ma/ to/a/da/ dis/tan/te”; “Es/tá/ um/ ho/mem/ na/ por/ta” (ap. E, Werneck, Antol. Bras., pág. 498).