“… o entendimento que nos alerta…”
Em Tarde de Autógrafos realizada pelo GRUPO ESPÍRITA EMMANUEL, em São Bernardo do Campo, tomei conhecimento através de noticiários, que Francisco Cândido Xavier estaria autografando seus livros.
Apesar de frequentar esporadicamente algumas reuniões em Centros Espíritas, nunca tive a oportunidade de vê-lo e falar-lhe.
Suscitou-me, então, vontade de conhecê-lo e dirigi-me ao local de autógrafos. Em vista da grande afluência de pessoas, as tarefas adentravam à madrugada. Quando pude cumprimentar Chico Xavier, impressionei-me. Aquele homem tinha o poder de transmitir aos presentes muita serenidade e muito amor. O que presenciava preenchia meu coração de alegria. Fiquei até o final, que se prolongou até às seis horas do dia seguinte.
Depois disso, interessei-me e procurava saber, dentro do meio espírita, onde Chico Xavier daria novas tardes de autógrafos. Algum tempo depois, quando passávamos nossas férias em Santos, minha filha Flávia Canzi Biondi, subitamente, desencarnara em consequência de pneumonia. Ficamos numa situação dolorosa.
Minha esposa, inconformada, sofria muito. Aflito, procurei por todos os meios encontrar algum lenitivo que amenizasse a sua dor.
Uma amiga, a senhora Irene Buzon, convidou Margarida, minha esposa, a tomar alguns passes no Centro Espírita Irmã Clara, onde pôde conhecer alguns momentos de paz. Passamos a frequentar essa casa de oração e, estreitando amizade com o dirigente da mesma, senhor Túlio Agnelli, recebemos seu amável convite para visitar Chico Xavier, pois Túlio mantinha com o médium profundas relações de amizade.
Desse momento em diante, posso dizer, meu íntimo começou a cobrar-me. Margarida, um pouco mais refeita e serena, incentivou-me bastante. Assim, acabamos viajando para Uberaba.
A caminho do Centro, desconhecendo tudo e a todos, escorava-me nas informações de Túlio, pois esse amigo sabia como se desenvolviam aquelas tarefas.
Sem ter qualquer contato com o Chico, já no Centro, fui chamado pelo nome, o que me surpreendeu muito. Estava sendo convidado a fazer parte da mesa.
Minha aflição era tanta, que nem atinei ao chamado. Precisou que viessem buscar-me. Mesmo assim, não tive condições de contatar com Chico.
Uma multidão o rodeava. Na oportunidade, distribuíam-se alimentos aos irmãos carecedores de ajuda. Um canal de televisão fazia reportagem de cobertura.
A reunião continuava. Chico encontrava-se no receituário. Minha ânsia era incontida. Minhas mãos e pernas estavam trêmulas. Não sabia o que fazer.
Levava comigo foto de minha filha e conversava com o seu retrato.
Terminado o receituário, aquele povo todo acercou-se do Chico. Eu achava que não teria possibilidade de falar-lhe. Estava numa condição bem egoísta, querendo resolver somente o meu problema. Uma senhora, frequentadora daquelas reuniões, dona Yolanda Cezar, percebendo o meu desespero sugeriu-me que apanhasse uma pequena vitrola que estava sobre a mesa e levasse para perto do Chico. Foi assim que consegui aproximar-me dele. Imediatamente, dei-lhe a foto de minha filha e expus alguma coisa, quase nada, pelo meu descontrole e segundo, por todo aquele grande número de pessoas desejoso de ouvir-lhe.
Chico percebeu, olhou-me com muita ternura e enviou um recado confortador no verso da fotografia. Aquelas palavras pareciam mágicas. Acalmaram-me e retornei mais tranquilo. Margarida, ansiosa, esperava-me.
Ao receber a foto com o bilhete, chorava e sorria de felicidade.
Aconteceram outras viagens e, numa delas houve um fato interessante. Um senhor, para minha surpresa, me agradecia pela execução do trabalho de mensagens de seu filho. Chamava-me de Rubens e continuava agradecendo. Estranhei tudo aquilo. Quando terminou, disse-lhe que não era a pessoa que ele pensava. Desculpou-se e voltou para junto de seu pessoal.
Mais tarde tornamos a nos encontrar, mas desta vez, num abraço de felicidade, pois seu filho, ao transmitir sua mensagem, trazia um recado de Flavinha.
Intrigado e curioso, o senhor Wady Abrahão, este é o seu nome, não entendia como podia ter havido aquela confusão conosco. Pediu ao Chico que nos esclarecesse.
Este respondeu: — “Wadyzinho estava ao seu lado, juntamente com a filha do Pedro e, quando ele passava, ela vendo-o, foi ao encontro do pai. Seu filho a acompanhou, levando-o consigo.”
Me perdoem, prezados leitores, mas abaixo transcrevo o bilhete de minha filha, que está inserido no contexto do livro “Somos Seis” da Editora GEEM.
“Temos aqui uma companheirinha que nos recomenda transmitir muito carinho e saudade ao papai, nosso irmão Pedro Biondi. É a nossa Flavinha cuja solicitação devo satisfazer, embora sejam muitos os nossos amigos daqui desejosos de se fazerem notados.”
Fizemos mais viagens e com a graça de Deus, em 19.9.1975, Flavinha trouxe-me sua mensagem.
Estava conversando com alguns amigos, quando Chico voltava do receituário para a continuidade dos trabalhos. Naquele momento, meu coração calçado na esperança e choroso na saudade, revigorava-se e forçava-me nas preces rogar a Deus a mensagem de minha filha.
Margarida, nos seus afazeres do lar, não pôde acompanhar-me. Viajei com o Sr. José Gonçalves. Todos os que acompanham o trabalho maravilhoso da Casa Transitória de São Paulo, sabem de quem falamos.
Dando continuidade às tarefas, Chico psicografava. Quando acabou, o Sr. Weaker Batista, que acompanha os trabalhos com Chico, chamou-me para que ouvisse a mensagem. Nesse momento, corria em minhas faces as lágrimas de um pai, que exteriorizava todo o carinho contido no coração inundado de saudade.
Lembrava-me de Margarida. Imaginava a sua felicidade quando lhe chegassem aquelas notas sonoras que vinham aos meus ouvidos como hinos de amor e paz.
Estava perplexo. Flavinha discorria na apresentação de cada familiar, como se estivessem ali, desfilando em passarela. Eram seus avós, suas irmãs, minha mãe que desencarnara em 1950 e amigos outros.
Não sabia como agradecer ao Chico. Abraçava-o num transporte de júbilo imenso. Em vista disso, Margarida fortaleceu-se ainda mais, e eu, por minha vez, compreendi: Minha filha está conosco e com mamãe que a amparou no seu desencarne.”
Hoje, a certeza faz-me levar conforto a outros irmãos que sofrem o que já sofremos.
Sentimos saudade, é lógico. Lembramos os momentos felizes passados juntos e sua imagem está gravada em nossos corações.
Mas acima de tudo, agradecemos a Deus pela dádiva que nos concedeu pelas mãos de Francisco Xavier.
Esse homem, podemos dizer assim, pois hoje o conhecemos e sabemos de sua modéstia, do seu amor e sua humildade, nos orienta, trouxe para os nossos dias o entendimento que nos alerta, nos clareia a visão para a vida futura.
É Francisco Cândido Xavier, que num programa de Televisão, há algum tempo atrás, cativou, emocionou e deu nova roupagem ao conteúdo às vezes depauperado pela nossa ignorância nos assuntos de Deus.
É a esse médium, que devemos reverenciar neste ano de 1977, com o calor do nosso carinho. Nestas páginas, certamente, você leitor amigo estará tirando suas conclusões com o livre-arbítrio que nos foi legado por Deus, de que, quem amou seu semelhante, que trabalhou para seu semelhante e que exemplificou para seu semelhante, nestes 50 anos merece ou não nosso carinho e amizade?!
Pedro Biondi