1 Busquei o campo, a fim de meditar
Nas provações da Terra, em vastas crises…
2 Como sanar a dor das almas infelizes?
Como estender a fé ao pranto do pesar?
3 Encerrada em mim mesma, ali, à sós,
Fitei o Céu imenso, a esmaltar-se de luz,
E surpreendi-me, orando em alta voz,
Perguntando a Jesus:
4 Mestre e Senhor!…
Já que nos enviaste ao mundo desatento,
Para falar do amor
E proclamar-te o ensinamento
Nos alicerces da esperança,
O que dizer aos homens nesta hora
De amarga transição?
5 O sofrimento avança
E enquanto as luzes do progresso
Tomam novos lauréis nas grimpas onde estão,
Vemos a multidão que se excrucia e chora
Nos mais remotos ângulos da vida…
6 O que dizer, Senhor, à mágoa indefinida
Das mães que perdem filhos bem-amados
Que apenas começavam a viver?!…
7 Filhos de primavera e juventude,
Que recolhem nos braços desolados,
Quais lírios em botão,
Que a morte decepou, antes da floração?
8 Que dizer aos que fogem
Para os domínios da aventura
E caem, sem pensar, nas tramas da loucura,
Superlotando sanatórios
Que lhes apaguem a alucinação?
9 Que ensinar aos irmãos acidentados,
Que despertam, depois da anestesia,
Para saber que foram mutilados,
Com mais problemas para cada dia?
10 De que modo afastar o desconforto
Da mulher que carrega um, filho nascituro,
Ante o marido morto,
Imaginando as dores do futuro?
11 O que dizer, Jesus, aos que vagam na estrada,
Muitas vezes com febre, frio e fome,
Sem apoio e sem lar na caminhada
De aflição que os consome?
12 Como extirpar a desesperação
Daquele que organiza a própria despedida,
No intuito de fugir ao fel da própria obrigação
E fazer-se suicida?
13 Como extinguir na Terra a violência e a penúria
Dos conflitos do ódio sempre em fúria,
A fim de apedrejar e destruir
Tudo o que mostre o bem, nas asas do porvir?
14 Confesso que chorei, mas mergulhada em pranto,
Escutei, de repente,
Um celeste mentor que, em silêncio, me ouvia,
A me dizer, fraternalmente:
15 — Irmã, a dor no mundo é o preço da alegria,
Sofrimento é recurso amargo e santo
Preparando, na Terra, os dias que virão…
16 Bendita seja a luz da provação!
Se desejas servir ao Cristo que nos chama,
Nada reclames… Segue, serve e ama!
17 Nisso, ouvi alguém gemendo, em voz dorida e mansa…
Larguei-me da emoção,
Indagando a mim própria quem seria…
18 Atravessei, à pressa, alguns trechos de chão
E encontrei, dentro da noite fria,
Paupérrima choupana…
19 Lá dentro, um quadro de ternura humana:
Pobre mulher, em pranto, procurava
Podar a dor de frágil pequenina,
Que doença fatal, aos poucos, destruía,
Por falta de agasalho…
20 Coloquei-me em trabalho,
E envolvendo-a de todo,
Fiz-me calor e paz, apoio e segurança…
E, em oração, no estreito bosque escuro,
Compreendi que amparar a uma criança
É também cooperar nas bases do futuro.
Maria Dolores
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