1 Fora ele um grande herói
Na abastança de outros dias…
Agora, doente e velho,
Agonizava Matias.
2 Gemia, desamparado,
Quem tanto estendera o bem…
Febril, tinha sede e frio
Mas não surgia ninguém.
3 Orara e dizia, humilde:
— “Jesus é o refúgio meu!…”
E quem devia ampará-lo
Naquela hora era eu…
4 Abnegados mentores
Que lhe escutaram a prece,
Enviaram-me a servi-lo
Em tudo quanto eu pudesse.
5 Caía a noite. Cheguei
Ao pequeno pardieiro,
No intuito de auxiliar
Ao querido companheiro.
6 Depois de assustado, ao vê-lo
Exposto na tábua nua,
Dispus-me a buscar-lhe amparo,
Mesmo fosse, rua em rua…
7 Pedi, em prece, aos amigos
De minha pobre existência
Que me fizessem andar
Em minha antiga aparência;
8 Passados breves instantes,
Entrei na licença rara:
Achava-me, tal qual eu fora:
— Corpo igual ao que deixara.
9 Tentando obter apoio
Que reanimasse o velhinho,
Memorizando endereços,
Fui à casa de Antoninho.
10 Tinha nele um grande amigo,
Falei do velho doente,
Ele gritou, espantado:
— “Você é o Jair Presente?
11 “Embora você me lembre
Um cara amigo já morto,
Não tenho qualquer auxílio
Para os pobres sem conforto…”
12 Corri procurando o Sérgio,
Ele exprimiu-se, zombando:
— “Se eu pudesse dar esmolas
Não vivia trabalhando…”
13 Saí, apressadamente,
Para a casa do Dirceu,
Ele, porém, me falou:
— “Auxílio? primeiro eu…”
14 Modificando o roteiro
Procurei por Dona Clara,
Ela me disse: “Não tenho!…
A vida está muito cara…”
15 Tudo em vão… Sempre pedindo,
Fui a vinte moradias…
Não encontrei um vintém
Para socorro ao Matias.
16 Regressei, desiludido,
Ao pardieiro isolado,
Para ver como estaria
Passando o pobre coitado…
17 Cheguei chamando o doente…
Tudo silêncio e vazio…
Matias, naquele instante,
Morrera aos golpes do frio.
Jair Presente
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