1 Tu que tens o batel da existência imergindo
Aos balouços do mar das provações medonhas,
Levanta o olhar, além do orgulho mal-avindo,
E busca na oração a calma com que sonhas.
2 Verás pelo horizonte o cais de um porto lindo,
Se estenderes socorro às vítimas tristonhas
Dos tredos chavascais do vale humano infindo,
Qual âncora de amor em pegos de peçonhas.
3 As vascas da aflição de alguém que grita e chora,
Rogam-te mãos no bem, ante o sonho da aurora,
Emprestando valor à vida que desfrutas.
4 Guarda em ti mesmo a paz e, enquanto reinam trevas,
Conservarás contigo a luz em que te elevas
Por divino farol nas ondas convolutas. n
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[1] Rodolfo ALVES DE FARIA — Depois de estudar Direito em S. Paulo, onde foi companheiro de Alphonsus de Guimaraens, o poeta de “Voz das Coisas” bacharelou-se, em 1891, pela Faculdade do Recife, iniciando sua carreira em Carangola, Minas, onde abraçou as obrigações de promotor, vindo ali a fundar O Rebate, pequeno jornal que lhe refletia as ideias. Mudou-se, mais tarde, para o Rio; onde participou ativamente junto aos poetas simbolistas, colaborando em diversas publicações, entre outras, a Cidade do Rio, Thebaida, Novidades, tendo sido redator-chefe de O Jornal Ilustrado, em sua segunda fase. Exerceu, posteriormente, no Estado de Sergipe, os cargos de procurador e juiz de Direito, acabando por desencarnar em sua cidade natal, vítima de pertinaz moléstia. Além de poeta de elite, Alves de Faria foi orador distinto, romancista e novelista. (Maceió, Estado de Alagoas, 23 de Março de 1871 — Maceió, 25 de Junho de 1899.) n
BIBLIOGRAFIA: Obra poética dispersa; Mar; Pinturescos; Perfume.
[2] Verso 14 - Note-se a musicalidade dos versos, conseguida em parte pela repetição intencional da consoante v, que se estende da primeira à última estrofe.
[3] Confirme-se a data de desencarnação no jornal maceioense — A Tribuna, de 27 de Junho de 1899, pág. 2.