O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Antologia dos Imortais — Autores diversos — 2ª Parte — Waldo Vieira


1

Castro Alves n

NA ERA DO ESPÍRITO

1 O caos invadira a França, (1) n
— Olimpo do pensamento.
O ódio — lobo famulento, (3)
Range as presas com furor.
Nas ruas — Paris descansa;
Em casa — chora em segredo;
Gigante, arrosta, com medo,
As iras do Imperador.


2 A Nação encarcerada
Lança, em nota clandestina
As safras da guilhotina
E explode: — “Revolução!”
Recorda a Bastilha irada,
Lê Rousseau, à luz da vela,
Esmurra as grades da cela,
Protesta rugindo em vão.


3 A crença herdada do Cristo
Caíra no sorvedouro
— Turbilhão de pompa e ouro —,
Dobrada ao tacão dos reis.
Em tormento jamais visto,
Nos frios templos, o povo
Exorava aos Céus, de novo,
Novos rumos, novas leis. (24) n


4 A Ciência — clava forte —,
Contra as cadeias medievas,
Partia os grilhões das trevas
Em sarcástico festim,
A exprobrar de sul a norte,
Por tirana revoltada:
— “Dominemos! Deus é nada!
A morte — o portal do fim!”


5 Ninguém na fé militante…
Mavorte, em fúria, galopa
Nos campos de toda a Europa!
Na África — a abjeção!
Na Austrália — o progresso infante!
Na Ásia — o suor dos párias
Rola em bagas milenárias!
Na América — a escravidão!


6 Mas o Espaço se descerra!
Jesus, no esplendor dos sóis,
Recruta gênios e heróis
A iluminar o porvir.
De pólo a pólo, na Terra,
Flamejam etéreas lampas, (46) n
Mensagens brotam das campas,
Ao toque de ressurgir!


7 Aos clarões da Imensidade,
Kardec chega e inaugura
A Doutrina viva e pura
Da razão à luz do bem.
O Espírito de Verdade
Semeia Divina Messe,
O Evangelho reaparece
Nas Vozes do Grande Além!


8 Falam tumbas, dançam mesas,
Nascem livros, surgem almas,
Luzem preces, chovem palmas,
Hosanas aqui e ali!
Consciências dantes presas
Rompem torva cidadela;
Pastor guiando a procela,
Jesus conclama: — “Servi!”


9 Ante a ribalta terrestre,
O Direito renovado
Deixa, ao tropel do passado,
Distinções de raça e cor!
Em triunfo, volve o Mestre,
E acende na mente humana,
Desde o palácio à choupana,
O facho do Eterno Amor!…


10 O mundo voga num misto
De infortúnio e de esperança,
Pranteia a sorrir e avança
Nas Bênçãos do Excelso Pai!
Kardec reflete o Cristo;
Desfralda, em bandeira à frente,
O convite permanente:
— “Espíritas, trabalhai!…”



[1] Antônio de CASTRO ALVES — Poeta social que exerceu profunda influência sobre a mocidade acadêmica, “o nosso genuíno poeta condoreiro”, no dizer de Álvaro Lins e Aurélio Buarque de Hollanda (Rot. II, pág. 533), estudou Direito no Recife e em S. Paulo, sem, contudo, concluir a curso. É, sem dúvida,um dos mais importantes bardos da América. “A sua musa” — disse-o Rui Barbosa — “não é só a da Natureza e a do Amor: é também, e sobretudo, a do Heroísmo, a do Direito e a da Glória.” (Apud Exposição Castro Alves, pág. 339.) (Fazenda das Cabaceiras, Município de Muritiba, Est. da Bahia, 14 de Março de 1847 — Salvador, Bahia, 6 de Julho de 1871.)
BIBLIOGRAFIA: Espumas Flutuantes; Gonzaga ou a Revolução de Minas; A Cachoeira de Paulo Afonso; etc.


[2] Versos 1-3. - Cf. “O Navio Negreiro” (Poes. Compl., págs. 527-528), respectivamente os versos 60º-61º e 65º.


[3] Verso 24 - Poliptoto: “… de novo, / Novos rumos, novas leis.”


[4] Verso 46 - lampas: luzes, lâmpadas. Em “Mocidade e Morte” (Poes. Completas, págs. 45-47), encontramos isto na penúltima estrofe:

………………………………………
“Sinto que do viver me extingue a lampa…
Resta-me agora por futuro — a terra,
Por glória — nada, por amor — a campa.”


Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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