1 Peço aqui a cada um
Que, por favor, me suporte,
Mas vários amigos mandam
Que eu escreva sobre a morte.
2 Não sei o porquê da escolha,
Já que não sou literato,
Verso que eu possa compor
Recorda uma flor do mato.
3 Antigamente julguei
Que a morte fosse a visão
De uma bruxa escaveirada
Com grande foice na mão.
4 Agora que atravessei
A terra-de-toda-gente,
Posso falar de cadeira
Que ela é muito diferente.
5 Ninguém escapa na Terra
Às influências da dita,
Ela chega para todos,
Mas pouca gente acredita.
6 Quando não surge de estalo,
Vem vindo de passo em passo,
Começa por uma dor,
Uma tristeza, um cansaço…
7 Quando desponta, de início,
Pouco a pouco, ela reclama
Remédio, exame, cuidado,
Silêncio, repouso e cama.
8 Se o Céu envia uma ordem
De suspender a sentença,
Ela deixa a Medicina
Afugentar a doença.
9 Mas quando tem carta branca
Para trabalho, a preceito,
Ela carrega a pessoa
Agindo de qualquer jeito.
10 É um quadro triste de luta…
Muita gente, nessa hora,
Pede apoio e proteção
A Deus e Nossa Senhora.
11 Uns gritam: “Quero ficar,
Tenho meus filhos pequenos.
Socorro, meu Deus, preciso
De mais tempo, mais ou menos…”
12 Outros suplicam: “Doutor,
Eu pago o que possa ter,
Tome qualquer providência,
Mas não me deixe morrer…”
13 Contudo, se o Céu ordena,
De nada a Morte se espanta,
Ciência fica no estudo,
Remédio não adianta.
14 Então se estira a pessoa
Num sono esquisito e enorme,
lembrando nesse descanso
Uma lagarta que dorme.
15 Depois, recorda um casulo
Na caixa, em forma de cocho,
E o corpo sem movimento
Tome vela e pano roxo.
16 Logo em seguida, a pessoa
Acorda e entra em ação,
Copiando a borboleta
Que deixa a casca no chão.
17 Aí, é que o carro pega:
Se a consciência está boa,
É muito encontro feliz
E muita luz na pessoa.
18 Mas, se apenas sombra e culpa
É o que a mente em si carrega,
Parece um doente aos gritos,
Brincando de cabra cega.
19 Aqui termino a conversa.
Nada mais a comentar,
Da morte já disse tudo
O que eu podia falar.
20 Toda criatura na Terra,
Cada qual por sua vez,
Recebe, depois da morte,
Somente a vida que fez.
Leandro Gomes de Barros
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