1 Espíritas generosos visitavam a grande colônia de alienados mentais, em tarefa de assistência.
Manhã fria, muito fria.
Aqui, era alguém distribuindo cobertores.
Adiante, senhoras entregavam agasalhos.
2 Avelino Penedo, velho pregador dos princípios kardequianos, muito ligado aos aperitivos, entra na pequena farmácia do instituto, retira certa quantidade de conhaque de alcatrão e, esfregando os dedos, volta à intimidade dos companheiros.
— Minha gente! — Diz ele, — a casa parece sorvete! Quem quer uma talagada?
3 Todos os circunstantes agradecem e recusam.
Percebendo-se só, diante do cálice já servido, Avelino, sem graça, aproxima-se de um dos internados e indaga:
— Você quer, meu irmão?
— Como não? — Responde o enfermo.
4 E estendendo a mão ossuda na direção do copo, acentuou, sorrindo, de modo estranho:
Todo louco bebe.
Hilário Silva