“… o amigo de todos…”
Em 1940 conheci Chico Xavier através dos noticiários de jornais, de livros e de algumas revistas. Passei a interessar-me por tudo que se relaciona com ele. A Doutrina despertou-me nesse tempo. Lia muito o Reformador, editado pela Federação Espírita Brasileira, onde publicavam muita coisa do Chico.
No vai e vem da vida, em 1947, achei-me doente e, de passagem por Ribeirão Preto, encontrei-me com um amigo muito chegado, Juventino de Paula. Percebendo meu estado de saúde, impressionou-se e recomendou-me que escrevesse ao Chico, enviando somente nome, endereço e idade.
Na prescrição médica constava uma úlcera, me abatia de tal maneira que não tinha mais roupa que servisse em meu corpo.
Desanimado com o meu problema, resolvi enviar e pedir uma receita, não acreditando na sua resposta. Para minha surpresa, 15 dias depois recebi-a com a indicação do tratamento. Imediatamente o iniciei e, dias após, senti uma melhora muito grande. Gradativamente, fui melhorando até ficar bom.
Curioso, quis saber como pude obter uma melhora quase imediata. Querendo agradecer-lhe por aquela caridade prestada, enviei-lhe uma carta. Dessa data em diante mantivemos correspondência. Recebi, igualmente, vários convites para visitá-lo. Em 1953 tive a satisfação de conhecê-lo pessoalmente. Isto foi em Pedro Leopoldo. Fui direto ao Centro Luiz Gonzaga. Apresentei-me com muita alegria e abraços, após longa conversa, convidou-me para o dia seguinte irmos à Fazenda Modelo, onde trabalhava. Seu chefe nessa ocasião era o Dr. Darwin Resende Alvim, o qual nos deixou à vontade para passearmos em toda fazenda na companhia do Chico.
À noite tivemos novo encontro na peregrinação. No domingo, aproveitou para uma reunião em sua casa. Nessa reunião tomavam parte Djalvo Braga, Alberto Ferrante Filho e um senhor de nome Andrade, gerente do Banco Comercial, acompanhado de sua família. Sentei-me ao lado de Djalvo Braga; ele amanhecera atacado das amígdalas. Na hora do passe, Chico mediunizado pelo Espírito da Sheila, orientou Djalvo no tratamento. Assim, viemos saber que Djalvo estava com problemas na garganta.
Aplicando o passe, Sheila dialogava com as pessoas, uma por uma, que a consultavam expondo suas necessidades.
Chegou a minha vez e, dada a emoção, fiquei sem expressão e não tive condição de pedir nada. Depois que Sheila passou, pude então perceber que havia perdido uma grande oportunidade; poderia ao menos pedir para minha companheira e filhos que estavam distantes. Terminado o passe, Sheila voltou-se a mim e disse: “Irmão Aristóclides, seu pedido foi atendido. Sua companheira e filhos estão tranquilos e aqui se acha presente o Espírito de Maria Presença, que diz ser sua avó e muito lhe tem ajudado na sua missão. Minha avó desencarnou em 13.09.1930, quando eu tinha 14 anos.
Minha impressão ao ver o Chico pela primeira vez, não sei se devido à amizade ou por Ter presenciado o que acima expus, foi de grande emoção. Ao regressar em casa, comentei tudo aquilo que havia presenciado e como eram as coisas em Pedro Leopoldo. Minha esposa disse-me que estava compreendendo o que havia acontecido. Às 9 horas do domingo, quando fazia as crianças dormir, percebeu um barulho e um clarão que lhe chamou a atenção. Ficou muito impressionada. Como eu estava viajando, acreditou que tinha sido aviso de algum problema.
Em Uberaba, no Hospital do Pênfigo, em outra oportunidade fomos fazer uma visita aos doentes dessa casa de saúde. Chico nos acompanhou. Reunidos, o ambiente perfumou-se todo. Notamos então a presença de Sheila. Observamos algumas crianças que entraram em formação como se fosse um coral. Recitaram uma poesia de Auta de Souza. A que estava mais doentinha adiantou-se um pouco, e recitando, fazia a primeira voz.
Ao nos despedirmos, minha esposa ficou em lágrimas com a atitude do Chico.
Dizia ele às crianças:
— “Vocês, vendo uma roseira muito carregada de rosas bem bonitas, de flores findas, qual a que vocês pegariam?”
Elas responderam:
— A mais bonita de todas.
Despedindo-se, ele falou:
— “Vou beijar a Marly porque ela é a rosa mais bonita, no meio de todas essas flores lindas.”
Beijou-lhe o rosto e saímos.
Fizemos ainda muitas viagens; a última foi em 05.03.1977. Com muitas saudades, resolvemos visitá-lo. Quando chegamos em Uberaba, às 14:30 mais ou menos, fui à sua casa. Uma senhora convidou-me a entrar, dizendo que Chico nos esperava. Ele não sabia dessa minha viagem. Entrei, cumprimentei-o e esclareci que estava de passagem rápida. Somente para visitá-lo. Mesmo assim, convidou-me para os trabalhos da noite.
Fui ao culto à tarde e em seguida ao Grupo Espírita da Prece. Quando os trabalhos iniciaram, Chico psicografou e em seguida anunciaram meu nome e o de minha esposa, para que nos aproximássemos da mesa para ouvir a mensagem que nossa filha trazia.
À medida que discorria a leitura, notava assuntos que desconhecia totalmente e que estavam dentro dos problemas de minha filha e familiares. Só agora é que viemos tomar conhecimento. A relação dos nomes de meus filhos, de meu genro, os Espíritos de mamãe, vó Cândida, Maria Presença e a vovó Floripes, mãe de minha senhora. A lembrança de minha filha, que agradecêssemos ao Dr. Marcelo e Dra. Marlene, médicos em Ribeirão Preto, que trataram da enfermidade de Anatilde.
Antes da mensagem de minha filha, havia recebido outras de meus familiares, e também uma do Dr. Urbano de Brito, que desencarnou em Barretos, vítima de um desastre de aviação, quando o avião projetou-se ao solo, no meio do cemitério. Achei interessante o Chico nos perguntar se conhecíamos o referido doutor, e descreveu-nos o que acima relatei. Nesse dia estava em minha companhia o Doutor Gamaliel Ferreira. Na volta fomos nos informar com o seu pai, que conheceu o Dr. Urbano de Brito, confirmando o acontecido.
Só sei, gente, sinto uma honra muito grande em aliar-me a essa Editora neste trabalho de divulgação, porque Chico para nós que ainda caminhamos no dia a dia das necessidades, é uma força a nos estimular, é exemplo, é o amigo de todos os momentos em quem podemos confiar.
Representa, dentro do seu esforço pessoal e no seu modo de vida, o Evangelho que estende a todos na conduta do seu trabalho, dentro da compreensão e do amor cristão.
Aristóclides Martins Freitas