1 Confio o pensamento a sonho terno,
Em holocausto mudo à Divindade,
E sinto a redenção de todo inferno
Na blandícia da paz que, em luz, me invade.
2 À carícia invisível me prosterno.
E por mais ruja a treva e se degrade, n
Deus fulgura qual facho imenso e eterno,
Suporte vivo da imortalidade.
3 Há traços resplendentes de mil vidas
E destroços das épocas perdidas
No mar turbilhonante de mim mesmo.
4 Seguimos… Eu e o sonho que delivro, n
Páginas paralelas de um só livro,
No livro do Universo aberto a esmo… n
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[1] ORLANDO Martins TEIXEIRA — Poeta, dramaturgo e jornalista. Funcionário da Prefeitura Municipal de S. João da Boa Vista. Exerceu o jornalismo no Rio de Janeiro, onde secretariou a Gazeta da Tarde. Segundo Luís Correia de Melo (Dic. Aut. Paulistas, pág. 631), O. Teixeira “compôs ou traduziu numerosas peças de teatro, principalmente de colaboração com Artur Azevedo, Demétrio de Toledo, Eduardo Vitorino e Moreira Sampaio, sendo de sua autoria o libreto da ópera Ester, do maestro Assis Pacheco”. Afirma Fernando Góes (Pan. IV, pág. 150) que o poeta teve a “vida marcada pelo sofrimento, pela doença, por um amor inatingível”. Andrade Muricy (Pan. Mov. Simb. Bras., II, págs. 171-172) dá melhor a conhecer a página amorosa do poeta de “voz roufenha” e “físico infeliz”, “a quem” — segundo as palavras de João Luso — “a tuberculose devorava os pulmões e o amor o coração”. (S. João da Boa Vista, Est. de S. Paulo, 27 de Agosto de 1875 — Sítio, atual Antônio Carlos, Minas Gerais, 25 de Fevereiro de 1901.) n
BIBLIOGRAFIA: Magnificat.
[2] Verso 6 - Elipse: “E por mais (que) ruja…”
[3] Verso 12 - Aposiopese: “Seguimos…”
[4] Verso 14 - Ler assim este verso:
No/ li/vro/ do U/ ni/ver/so a/ ber/to a/ es/mo…
Neste soneto, revela-se o poeta pouco afeito aos altos voos do artesanato poético e, para que possamos observar o quanto O. Teixeira, ainda encarnado, era distraído quanto à forma, vamos citar-lhe alguns versos alexandrinos, uns trimembres, outros não. De início, cf. o quarto verso do soneto “Horas Mortas” (Pan. IV, pág. 150), com acentuação na 1ª, 4ª, 8ª e 12ª silabas. Em seguida, cf. “Paisagem Espiritual”, 7º e 8º versos, respectivamente, com acentuação na 3ª, 7ª e 12ª e 4ª, 9ª e 12ª sílabas (id., pág. 151).
[5] Luís Correia de Melo (op. cit., pág. 631) regista 1902 como o ano de desencarnação do poeta.