1 Mencionamos com muita frequência que os inimigos exteriores são os piores expoentes de perturbação que operam em nosso prejuízo. 2 Urge, porém, olhar para dentro de nós, de modo a descobrir que os adversários mais difíceis são aqueles de que não nos podemos afastar facilmente, por se nos alojarem no cerne da própria alma. 3 Dentre eles, os mais implacáveis são o egoísmo, que nos tolhe a visão espiritual, impedindo que vejamos as necessidades daqueles que mais amamos; 4 o orgulho, que não nos permite acolher a luz do entendimento, arrojando-nos a permanente desequilíbrio; 5 a vaidade, que nos sugere a superestimação do próprio valor, induzindo-nos a desprezar o merecimento dos outros; 6 o desânimo, que nos impele aos precipícios da inércia; 7 a intemperança mental, que nos situa na indisciplina; 8 o medo de sofrer, que nos subtrai as melhores oportunidades de progresso, e tantos outros agentes nocivos que se nos instalam no espírito, corroendo-nos as energias e depredando-nos a estabilidade mental.
9 Para a transformação dos adversários exteriores contamos, geralmente, com o amparo de amigos que nos ajudam a revisar relações, colaborando conosco na constituição de novos caminhos; entretanto, para extirpar os que moram em nós, vale tão somente o auxílio de Deus com o laborioso esforço de nós mesmos.
10 Reportando-nos aos inimigos externos, advertiu-nos Jesus que é preciso perdoar as ofensas setenta vezes sete vezes, ( † ) e decerto que para nos descartarmos dos inimigos internos — todos eles nascidos nas trevas da ignorância — prometeu-nos o Senhor: “conhecereis a verdade e a verdade vos fará livres”, ( † ) o que equivale dizer que só estaremos a salvo de nossas calamidades interiores, através de árduo trabalho na oficina da educação.
Emmanuel
(Reformador, abril 1969, p. 86)