FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER.
A Câmara Municipal de São Paulo outorgou a Francisco Cândido Xavier o título de Cidadão Paulistano. n Escrevemos ao médium felicitando-o e considerando a significação do fato para o Espiritismo que vem assim obtendo o reconhecimento oficial do seu valor religioso e cultural em nosso País, de maneira inteiramente espontânea. Chico Xavier respondeu com a carta que abaixo transcrevemos em seus tópicos essenciais. — J. Herculano Pires.
Caro amigo: A sua carta foi para mim uma bênção de reconforto e alegria. Muito grato pelo que me diz, com a sua bondade de amigo. Sinceramente, nunca, fui a qualquer solenidade de caráter espírita com a ideia de estar ali com o meu nome ou supostos méritos pessoais. Sempre tenho ido a essas ocorrências cumprindo um dever para com os nossos princípios. Nada mais do que isso.
Sempre me sinto, nessas ocorrências, à feição do mais ínfimo empregado de uma organização que estivesse nesses acontecimentos para receber algum documentário claramente da firma que me engajou em serviço. Apesar disso, a ala dos adversários não se cansa de me escrever acusando-me de vaidade, de orgulho, de pedantismo e de outras perturbações.
Agradeço, desse modo, as suas benditas palavras, porque as considerações que temos recebido são dedicadas ao Espiritismo e não a mim. E, em verdade, não posso responder com pedradas a essas manifestações de respeito e carinho para com a nossa Doutrina.
Envio-lhe a mensagem psicografada em nossa reunião pública. Alguns dos visitantes comentaram, antes da reunião, o problema da paz. Isso acontecia provavelmente em razão dos acontecimentos do Vietnã, nos dias últimos, e as opiniões, como sempre sucede, eram as mais variadas.
As tarefas começaram e O Livro dos Espíritos nos ofereceu a exame a questão 921, ( † ) surgindo edificantes explanações de parte dos irmãos presentes. Ao término da reunião o nosso caro Emmanuel escreveu a página Mensagem de Paz.
1 Na aplicação de qualquer receita destinada à composição da felicidade, não te esqueças do aviso de que a felicidade nasce de ti mesmo.
2 Não aguardes do mundo a segurança que tão somente poderá ser construída por ti mesmo, dentro de ti.
3 Nunca menosprezes o trabalho que a vida te confiou.
4 A tarefa que desempenhas hoje é a base de teu apoio futuro.
5 Aceita-te como és e com aquilo de que disponhas para realizar o melhor que possas.
6 Observa sempre que não existe criatura alguma destituída de valor e da qual não venhas a necessitar algum dia.
7 Quanto possível, conserva a luz da virtude que te norteia a elevação, mas não permitas que a tua virtude viva sem escadas para descer ao encontro daqueles que se debatem sob a ventania da adversidade a te pedirem socorro e compreensão.
8 Sê fiel ao campo da verdade que abraças, sem desconsiderar a parte da verdade em que os outros se encontram.
9 Usa a paciência nas pequenas dificuldades para que te não falte serenidade nas grandes crises que todos somos levados a facear nas trilhas do tempo.
10 Não te apegues aos anseios da juventude, nem te acomodes com o cansaço de muitos que ainda não aprenderam a viver com a criatividade da madureza.
11 Recorda que até hoje ninguém descobriu o ponto de interação onde termina a fadiga e começa a ociosidade.
12 Em qualquer tempo, exercita a fortaleza espiritual para que as tuas energias não se dissolvam, de inesperado, quando as calamidades da experiência humana se façam inevitáveis.
13 Resigna-te a transitar no mundo, entre os que se te revelem na condição de opositores naturais aos teus pontos de vista, mas não formes inimigos nem cultives ressentimentos.
14 Não abuses e nem brinques com os sentimentos alheios.
15 Guarda a tua paz, ainda mesmo nas grandes lutas.
16 Não creias em pessimismo e derrota, solidão e abandono, porque se amas conforme determinam as Leis do Universo, descobrirás a beleza e a alegria em qualquer circunstância e em qualquer parte da Terra.
17 E jamais desesperes, porquanto sejas quem sejas e estejas onde estiveres, ninguém te pode furtar o privilégio da imortalidade e nem te arredar do Esquema de Deus.
Emmanuel
Estamos todos entrosados no Esquema de Deus. Esse esquema nos leva, através do tempo, à paz da eternidade. Mas o conceito estático de eternidade não prevalece no Espiritismo, onde ela aparece como duração. O tempo é a visão fragmentária da duração, um recorte do absoluto para o uso das nossas percepções relativas. Os que se apegam ao relativo, às ilusões do temporário, esquecidos de sua própria transcendência, vivem na inquietação e portanto em guerra consigo mesmos e com o mundo.
O Esquema de Deus é o plano universal da evolução do qual vemos apenas alguns pedaços acessíveis aos nossos sentidos. Mas a nossa mente, que é o cérebro da alma, pode perceber além dos sentidos. Por isso, nas experiências parapsicológicas já se comprovou, cientificamente, que podemos ver com nitidez o passado e o futuro, confirmando-se, assim, as pesquisas espíritas de mais de um século. Os que aprendem a se libertar do relativo para vislumbrar a duração (que é a eternidade em conceito dinâmico) aprendem a superar a inquietação e encontrar a paz.
Pela evolução, nossa mente se abre, como uma flor que desabrocha, para a percepção progressiva do absoluto que nos proporciona a paz. Não a paz do mundo, como ensinou Jesus, mas a paz do espírito. A percepção individual dessa paz se transforma aos poucos, em conquista coletiva, na proporção em que a humanidade se eleva e o mundo se transforma. Assim, pela evolução dos homens e do mundo, a paz do espírito, que parece individual, se revelará coletiva e universal. É importante sempre nos lembrarmos de que nada e ninguém nos poderá arredar do Esquema de Deus.
Irmão Saulo
[1] Recebido em grande solenidade realizada na Capital Paulista a 19 de maio de 1973.