1 Tão logo apareçam diante de nós quaisquer problemas de injúria, prejuízo, discórdia ou incompreensão, é imperioso observar quão importante para o Espírito é o estudo das próprias reações, a fim de que a mágoa não entre em condomínio com as forças que nos habitam a mente.
2 Ressentir-nos é cortar os tecidos da própria alma ou acomodar-nos com o veneno que se nos atiram, acalentando sofrimento desnecessário ou atraindo a presença da morte. Isso porque, à face da lógica, todas as desvantagens no capítulo das ofensas pesam naqueles que tomam a iniciativa do mal.
3 O ofensor pode ser a criatura que está sob lastimáveis processos obsessivos, que carrega enfermidades ocultas, que age ao impulso de tremendos enganos, que atravessa a nuvem do chamado momento infeliz, e, 4 quando assim não seja, é alguém que traz a visão espiritual enevoada pela poeira da ignorância, o que, no mundo, é uma infelicidade como qualquer outra. 5 Cabem, ainda, ao ofensor o pesadelo do arrependimento, o desgosto íntimo, o anseio de reequilíbrio e a frustração agravada pela certeza de haver lesado espiritualmente a si próprio.
6 Aos corações ofendidos resta unicamente um perigo — o perigo do ressentimento, que, aliás, não tem a menor significação quando trazemos a consciência pacificada no dever cumprido.
7 Entendendo isso, nunca respondas ao mal com o mal.
8 Considera que os ofensores são, quase sempre, companheiros obsessos ou desorientados, enfermos ou francamente infelizes, a quem não podemos atribuir responsabilidades maiores pelas condições difíceis em que se encontram.
9 Recomendou-nos Jesus: “Amai os vossos inimigos.” ( † )
10 A nosso ver, semelhante instrução, além de impelir-nos à virtude da tolerância, faz-nos sentir que os ofendidos devem acautelar-se, usando a armadura do amor e da paciência, a fim de que não sofram os golpes do ressentimento, de vez que os ofensores já carregam consigo o fogo do remorso e o fel da reprovação.
Emmanuel
(Reformador, janeiro de 1968, p. 8)