O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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A caminho da Luz — Emmanuel


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A Revolução Francesa

(Sumário)

1. A França do século XVIII.


1 A independência americana acendera o mais vivo entusiasmo no ânimo dos franceses, humilhados pelas mais prementes dificuldades, depois do extravagante reinado de Luís XV.

2 O luxo desenfreado e os abusos do clero e da nobreza, em proporções espantosas, haviam ambientado todas as ideias livres e generosas dos enciclopedistas e dos filósofos, no coração torturado do povo.  3 A situação das classes proletárias e dos lavradores caracterizava-se pela mais hedionda miséria. 4 Os impostos aniquilavam todos os centros de produção, salientando-se que os nobres e os padres encontravam-se isentos desses deveres.  5 Desde 1614, não mais se haviam reunido os Estados-Gerais, fortalecendo-se, cada vez mais, o absolutismo monárquico.

6 De nada valera o esforço de Luís XVI convidando os espíritos mais práticos e eminentes para colaborar na sua administração, como Turgot  †  e Malesherbes.  †  O bondoso monarca, que tudo fazia para reerguer a realeza de sua queda lamentável, em face dos excessos do seu predecessor no trono, mal sabia, na sua pouca experiência dos homens e da vida, que uma era nova começava para o mundo político do Ocidente, com transformações dolorosas que exigiriam a sua própria vida.

7 Reunidos em maio de 1789 os Estados-Gerais, em Paris, observam-se os maiores desentendimentos entre os seus membros, não obstante a boa vontade e a cooperação de Necker, em nome do Rei. Transformada a reunião em Assembleia Constituinte,  †  precedida de numerosos incidentes, inicia-se a revolução instigada pela palavra de Mirabeau.  † 


 2. Época de sombras.


1 Derrubada a Bastilha  †  em 14 de julho de 1789 e após a célebre Declaração de Direitos do Homem, uma série de reformas se verifica em todos os departamentos da vida social e política francesa.

2 Aquelas renovações, todavia, preludiavam os mais dolorosos acontecimentos. Famílias numerosas aproveitavam a trégua, buscando o acolhimento de países vizinhos, e o próprio Luís XVI tentou atravessar a fronteira, sendo preso em Varenas  †  e e conduzido novamente a Paris.

3 Um mundo de sombras invadia as consciências da França generosa, chamada, naquela época, pelo Plano Espiritual, ao cumprimento de uma sagrada missão junto à Humanidade sofredora. 4 Cabia-lhe tão somente aproveitar as conquistas inglesas, no sentido de quebrar o cétro de absolutismo da realeza, organizando um novo processo administrativo na renovação dos organismos políticos do orbe, de acordo com as lições generosas e sábias dos seus filósofos e pensadores.

4 Todavia, se alguns Espíritos se encontravam preparados para a jornada heroica daquele fim de século, muitas outras personalidades, infelizmente, espreitavam na treva o momento psicológico para saciar a sede de sangue e de poder. 5 Foi assim que, depois de muitas figuras notáveis do principio da revolução, surgiram espíritos tenebrosos, como Robespierre e Marat.  †  A volúpia da vitória generalizou uma forte embriaguez de morticínio no ânimo das massas, conduzindo-as aos mais nefastos acontecimentos.


 3. Contra os excessos da Revolução.


1 A Revolução Francesa, desse modo, foi combatida imediatamente pelas outras nacionalidades da Europa, que, sob a orientação de Pitt, Ministro da Inglaterra, sustentaram contra ela, e por largos anos, uma luta de morte.

2 A Convenção Nacional, apesar das garantias que a Constituição de 1791 oferecia à pessoa do Rei, decretou a sua morte na guilhotina, verificando-se a sua execução em 21 de janeiro de 1793, no local da atual  †  Praça da Concórdia. Em vão, tenta Luís XVI explicar a sua inocência ao povo de Paris, antes que o carrasco lhe decepasse a cabeça. As palavras mais sinceras afluem-lhe aos lábios, suplicando a atenção de seus súditos, numa onda de lágrimas e de sentimentos que lhe burburinhavam no coração, não obstante a sua calma aparente. Renovam-se as ordens aos guardas do cadafalso e rufam os tambores com estrépito, abafando as suas afirmativas.

3 A França atraía para si as mais dolorosas provações coletivas nessa torrente de desatinos. Com a influência inglesa, organiza-se a primeira coligação europeia contra o nobre país.

Mas, não somente nos gabinetes administrativos da Europa se processavam providências reparadoras. 4 Também no mundo espiritual reúnem-se os gênios da latinidade, sob a bênção de Jesus, implorando a sua proteção e misericórdia para a grande nação transviada. 4 Aquela que fora a corajosa e singela filha de Domrémy volta ao ambiente da antiga pátria, à frente de grandes exércitos de Espíritos consoladores, confortando as almas aflitas e aclarando novos caminhos. 5 Numerosas caravanas de seres flagelados, fora do cárcere material, são por ela conduzidos às plagas da América, para as reencarnações regeneradoras, de paz e de liberdade.


 4. O período do terror.


1 A lei das compensações é uma das maiores e mais vivas realidades do Universo. 2 Sob as suas disposições sábias e justas, a cidade de Paris teria de ser, ainda por muito tempo, o teatro de trágicos acontecimentos. Foi desse modo que se instalou o hediondo tribunal revolucionário e a chamada junta de salvação pública, com os mais sinistros espetáculos do patíbulo. A consciência da França se viu subjugada por espessas trevas.  3 A tirania de Robespierre ordenou a matança de numerosos companheiros e de muitos homens honestos e dignos. Em vão, Carlota Corday  †  havia procurado atenuar os excessos dos assassinos entregando-se aos desvarios do crime na residência de Marat,  †  com o propósito de restituir a liberdade ao povo de sua terra e expiando o seu ato extremo com a própria vida. 4 Ocasiões houve em que subiram ao cadafalso mais de vinte pessoas por dia, mas Robespierre e seus partidários não tardaram muito a subir igualmente os degraus do patíbulo, em face da reação das massas anônimas e sofredoras.


 5. A Constituição.


1 Depois de grandes lutas com o domínio das sombras, conseguem os gênios da França inspirar aos seus homens públicos a Constituição de 1795.  †  Os poderes legislativos ficavam entregues ao “Conselho dos quinhentos” e ao “Conselho dos anciães”, ficando o poder executivo confiado a um Diretório  †  composto de cinco membros.

2 Estabelece-se dessa forma uma trégua de paz, aproveitada na reconstrução de obras notáveis do pensamento. 3 Os centros militares lutavam contra os propósitos de invasão de outras potências europeias, cujos tronos se sentiam ameaçados na sua estabilidade, em face do advento das novas ideias do liberalismo, e os políticos se entregavam a uma vasta operosidade de edificação, coroando-se esse esforço com as mais nobres realizações.

4 Contudo, a França, depois dos seus desvarios de liberdade, estava ameaçada de invasão e desmembramento. 5 Povos existem, porém, que se fazem credores da assistência do Alto, no cumprimento de suas elevadas obrigações junto de outras coletividades do planeta, 6 e foi assim, que, com atribuições de missionário, foi Napoleão Bonaparte, filho de uma obscura família córsega, chamado às culminâncias do poder.


 6. Napoleão Bonaparte.


1 O humilde soldado corso, destinado a uma grande tarefa na organização social do século XIX, não soube compreender o significado da sua grandiosa missão. Bastaram as vitórias de Árcole  †  e de Rívoli,  †  com a paz de Campoformio,  †  em 1797, para que a vaidade e a ambição lhe ensombrassem o pensamento.

2 A expedição ao Egito, muito antes de Waterloo,  †  assinalava para o mundo espiritual a pouca eficácia do seu esforço, considerado o espírito de orgulho e de imperialismo que predominou nas suas energias transformadoras.  3 Assediado pelo sonho de domínio absoluto, Napoleão foi uma espécie de Maomet transviado, da França do liberalismo. 4 Assim como o profeta do Islã pouco se aproximara do Evangelho, que a sua ação deveria servir, também as atividades de Napoleão pouco se aproximaram das ideias generosas que haviam conduzido o povo francês à revolução. 5 A sua história está igualmente cheia de traços brilhantes e escuros, demonstrando que a sua personalidade de general esteve sempre oscilando entre as forças do mal e do bem. 6 Com as suas vitórias, garantia-se a integridade do solo francês, mas espalhava-se a miséria e a ruína no seio de outros povos. 7 No cumprimento da sua tarefa, organizava-se o Código Civil, estabelecendo as mais belas fórmulas do direito, mas difundiam-se a pilhagem e o insulto à sagrada emancipação de outros, com o movimento dos seus exércitos na absorção e anexação de vários povos.

8 Sua fronte de soldado pode ficar laureada, para o mundo, de tradições gloriosas, e verdade é que ele foi um missionário do Alto, embora traído em suas próprias forças; 9 mas, no Além, seu coração entendeu melhor a amplitude das suas obras considerando providencial a pouca piedade da Inglaterra que o exilou em Sta. Helena após o seu pedido de amparo e proteção. 10 Santa Helena representou para o seu espírito o prólogo das mais dolorosas e mais tristes meditações, na vida do Infinito.


 7. Allan Kardec.


1 A ação de Bonaparte, invadindo as searas alheias com o seu movimento de transformação e de conquistas, fugindo à finalidade de missionário da reorganização do povo francês, compeliu o mundo espiritual a tomar enérgicas providências contra o seu despotismo e vaidade orgulhosa.  2 Aproximavam-se os tempos em que Jesus deveria enviar ao mundo o Consolador, de acordo com as suas doces promessas.

3 Apelos ardentes são dirigidos ao Divino Mestre, pelos gênios tutelares dos povos terrestres. 4 Assembleias generosas se reúnem e confraternizam nos Espaços, nas Esferas mais próximas da Terra.  5 Um dos mais lúcidos discípulos do Cristo baixa ao planeta, compenetrado de sua missão consoladora, e, dois meses antes de Napoleão Bonaparte sagrar-se imperador, obrigando o papa Pio VII  †  a coroá-lo na igreja de Notre Dame,  †  em Paris, nascia Allan Kardec, aos 3 de outubro de 1804, com a sagrada missão de abrir caminho ao Espiritismo, a grande voz do Consolador prometido ao mundo pela misericórdia de Jesus-Cristo.


Emmanuel


Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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