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As primeiras cruzadas.
1 Reportando-nos ao século XI, as Cruzadas nos merecem especial referência, dado os seus movimentos, característicos da época.
2 Desde Constantino † que os lugares santos da Palestina haviam adquirido considerável importância para a Europa ocidental. 3 Milhares de peregrinos visitavam anualmente a paisagem triste de Jerusalém, identificando os caminhos da Paixão de Jesus, ou os traços da vida dos Apóstolos. 4 Enquanto dominavam na região os árabes de Bagdá ou do Egito, as correntes do turismo católico podiam buscar, sem receio, as paragens sagradas; mas a Jerusalém do século XI havia caído sob o poder dos turcos, que não mais toleraram a presença dos cristãos, expulsando-os dali com a máxima crueldade.
5 Semelhantes medidas provocam os protestos de todo o mundo católico do Ocidente e, no fim do século referido, preparam-se as primeiras cruzadas em busca da vitória contra o infiel. 6 A primeira expedição que saiu dos centros mais civilizados, sob o comando de Pedro Eremita, † não chegou a sair da Europa, dispersada que foi pelos búlgaros e pelos húngaros. 7 Todavia, em 1096, Godofredo de Bouillon † com seus irmãos, Tancredo de Siracusa † e outros chefes, depois de se reunirem em Constantinopla, demandaram Niceia, com um exército de 500.000 homens. 8 Depois da queda dessa cidade, apoderaram-se de Antioquia, penetrando em Jerusalém com a palma do triunfo. 9 Ali quiseram presentear Godofredo de Bouillon com a coroa de rei, mas o duque da Baixa Lorena parecia rever o vulto luminoso do Senhor do Mundo, cuja fronte fora aureolada com a coroa de espinhos, e considerou um sacrilégio o colocarem-lhe nas mãos um cetro de ouro, quando o Cristo tivera, tão somente, nas mãos augustas e compassivas, uma cana ignominiosa. 10 Depois de muita relutância, aceitou apenas o título de “defensor do Santo Sepulcro”, organizando-se logo em seguida as ordens religiosas de caráter exclusivamente militar, como a dos Templários † e a dos Hospitalários. †
11 Os turcos, porém, não descansaram. Depois de muitas lutas, apossaram-se de Edessa, † obrigando o papa Eugênio III † a providenciar a segunda Cruzada, que, chefiada por Luís VII da França † e Conrado III da Alemanha, † teve os mais desastrosos efeitos.
1 Em fins do século XII Jerusalém cai em poder de Saladino. † Os príncipes cristãos do Ocidente preparam-se para a terceira Cruzada, assinalando-se as vitórias de † S. João d’Acre. 2 As lutas no Oriente sucederam-se anos a fio como furacões periódicos e devastadores. A Palestina, até então, possuía os seus recantos maravilhosos de verdura abundante. A Galileia era um vasto jardim, cheio de perfume e de flores. 3 Mas tantos foram os embates dos exércitos inimigos, tantas as lutas de extermínio e de ambição, que a própria Natureza pareceu maldizer para sempre os lugares que mereciam o amor e o carinho dos homens.
4 As últimas Cruzadas foram dirigidas por Luís IX, o rei santo de França que, depois da tomada de Damieta, caiu em poder dos inimigos, pagando um fabuloso resgate e vindo a desprender-se da vida terrestre em 1270, defronte de Túnis, vitimado pela peste.
5 Os mensageiros de Jesus, que de todos os acontecimentos sabem extrair os fatores da evolução humana para o bem, buscam aproveitar a utilidade desses acontecimentos dolorosos. 6 Foi por essa razão que as Cruzadas, não obstante o seu caráter anticristão, fizeram-se acompanhar de alguns benefícios de ordem econômica e social para todos os povos. 7 Na Europa a sua influência foi regeneradora, enfraquecendo a tirania dos senhores feudais e renovando a solução dos problemas da propriedade, conjurando muitas lutas isoladas. 8 Além disso, os seus movimentos intensificaram, sobremaneira, as relações do Ocidente com o Oriente, apenas paralisadas mais tarde, em vista da ferocidade dos turcos e dos invasores mongóis.
1 No Infinito, reúnem-se os emissários do Divino Mestre, em assembleias numerosas, sob a égide do seu pensamento misericordioso, organizando novos trabalhos para a evolução geral de todos os povos do planeta. 2 Lamentam a inabilidade de muitos missionários do bem e do amor, que, partindo dos Espaços, saturados dos melhores e mais santos propósitos, experimentam no orbe a traição de suas próprias forças, influenciados pela imperfeição rude do meio a que foram conduzidos. 3 Muitos deles se deixavam deslumbrar pelas riquezas efêmeras, mergulhando no oceano das vaidades dominadoras, estacionando nos caminhos evolutivos, e outros, como Luís IX, de França, excediam-se no poder e na autoridade, cometendo atos de quase selvajaria, cumprindo os seus sagrados deveres espirituais com poucos benefícios e amplos prejuízos gerais para as criaturas.
4 Mas, compelidas pelas leis do amor que regem o Universo, essas entidades compassivas jamais negaram do Alto o seu desvelado concurso em favor do progresso dos povos, procurando aperfeiçoar as almas e guiando os missionários do Cristo através dos mais espinhosos caminhos.
1 No século XIII estava definitivamente instalado o governo real, desaparecendo as mais fortes expressões do feudalismo. 2 Cada região europeia tratava de concatenar todos os elementos precisos à organização de sua unidade política, mas a verdade é que os meios escassos de instrução não permitiam uma existência intelectual mais avançada.
3 Os Estados que se levantavam, organizavam as suas construções à sombra da Igreja, que tinha interesse em não dilatar os domínios da educação individual, receosa de interpretações que não fossem propriamente suas. 4 Os pergaminhos custavam verdadeiras fortunas e o livro era dificilmente encontrado. 5 Até o século XII as escolas estavam circunscritas ao ambiente dos mosteiros, onde muitos padres se ocupavam de avivar a letra dos manuscritos mais antigos, produzindo outros para a posteridade. 6 A Ciência, cuja linha ascensional guarda o seu ponto de princípio na curiosidade ou na dúvida, bem como a Filosofia, que se constitui das mais altas indagações espirituais, estavam totalmente escravizadas à Teologia, então senhora absoluta de todas as atividades do homem, com poderes de vida e morte sobre as criaturas, considerando-se os direitos absurdos do Tribunal da Inquisição, depois do século XIII, quando, sob a inspiração do Alto, já se haviam fundado universidades importantes como as de Paris † e de Bolonha, † que serviram de modelo às de Oxford, † Coimbra † e Salamanca. †
1 Nesse tempo, opera-se um verdadeiro renascimento na vida intelectual dos povos mais evolvidos do mundo europeu. 2 A universidade se constituía de quatro faculdades — Teologia, Medicina, Direito e Artes — reunindo milhares de inteligências ávidas de ensino, que seriam os grandes elementos de preparação do porvir. 3 Rogério Bacon, † franciscano inglês, notável por seus estudos e iniciativas, é um dos pontos culminantes dessa renascença espiritual. 4 A Igreja, contudo, proibindo o exame e a livre opinião, prejudicou esse surto evolutivo, máxime no capítulo da Medicina, que, desprezando a observação atenta de todos os fatos, se entregou à magia, com sérios prejuízos para as coletividades. 5 Favorecida pela necessidade dos panoramas imponentes do culto externo da religião e pela fortuna particular, a Arquitetura foi a mais cultivada de todas as artes, em vista das grandes e numerosas construções então em voga. 6 Com a influência indireta dos Guias espirituais dos vários agrupamentos de povos consolidam-se as expressões linguísticas de cada país, formando-se as grandes tradições literárias de cada região.
1 É então que inúmeros mensageiros de Jesus, sob a sua orientação, iniciam largo trabalho de associação dos Espíritos, de acordo com as tendências e afinidades, a fim de formarem as nações do futuro, com a sua personalidade coletiva. 2 A cada uma dessas nacionalidades seria cometida determinada missão no concerto dos povos do porvir, segundo as determinações sábias do Cristo, erguendo-se as bases de um mundo novo, depois de tantos e tão continuados desastres das fraquezas humanas. 3 Constroem-se os alicerces dos grandes países como a Inglaterra, que, em 1258, organiza os Estatutos de Oxford, † limitando os poderes de Henrique III, † e em 1265 erige a Câmara dos Comuns, † onde a burguesia e as classes menos favorecidas têm a palavra com a † Câmara dos Lordes. 4 A Itália prepara-se para a sua missão de latinidade. A Alemanha se organiza. A Península Ibérica é imensa oficina de trabalho e a França ensaia os passos definitivos para a sabedoria e para a beleza.
5 A atuação do mundo espiritual proporciona à história humana a perfeita caracterização da alma coletiva dos povos. 6 Como os indivíduos, as coletividades também voltam ao mundo pelo caminho da reencarnação. 7 É assim que vamos encontrar antigos fenícios na Espanha e em Portugal, entregando-se de novo às suas predileções pelo mar. 8 Na antiga Lutécia, que se transformou na famosa Paris do Ocidente, vamos achar a alma ateniense nas suas elevadas indagações filosóficas e científicas, abrindo caminhos claros ao direito dos homens e dos povos. 9 Andemos mais um pouco e acharemos na Prússia o espírito belicoso de Esparta, cuja educação defeituosa e transviada construiu o espírito detestável do pangermanismo na Alemanha da atualidade. 10 Atravessemos a Mancha e deparar-se-nos-á na Grã-Bretanha a edilidade romana, com a sua educação e a sua prudência, retomando de novo as rédeas perdidas do Império Romano, para beneficiar as almas que aguardaram, por tantos séculos, a sua proteção e o seu auxílio.
1 Os Espíritos abnegados, do Plano Invisível acompanharam a Humanidade em todos os seus dias de martírio e glorificação, em todos os tempos, lutando sempre pela paz e pelo bem de todas as criaturas.
2 Referindo-nos, de escantilhão, à nobre figura de Joana d’Arc, que cumpriu elevada missão adstrita aos princípios de justiça e de fraternidade na Terra, e às guerras dolorosas que assinalaram o fim da Idade Medieval, registamos aqui, que, com as conquistas tenebrosas de Tamerlão † e de Gêngis Khan † e com a queda de Constantinopla, em 1453, que ficou para sempre em poder dos turcos, verificava-se o término da Época Medieval. 3 Uma nova era ia nascer para a Humanidade terrestre, com a assistência contínua do Cristo, cujos olhos misericordiosos acompanham a evolução dos homens, das luzes eternas do Infinito.
Emmanuel
[1] No índice: “Transmigração de povos.” No corpo do livro impresso: “Transmigrações de povos.”