1 Reportagens!… Tantas vejo,
Entre pessoas e fatos,
Revelando altos contatos
No campo da informação!…
2 São estudos de armamentos,
Informes de grandes vultos,
Entrevistas de homens cultos,
Assuntos de ocasião…
3 Lendo as letras das cidades,
Busquei as periferias,
Tentando outras companhias
Que desejava escutar;
4 Pareceu-me estar num mundo,
Desvairado e diferente,
Onde existe tanta gente
Entre a revolta e o pesar.
5 Vi pobre mãe a estender-me,
No auge do desconforto,
Triste seio semi-morto
E uma criança a gemer.
6 — Minha irmã, — ela me disse,
— Que dizer do que me ocorre,
Grito e ninguém me socorre,
Vendo meu filho a morrer…
7 Numa choupana de lata,
Falou cansado ancião:
— Explicar-me? Por que não?
Note a mágoa que senti…
8 Sou cego, mas tive casa,
Com mesa rica e seleta,
Dei o que eu tinha a uma neta
E a neta largou-me aqui…
9 Foi num telheiro afastado
Que encontrei mais adiante
A irmã quase agonizante
Com febre alta a pedir:
10 — Minha irmã, rogue, em meu nome,
À pessoa que me aceite,
Um pires de pão com leite
Para que eu possa dormir…
11 Mais além, outra mulher,
Transportava, a curtos passos,
Um filho morto nos braços
Para dá-lo a um rabecão:
12 Ela chamava: — “Oh! meu Deus,
Se entreguei meu filho à morte,
Quem será meu braço, forte,
Nas horas de privação?!…
13 Entrevistas, reportagens?…
Em serviço, trago esta…
Não tem o gosto de festa,
Nem verbo renovador;
14 Traduz apenas convite
Ao trabalho, em qualquer hora,
Para darmos a quem chora
Uma centelha de amor.
Maria Dolores
|