1 O caos invadira a França, (1) n
— Olimpo do pensamento.
O ódio — lobo famulento, (3)
Range as presas com furor.
Nas ruas — Paris descansa;
Em casa — chora em segredo;
Gigante, arrosta, com medo,
As iras do Imperador.
2 A Nação encarcerada
Lança, em nota clandestina
As safras da guilhotina
E explode: — “Revolução!”
Recorda a Bastilha irada,
Lê Rousseau, à luz da vela,
Esmurra as grades da cela,
Protesta rugindo em vão.
3 A crença herdada do Cristo
Caíra no sorvedouro
— Turbilhão de pompa e ouro —,
Dobrada ao tacão dos reis.
Em tormento jamais visto,
Nos frios templos, o povo
Exorava aos Céus, de novo,
Novos rumos, novas leis. (24) n
4 A Ciência — clava forte —,
Contra as cadeias medievas,
Partia os grilhões das trevas
Em sarcástico festim,
A exprobrar de sul a norte,
Por tirana revoltada:
— “Dominemos! Deus é nada!
A morte — o portal do fim!”
5 Ninguém na fé militante…
Mavorte, em fúria, galopa
Nos campos de toda a Europa!
Na África — a abjeção!
Na Austrália — o progresso infante!
Na Ásia — o suor dos párias
Rola em bagas milenárias!
Na América — a escravidão!
6 Mas o Espaço se descerra!
Jesus, no esplendor dos sóis,
Recruta gênios e heróis
A iluminar o porvir.
De pólo a pólo, na Terra,
Flamejam etéreas lampas, (46) n
Mensagens brotam das campas,
Ao toque de ressurgir!
7 Aos clarões da Imensidade,
Kardec chega e inaugura
A Doutrina viva e pura
Da razão à luz do bem.
O Espírito de Verdade
Semeia Divina Messe,
O Evangelho reaparece
Nas Vozes do Grande Além!
8 Falam tumbas, dançam mesas,
Nascem livros, surgem almas,
Luzem preces, chovem palmas,
Hosanas aqui e ali!
Consciências dantes presas
Rompem torva cidadela;
Pastor guiando a procela,
Jesus conclama: — “Servi!”
9 Ante a ribalta terrestre,
O Direito renovado
Deixa, ao tropel do passado,
Distinções de raça e cor!
Em triunfo, volve o Mestre,
E acende na mente humana,
Desde o palácio à choupana,
O facho do Eterno Amor!…
10 O mundo voga num misto
De infortúnio e de esperança,
Pranteia a sorrir e avança
Nas Bênçãos do Excelso Pai!
Kardec reflete o Cristo;
Desfralda, em bandeira à frente,
O convite permanente:
— “Espíritas, trabalhai!…”
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