O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Adeus solidão — Familiares diversos


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Emília Rodrigues

Católica fervorosa, pertencente à Irmandade da Igreja Santa Therezinha, na mensagem dirigida à filha, D. Emília Rodrigues traz importante depoimento, mencionando sua afinidade religiosa, lembrando-nos que a morte “pode alterar disposição, mas não modifica convicções”.

Nascida no Rio de Janeiro, a 22 de março de 1889, D. Emília aí faleceu a 29 de novembro de 1969, com 80 anos de idade.

A carta endereçada à filha, Leda Rocha, advogada e professora de línguas, foi recebida quase quatro anos após a desencarnação e, sobre ela, assim se expressou a filha:


DEPOIMENTO


“Desejo dizer que, ao recebê-la das mãos do nosso querido Chico, senti que uma vida nova nascia dentro de mim. Digo isto, porque este comunicado para mim é o retrato autêntico daquela alma querida que me trouxe à Vida Terrestre.”


MENSAGEM


1 Querida Leda, minha querida filha. Deus nos abençoe.

2 Descrever o que sua mãe está sentindo é impossível.   3 Há muito tempo, estou no esforço de uma criança na escola. Para escrever a você, lutei. Tenho lutado muito para conseguir isto.

4 Pensamos, antes de perder o corpo terrestre, que haverá uma situação milagrosa, a esperar por nós. Mas o engano termina. Somos nós mesmos.

5 Somos, como estamos. Se alguma transformação profunda ocorre, nada sei. 6 Continuo sem muita compreensão do Espiritismo. n

7 Para não me afastar de você, tomei um avental de serviço e estou trabalhando com o nosso Dr. Alcides, na organização hospitalar no Grupo Regeneração.  n

8 Não pense que estou na condição de enfermeira com altos conhecimentos. Estou, sim, aprendendo que tudo no bem de nós mesmos é conquista que se deve fazer.

9 Você, minha filha, que me deu tudo em minha razão de viver — você que foi meu tesouro e continua sendo a riqueza de sua mãe, não podia estudar o Espiritismo por mim.

10 E creia. Para adquirir o entendimento novo de que necessito, devo seguir devagar.

11 Quando me vi sem você, foi um vazio repleto de sofrimento. Acredito que você sentiu a mesma cousa.

12 Imagine que esperei tanto pela entrada nos Planos do Céu, embora não desejasse morrer. 13 E quando me vi sem a nossa casa, filha querida, compreendi que o Céu é o amor com que nos queremos uns aos outros.

14 Foi em vão que seu pai me apareceu, com os amigos Sampaio e Abílio, Joaquim n e outros benfeitores daqui, para me confortarem.

15 A princípio, não tive consolo nenhum. Esses amigos tão bons me faziam até aborrecimento e medo. Custei, mas custei muito a reconhecer que estávamos separadas.

16 Ah! minha filha, Deus abençoará a você por todo o amor que o seu carinho me deu na vida e na morte. 17 É verdade que a Providência Divina me concedeu a felicidade de ser sua mãe aí na Terra, mas, aqui, venho a ser sua filha pelo coração, porque é em suas preces e lições que vou recomeçando a viver.

18 Continue ajudando a mim, filha querida, para que aprenda a desprender-me do mundo que nós duas criamos.

19 Aqui, os nossos Amigos me ofereceram meios de seguir para outra região onde as mães da Terra recebem ensinamentos para desapego e elevação delas próprias, mas ao mesmo tempo me induziram à escolha: poderia seguir à frente ou ficar mais perto de você.

20 Mas o que poderia fazer de mim sem você? Que educação iria conseguir afastada de sua presença?

21 Não tinha escolha nenhuma a fazer. Deus sabe que as mães são assim. 22 Nosso Pai Eterno nos criou para os filhos e, por isso, preferi estar com o nosso médico e apóstolo dos sofredores, aprendendo a servir. n

23 Não tenho cansaço, embora o serviço seja muito.   24 Frequento o ambiente de lições renovadoras, mas ninguém me impõe isso ou aquilo.

25 Permitem nossos Benfeitores que eu faça preces onde quiser, embora, em matéria de trabalho, haja muita disciplina e exigência.

26 Compareço regularmente nas tarefas de que me incumbo;   27 você não vá se espantar e se aborrecer com sua mãe se contar a você que, nas horas de religião, continuo frequentando a nossa Igreja de Santa Therezinha. n

28 Dr. Alcides afirma que vou mudar muito, mas, diz que isso é pouco a pouco. Até mesmo o nosso caro João costuma rir-se de mim; no entanto, a transformação é muito vagarosa.

29 Você sabe, minha filha, tantos anos em minha fé, tanto tempo com os meus instrumentos de confiança em Deus!… 30 Se eu falasse a você de outro modo, você saberia que alguém estaria me forçando a isso. Mas aqui, Leda, todos são bons.

31 Em nossa organização, vivemos como irmãos que houvessem nascido sob o mesmo teto. E há tanto serviço por fazer que não há tempo para brigar. Todos os dias, são novos doentes que chegam.

32 Aí, falamos em criancinhas que nascem, quando se trata de existências novas que aparecem: aqui, falamos em doentes que chegam, porque devem ser raros os que voltam para cá perfeitamente tranquilos. Eu, pelo menos, em minha inexperiência, ainda não vi ninguém.

33 Agradeço a você as flores em nosso recanto de lembranças. Nunca pensei que você tivesse tanta força para visitar o cemitério com tanta pontualidade.

34 Deus recompense a você, minha filha. Agradeço os ofícios religiosos que você manda celebrar em minha intenção.

35 É mesmo. Eu naturalmente vou mudar e você também. Nossa Mãe do Céu nos guiará para o futuro. Você deixará de render tanto culto ao cemitério, n culto que respeito e agradeço com todo o meu coração, e eu saberei me desapegar de tantos hábitos — sem dúvida hábitos bons e construtivos — que me prendem a situações de pensamento que preciso deixar.

36 Nossa irmã Thereza n chegou muito bem. Como sucedeu comigo, ela acordou da grande modificação, assim qual um enfermo operado, quando se recupera da anestesia.

37 Está saudosa, mas não apegada excessivamente às cousas da casa física, como me aconteceu. Está firme, já é uma convalescente, enquanto que eu, a bem dizer, ainda sou mãe concentrada em você, como quem não tem outra criatura a se apegar.

38 Minha filha, ajude-me. Sou uma espécie de hera, daquelas trepadeiras que tínhamos no sítio. Sem apoio, as plantas vinham abaixo; sem você, ainda não me reconheço.

39 Isso é uma afirmação de Espírito sofredor, fala-me, aqui, o nosso Dr. Alcides a me ajudar. Mas se eu falasse de outro modo, estaria mentindo.

40 Agradeço aos nossos amigos. Quando mais cansada e mais doente, fiquei mais nervosa e mais aflita; sei que todos me desculparão.

41 Abrace aos nossos — a todos os de coração dedicado a que Deus nos ligou.

42 E com as minhas lágrimas de alegria e de gratidão a Jesus por esta hora de bênçãos, guarde, minha filha, o coração de sua mãe que traz você cada vez mais por dentro do coração saudoso e reconhecido.


Emília

21.07.1973.


Caio Ramacciotti



[29] D. Emília era católica fervorosa e manteve, como veremos adiante, a mesma fé religiosa na Pátria Espiritual.

[30] Grupo Espírita Regeneração, do Rio de Janeiro, entidade atualmente dirigida pela sua filha e de que o Dr. Alcides Neves Ribeiro de Castro, médico já desencarnado, foi o primeiro presidente.

[31] Refere-se ao esposo, João Alves Pereira, e a amigos do Grupo Regeneração. Antônio Sampaio Júnior. Abílio Ferreira e Joaquim Cassão de Castro, também desencarnados.

[32] Carinhosa referência ao Dr. Alcides, já citado.

[33] Igreja do Bairro da Tijuca, Rio, que D. Emília frequentava.

[34] Cemitério do Caju, no Rio de Janeiro, onde foi sepultada.

[35] Colaboradora do Grupo Espírita Regeneração, Thereza Ferreira Rodrigues, falecida no Rio de Janeiro.


Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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