FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER.
Temos uma página recebida em nossa reunião pública; assinada por nosso amigo Cornélio Pires, hoje obreiro da luz e da bondade no Mundo Espiritual.
Há dias recebi carta de um companheiro que foi amigo pessoal dele na Terra, solicitando a sua opinião a respeito do suicídio. Durante a reunião lembrávamos do assunto, com vistas às nossas tarefas da noite.
Feita a prece inicial, O Livro dos Espíritos nos ofereceu para estudo a questão 943. ( † ) Ao término da reunião o nosso amigo espiritual mencionado escreveu as trovas a que intitulou Suicídio.
Nota — a questão 943 de O Livro dos Espíritos é a seguinte:
Pergunta — De onde vem o desgosto pela vida que, sem motivos plausíveis, se apodera de alguns indivíduos?
Resposta — Efeito da ociosidade, da falta de fé e geralmente do fastio.
Para aqueles que exercem as suas faculdades com fim útil e segundo as suas aptidões naturais, o trabalho nada tem de árido e a vida passa mais rapidamente. Suportam as suas vicissitudes com tanto mais paciência e resignação, quanto mais agem tendo em vista a felicidade mais sólida e durável que os espera.
1 Suicídio, não pense nisso
Nem mesmo por brincadeira…
Um ato desses resulta
Na dor de uma vida inteira.
2 Por paixão, Quim afogou-se
Num poço de Guararema.
Renasceu em provação
Atolado no enfisema.
3 Matou-se com tiro certo
A menina Dilermanda.
Voltou em corpo doente,
Não fala, não vê nem anda.
4 Pôs fogo nas próprias vestes
Dona Cesária da Estiva…
Está de novo na Terra
Num corpo que é chaga viva.
5 Suicidou-se à formicida
Maricota da Trindade…
Voltou… Mas morreu de câncer
Aos quatro meses de idade.
6 Enforcou-se o Columbano
para mostrar rebeldia…
De volta, trouxe a doença,
Chamada paraplegia.
7 Queimou-se com gasolina
Dona Lília Dagele.
Noutro corpo sofre sarna
Lembrando fogo na pele.
8 Tolera com paciência
Qualquer problema ou pesar;
Não adianta morrer,
Adianta é se melhorar.
Cornélio Pires
|
Deus não castiga o suicida, pois é o próprio suicida quem se castiga. A noção do castigo divino é profundamente modificada pelo ensino espírita. Considerando-se que o Universo é uma estrutura de leis, uma dinâmica de ações e reações em cadeia, não podemos pensar em punições de tipo mitológico após a morte. Mergulhado nessa rede de causas e efeitos, mas dotado do livre arbítrio que a razão lhe confere, o homem é semelhante ao nadador que enfrenta o fatalismo das correntes de água, dispondo de meios para dominá-las.
Ninguém é levado na corrente da vida pela força exclusiva das circunstâncias. A consciência humana é soberana e dispõe da razão e da vontade para controlar-se e dirigir-se. Além disso, o homem está sempre amparado pelas forças espirituais que governam o fluxo das coisas. Daí a recomendação de Jesus: ( † ) “Orai e vigiai”. A oração é o pensamento elevado aos Planos superiores — a ligação do escafandrista da carne com os seus companheiros da superfície — e a vigilância é o controle das circunstâncias que ele deve exercer no mergulho material da existência.
O suicida é o nadador apavorado que se atira contra o rochedo ou se abandona à voragem das águas, renunciando ao seu dever de vencê-las pela força dos seus braços e o poder da sua coragem, sob a proteção espiritual de que todos dispomos. A vida material é um exercício para o desenvolvimento dos poderes do Espírito. Quem abandona o exercício por vontade própria está renunciando ao seu desenvolvimento e sofre as consequências naturais dessa opção negativa. Nova oportunidade lhe será concedida, mas já então ao peso do fracasso anterior.
Cornélio Pires, o poeta caipira de Tietê, responde à pergunta do amigo através de exemplos concretos que falam mais do que os argumentos. Cada uma de nossas ações provoca uma reação da vida. A arte de viver consiste no controle das nossas ações (mentais, emocionais ou físicas) de maneira que nós mesmos nos castigamos ou nos premiamos. Mas mesmo no auto-castigo não somos abandonados por Deus que vela por nós em nossa consciência.
Irmão Saulo