1 — “Quero fazer caridade” —
Dizia Júlio das Graças,
Estou cansado de ver
Tanta penúria nas praças;
2 Vejo mães abandonadas,
Cujo estômago jejua,
Crianças esfarrapadas
Em tristes bandos na rua…
3 Se Jesus me der recursos,
Farei com muita alegria
Um lar onde os pobres tenham
O pão para cada dia.
4 Tanto Júlio falou nisso
Que o difícil sucedeu:
Júlio ganhou grande herança
De um tio que faleceu.
5 Era antigo solteirão
Que não mostrava riqueza
E o povo considerava
Sovina por natureza;
6 Ao morrer, viu-se-lhe a vida,
Revelou-se-lhe o caminho…
Tinha mais de dois bilhões
E deixou tudo ao sobrinho.
7 Após reter a fortuna,
Alguns irmãos da cidade
Vieram a ele indagando
Dos votos de caridade.
8 Que faria, enfim, agora?
Perguntou-lhe a comissão:
— “Um lar para os enjeitados
E velhos sem proteção?”
9 Respondeu Júlio, entretanto,
— “Meus amigos, o dinheiro
Que o tio me destinou
Não dá para um galinheiro.
10 “Mais tarde, conversaremos,
Somos amigos leais…
Os dois bilhões de meu tio
Vêm a ser pouco demais.”
Jair Presente
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